Hoje de manhã lembrei de você
ouvindo blues. Mas nunca ouvimos blues e aquela musica pertence a outro
tempo. É que às vezes eu me lembro de você quando me deparo com algo
bonito. Um pôr-do-sol desmaiando sobre o meu ombro. A tarde de um dia que não
volta. O bando de pássaros que nunca serão os mesmos [este canto é a promessa
de que a poesia resiste às mais insuspeitáveis provas]. É um barco no rio do
destino sem previsão de portos. Mas que segue para sempre e sempre...
Sob o sol, sobre a
sombra
Ando com essa
urgência no bolso
mesmo sentada
todos os pulsos
apontam
Acordo as seis
no ranço da
pressa
de ontem
povoada por
qualquer instante
que me parta
Fernanda Tatagiba
Os enganos só têm um destino, a desilusão
que os liberta. Na verdade, tudo que a gente precisa é se atrever a colocar
as idéias criativas em marcha. Chega de acreditar que a vida cotidiana
é aquela que a mídia ensina, coisas assim -- evite emoções fortes, vigie a
tensão, coma pouco, beba pouco, pense o óbvio, exercite-se moderadamente e de
forma planejada. lute por ter uma vida longa, mas viva uma vida em câmera
lenta, higiênica, pasteurizada, amorfa. acredite nos slogans, sonhe, cultive
ideologias libertárias, mas não tente jamais transforma-las em algo real, não
seja ingênuo. contenha-se, satisfaça-se com nada, consuma o descartável, deseje
apenas dentro dos parâmetros aceitáveis, mantenha laços que o faça sentir-se
pertencendo a uma tribo qualquer e jamais contrarie seus princípios e pense por
si mesmo ou certamente, você acabará sendo expulso. nada faças, nada penses,
volta a dormir, põe tua angústia de castigo....--
---É real o que você vê nas vitrines?
'pior...
pior...
começamos
a olhar o
medo...
o medo
grande...
e a pressa...
o medo é uma pressa
que
vem de todos
os lados,
uma pressa sem
caminho...'
Sagarana - João
Guimarães Rosa
Uma lástima! o amor não quis
esperar. Naquela manhã não me beijou devagar. Não teve tempo para pensar que a
urgência faz parte do que já se espera. A saudade é mais lenta, quer esticar o
momento dividi-lo em segundos, parti-lo em partes tão ínfimas e tão importantes
que o tempo que durou é eterno. Mas ele preferiu a pressa. Não me beijou
devagar. Esmagou antes os lábios como se me dissesse assim coisas (as que eu
não saberia ouvir). Devias ter me beijado mais devagar. Se ouvisse o som
do coração dançaria valsa comigo. É uma dança lenta porque quer
dizer coisas pequenas e grandes mas todas sentidas e verdadeiras. Depois ele
decidiu rodopiar comigo numa batida que de tão rápida me fez doer a
lembrança. O amor é devagar, eu agora sei. E menos, não, muito obrigada. não
sei esperar.
Hoje eu poderia rir de alegria por me fazer tão
bem. Poderia fazer aquelas coisas que não exigem nada,
que se completam em si mesmas, atos tão simples como:
enfiar as contas de um colar,
andar de pantufas do Taz,
apreciar objetos,
olhar a chuva,
acender incensos,
ficar horas no chuveiro,
sentir a náusea de um perfume antigo,
guardar a caixinha de sândalo,
ler, escrever palavras que pedem passagem,
beber o chá,
contar as folhas no fundo da xícara,
desprezar sortilégios,
rir da própria ingenuidade,
ignorar o poder,
ser livre para cantar bem alto,
dançar ,
vestir uma fantasia,
transgredir as horas,
esquecer-me de todos os poemas escritos
e de todos os que ainda vou escrever.
Mas.... e se eu tivesse simplesmente desejado ouvir sua voz?
