O
inglês Peter Higgs, em 1964, apresentou uma teoria afirmando que o
espaço é permeado por um tipo de campo que influencia as partículas, e
por trás desse campo está seu bóson. Tal bóson foi alcunhado de
partícula de Deus. Alguns físicos teóricos cogitam que essa partícula
elementar era o que faltava para explicar a formação do Universo através
da união das teorias das quatro forças que dão origem à mecânica
universal, a saber: atrações nucleares forte e fraca, magnetismo e gravidade.
É interessante notar que antes da descoberta desse bóson, Einstein
passou os últimos anos de sua vida procurando em vão a interação dessas
quatro forças, desenvolvendo uma teoria a qual deu o nome teoria de tudo. Foi o período menos criativo da mente daquele gênio, e os cientistas que perseguem essa idéia são chamados unionistas, porque
querem unir equações das quatro forças em uma só que explicaria tudo.
Milhares de experimentos e observações, cálculos aparatosos que ocupam
infinitos nano baites de supercomputadores e trilhões de neurônios das
cabeças mais privilegiadas do Planeta, estão à caça dessa “coisa” que
seria tudo ao mesmo tempo em que é nada.
O Super Colisor de Hádrons foi construído visando detectar traços
desse fugidio substrato de pó de cocô de micro vírus, e até agora nada.
Obviamente,
apenas uns poucos habitantes do Planeta estão habilitados a falar
sobre ou entendem essa fugaz “entidade” cuja existência foi apenas
calculada matematicamente e cujo comportamento, parece, influi na
criação e extinção das demais subpartículas atômicas e, por tabela,
determinou a criação do universo. E, claro, não estou incluído nessa
diminuta confraria. Não sou uma das poucas pessoas que podem escrever
sobre ele, contudo, sou uma das bilhões aptas a falar de outras coisas
diferentes do bóson de Higgs.
Posto
isso, vejamos o que pode interessar para a imensa maioria da
humanidade o esforço bilionário de recursos materiais e intelectuais
que se despende em torno de uma coisa cuja existência, se formos bem
magnânimos, se formos extremamente liberais, pode ser comparada com a
existência da alma humana. O bóson é tão real quando a alma o é, e, a
despeito da prova matemática, repito, só uns poucos escolhidos dentro de
uma elite diminuta, acreditam na sua realidade, o resto da humanidade
se tiver algum interesse nele pode aceitá-lo por motivo de fé,
simplesmente. Não há qualquer resquício de possibilidade que nalgum
futuro remotamente previsível, essa coisinha invisível sem massa, sem
espectro, sem teor e sem sabor venha a fazer parte das conversas de
botequim; venha se constituir em tema de escola de samba; venha batizar
com seu nome time de futebol varzeano; ou que adentre os lares das
pessoas onde serão discutidas suas propriedades e o quanto estas
trouxeram de benefício para as pessoas comuns, e o quando a vida no
Planeta seria diferente se nada soubéssemos sobre ele. O bóson, a rigor,
não cheira nem fede para o resto da humanidade, se ele for detectado
pelo Grande Colisor de Hádrons ou for definitivamente descartado, nós,
pessoas comuns, nem de longe sofreremos qualquer modificação na nossa
vidinha corriqueira. O bóson é o próprio sexo dos anjos.
Vejam
bem, não sou contra que se pesquise sobre essa partícula, tampouco
partilho a opinião que os recursos empregados nessa busca seriam mais
bem destinados na cura do câncer ou na compra de iates e mansões para
gente sem poder econômico para fazê-lo, quero apenas registrar minha
impressão e meu assombro, nunca na história da humanidade se investiu
tanto em onirismo científico deslumbrado. Abraços, JAIR, Floripa,
25/08/10.