Canção do Amor
Tu és a corça e eu o cervo,
pássaro tu e eu a árvore,
o sol tu e eu a neve,
tu és o dia e eu o sonho.
De minha boca adormecida
à noite um pássaro de ouro voa a ti:
tem a voz clara, multicolores asas,
e vai cantar-te a canção do amor
- e vai cantar-te a canção de mim.
Hermann Hesse
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
É algo muito bom perceber que o único e verdadeiro esforço que tenho de
aprender a fazer é o de que tudo seja feito sem esforço algum, na maior das
despreocupações, na absoluta leveza de saber que levito no infinito e que isso
não é ameaçador, pelo contrário, é um conforto sem fim.
Aprendi que a nossa força sujeita-se à força do céu.
Não adianta puxar a corda, ela sempre irá pender para o lado mais forte.
Ou seja, se o que te inspira fazer tiver a força do Universo, maravilha,
tudo vai correr bem, tudo vai fluir, tudo vai escorregar pela correnteza.
Parece até que anda sozinho. Mas se o teu querer só tiver a tua força...
Sem leviandade penso que para onde for o vento, assim devo ir.
Porém se notar que as coisas não andam sozinhas, paro por aí.
Não quero forçar o futuro. Ele já lá está, à minha espera, e não vai mudar de
caminho só para me agradar....
Abraços Invisíveis
Sentir-me
semente
germinando ainda
em terra quente
e úmida
Raízes-cabelos
adentrando
pelos espaços vazios
na eclosão
de vida
de célula tumefata
Procurar no alto
a luz
a liberdade
os movimentos
quase coordenados
em abraços
invisíveis
E nascer
plena de otimismo
e alegria
Marina Rolim
domingo, 29 de dezembro de 2013
As luzes da noite ficavam bailando para mim. Ultima chance para que se faça
tudo com o coração envolvido em cada pequeno ou grande gesto, fazer assim para
se sintonizar bem com o espírito do dia de hoje, que é profundo e insondável,
provoca confusão nos desatentos, mas elevação nas almas sintonizadas.
Sim! faz-se urgente que surjam novas atitudes e idéias que espalhem 'bombas'
capazes de romper com os valores e estruturas tão engessadas que automatizam e
aprisionam o ser humano nessa mediocridade tão distante da intensidade e do
infinito de possibilidades que nos é possível.
Bombas feitas de palavras, de poesia, de música e arte, de beleza, de
atitudes, sonhos, idéias e valores.
Bombas feitas de esperança. Bombas espalhando um vírus de humanidade e a capacidade
de criar e compartilhar momentos, instantes e perspectivas que possam romper e
explodir a ordinariedade da vida, revelando-a como ela deve ser:
Extraordinária!
De repente...
...num instante fugaz
os olhos se cruzam,
as mãos se entrelaçam
e os seres humanos,
num abraço caloroso,
num só pensamento,
exprimem um só desejo
e uma só aspiração:
Feliz Ano Novo
Glückliches Neues Jahr
Nytar
Feliz Año Nuevo
Felicigan Novan Jaron
Heureuse Nouvelle Année
Feliz Aninovo
Shaná Tová
Happy New Year
Felice Nuovo Anno
Akemashite Omedetou Gozaimasu
Am0r e Luz
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Necessito crer que o amor está à mercê de cada instante se, é da soma de todos
esses instantes que se constitui o sempre. É paradoxal afirmar que o amor
nunca vem antes, não há oração, coração ou simpatia para que ele se anteceda
sem antes compreender a suprema força e a instigante fragilidade que
estão contidas em cada instante desse querer.
Saber viver o agora, acima de tudo é algo primordial, porém conhecendo as
exigências do amanhã - somente o que está baseado na verdade e na transparência
pode durar -.
Vencer a nós mesmos, vencer a própria pressa, suportar e decifrar o descaso e
descanso da hora.
Entre um sim ou um não a linha é tão tênue e ao mesmo tempo um enorme
abismo.
Quando as coisas não acontecem, o vazio torna-se o espaço mais ocupado do
quarto onde habitamos, trazendo consigo os prenúncios de uma implosão
anunciada.
A paz sem vencedor e sem vencidos
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça.
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Sophia de Mello Breyner Andresen
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Dezembro me mostra que as lindas visões que
inundam a minha alma com entusiasmo e ternura não são minhas em particular,
circulam pela alma de nossa humanidade. Ganhará quem tiver coragem e empenho
suficientes para concretizar essas visões.
Acredito que somos energia, sendo a matéria um mero invólucro, que serve para
carregar as limitações físicas que atraímos para poder trabalhar as nossas
fragilidades. É um bom mês para diluir, deixar que cada coisa
aconteça quando tem de acontecer. É saber que tudo no Universo tem um tempo
propício, e que a gente não deveria bloquear o que está para acontecer.
As pessoas não se diluem em emoções adversas, ficam zangadas, ficam com raiva,
culpam as outras, ficam endurecidas, e continuam as suas vidas com um nó no
peito, provocado por emoções que se recusaram a aceitar.
Eu, se alguém de quem gosto me faz mal, por exemplo, eu choro. Choro de
tristeza por ter atraído alguém assim, que é tão infeliz ao ponto de magoar
quem lhe quer bem. Só isso. Só assim sinto que irei diluir na própria
emoção que sinto, e nunca, nunca bloquear uma dor.
Aos poucos vou me habituando à ideia de que a vida traz emoções alegres e
tristes, e que tudo flui se não deixar escapar nada. O amor não precisa
de nenhuma referência – esta é a beleza e a liberdade do amor. Sentir,
sentir, sentir...
Ultima página
Mais uma vez o tempo me assusta.
Passa afobado pelo meu dia,
atropela minha hora,
despreza minha agenda.
Corre prepotente, para disputar lugar
com o vento.
O tempo envelhece, não se emenda.
Deveria haver algum decreto
que obrigasse o tempo a desacelerar
e a respeitar meu projeto.
Só assim,
eu daria conta dos livros que
vão se empilhando,
das melodias que estão
me aguardando;
Das saudades que venho sentindo,
Das verdades que ando mentindo,
Das promessas que venho esquecendo,
Dos impulsos que sigo contendo,
Dos prazeres que chegam partindo,
Dos receios que partem voltando.
Agora,
que redijo a página final,
Percebo o tanto de caminho percorrido
Ao impulso da hora que vai
me acelerando.
Apesar do tempo,
e sua pressa desleal,
Agradeço a Deus
por ter vivido,
amanhecer e
continuar teimando ...
Flora Figueiredo
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Este é um daqueles momentos em que seria melhor
amadurecer um pouco mais seus desejos para agir numa hora que fosse mais
propícia. A televisão mostrava um documentário sobre a produção de Camembert da
Normandia. Os vizinhos faziam um churrasco ao som de músicas tenebrosas. de
forma urgente, contrariando todas as evidências, Ester teclou rapidamente e
automaticamente um número de celular. O telefone tocou e ninguém atendeu do
outro lado. Era quase visceral a necessidade de se declarar : o amor sempre tem
pressa!![mas nem sempre há boa coordenação entre o desejo e a oportunidade de
agir nesse sentido].As coisas são como são porque sempre se originam em idéias.
Ester buscava sentimento.
0 verbo no infinito
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinícius de Moraes
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
A vontade que ela tinha
Era sacudir a amiga dorminhoca
E contar
Palavra por palavra
O que tinham conversado
Queria abrir a janela
E ao ver a viúva
Debruçada
Fumando no andar
De baixo
Correr pelas escadas
Sentar à sua porta
E contar
Calmamente
Que se falaram
Novamente
E 'ele'
Aparentemente
A amava
E encantava mais
A cada palavra
Teve vontade de sair
E obrigar o guardador
de carros
O único que conhece ter
Um Passat vermelho
A sentar no banco ao lado
E ouvir
A sua história
Até que
Emocionado
Limpasse os olhos
Com sua flanela
Ao ver que 'ele'
Batera à porta
E assim a trazia de volta
Quis que o senhor
De olhar perdido
No sinal fechado
Desligasse o carro
E a ouvisse
E que ele
Nunca mais ficasse triste
Queria que o porteiro
do prédio chic
Largasse a mangueira
Ou tocasse água para cima
Como em um desses comercias de margarina
Porque lembraram
De ter uma família feliz
Queria que sua vizinha
de porta
Chamasse o marido
Que foi embora
Para que eles lhe dissessem
O quanto entendiam
Como era raro
E bonito
Mesmo sendo
Impossível.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Pode fechar seus olhos?
Não! Espere.
Talvez seja melhor eu os fechá-los.
Deixe que eu tome temporariamente sua visão
E te deixe apenas com seus outros sentidos.
Confia em mim? Confia em nós?
Relaxe, conte até um determinado numero,
E só então comece a me procurar.
No inicio vai se divertir, achar tudo muito engraçado,
Porem,por trás da brincadeira,eu avalio o quão conectado estamos.
Me segues pelo perfume, pelos passos?
Me segues a cega ou tem algo que o direciona?
Não se apresse, temos longos dias pela frente, longos dias de treinamento.
Desta vez te permito espiar e ter mais de uma chance.
Porem,quando o mês acabar, novamente terá que vendar-se.
Só que dessa vez , nosso destino dependerá de seus instintos.
Acha que podes me encontrar?
Acha que nosso amor te guiará?
Que ele durará?
A tarde se despede dando seus últimos suspiros.
Pelas ruas, apenas o silêncios se faz presente.
Estou aqui. Confie.
( ” Sweet november” um filme emocinante)
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
A frase não é só força de expressão,
segundo estudo publicado no periódico Psychological Science.
Os cientistas acompanharam 220 recém-casados durante três anos (o
suficiente para baixar o fogo da paixão) e pediram que ambos se
autoavaliassem e ao parceiro em relação a qualidade e defeitos, como gentileza,
inteligência, compreensão, imaturidade e preguiça. Os casais mais felizes (e
duradouros) eram aqueles que quase não viam imperfeições no outro.
Gosto quando te calas
Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.
Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
Pablo Neruda
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Em momentos de mudanças e necessidade de decidir, dá vontade de olhar a vida
desde o fim e ver onde isso vai dar ou qual o melhor caminho a seguir.
Entardeço com saudades de quem eu não consegui conhecer.
Não é de gente desconhecida, mas de gente que está na minha vida, que passa
pela minha vida, mas que eu
nunca conheci.
Estranha a sensação de que estamos desperdiçando gente. Gente que podia fazer
muito mais sentido, que podia ser mais inteira, ter mais histórias, mas que
acaba tendo uma forma bem abstrata.
Eu tento encaixar em algum lugar, mas é difícil quando as impressões sobre uma
pessoa e uma relação lhe parecem tão superficiais e que qualquer tentativa de
enquadramento seria por demais leviana.
Ao mesmo tempo, existe um certo encantamento na superficialidade. Uma eterna
áurea de mistério que em muitos momentos engana. É a leveza do que não tem
raiz, não prende, mas também não surpreende.
Você acaba acreditando que existe algo de especial naquela história, já que tem
tanto tempo, tantas vontades, tantos momentos. Mas nunca foi mais fundo para
saber de fato o que tem no sótão ou se é puro vazio.
Ao mesmo tempo, mesmo que em pequenos fragmentos sutis de alma, acaba-se
percebendo um pouco do que se tenta esconder. Medos, desejos, sonhos e
sentimentos.
E eu acho tão bonito quando as pessoas assumem suas emoções e, apesar das
dificuldades que a vida impõe, enfrentam tudo para obedecer ao que o coração
pede insistentemente.
Como o mundo seria melhor se as pessoas ouvissem mais o coração.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Flora , uma executiva de sucesso,
estava apreensiva. Respirou fundo e saiu decidida, sem grandes alardes,
sem grandes transtornos, as coisas acontecem porque têm de acontecer, pensava.
Estava disposta a colocar tudo às claras. Acertar os ponteiros, colocar
os pingos nos is, ajustar todas as contas. Na hora h, no dia D todas as
convicções se foram, evaporaram diante do medo da solidão. Preferiu
culpar seu nervosismo : quando há muita ansiedade envolvida, aí as coisas que
aconteceriam sem transtornos parecem se insurgir e produzir muitos contratempos
. Ele a abraçou forte demais....
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Aaah vida surpreendente! Com um
sorriso triste, Janaína suspirou sabendo que para ela era sempre a mesma coisa.
Quem chegava com o muito prazer, nas entrelinhas já se despedia. A vontade era
nem dar-se ao luxo de deixar-se gostar. Quanto mais gostar, mais dor ao
despedir-se. Sempre que alguém chegava com ares de eternidade, mais rápido
seria em sumir sem deixar qualquer rastro a que ela se agarrasse, qualquer
retorno que esperasse. Era um vem e vai, sempre nesta ordem. E uma vez só, não
havia retornos, nem surpresas, nem gritinhos de alegria por ser surpreendida
com uma brincadeira de esconde-esconde. Quando menos esperasse - e conseguia
surpreender-se a cada vez - alguém já se tinha ido. E Janaína entrava correndo,
na esperança ridícula de ter sido brincadeira - e sabia que mais uma vez havia
acontecido. Quem sabe uma chave torta, uma senha ilegível, sons soltos de
risadas distantes ajudam a decifrar um coração aos cacos??
.Tudo em ti
era uma
ausência
que se
demorava:
Uma despedida
pronta a cumprir-se.
Cecília Meireles
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Tens pressa de viver?
Tens receio de que tudo passe demasiadamente rápido?
De passo em passo, no chão polvilhado de vermelho e amarelo intermitente e
úmido,as pessoas desviam-se da chuva.
Uma longa estrada estende-se como um tapete de folhas caídas, chorosas e
desmazeladas.
Não há ordem na queda. Cai-se e mais nada.
A chuva cria dias de ausência, de desconsolo e de silêncios.
Era suposto todas as coisas fazerem sentido.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
o que tens ai você
neste teu dia tão desejado?
o que tinhas você no seu dia ontem?
seria o mistério que não ias revelar jamais?
por mim eu passeava por eles.
passeava e caminhava entre as imperfeições
dos objetos misteriosos, desconhecidos.
você tinha perigo nos bolsos?
eu não queria ver o perigo.
tenho medo dele.
queria ver apenas o bom.
mas é tão triste eu tê-lo visto de perto,
sabe,
tê-lo vivido.
não queria ver nem o bom.
me contasse apenas sem detalhes.
eram chaves em teu bolso? não.
eram bombas ...e não eram de chocolate.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
levei para passear
as poesias que fiz pra você
abri a janela do ônibus e deixei
o vento brincar
com as páginas arrancadas
sábado, 13 de julho de 2013
Hoje é dia de separar o lixo em:
orgânico,
metal,
papel,
plástico
ex-namorado....(rs)
[e antes que eu
percebesse,
tudo isso não
importa mais.
estranho]
sábado, 6 de julho de 2013
Amor é fogo
amor é rosa
amor é bobo
amor é foda
amor, não quero
amor eu quero
amor, sei lá!
amor, vem cá
amor, ah vá!
amor sem nexo
amor e sexo
amor de ontem
amor de agora
amor, demora?
(Mi)
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Relaxa, não pensa, ouve… mas ouve verso por verso.
Deixe as mãos soltas, guarde os segredos pra você.
Olhe pra dentro e pare de procurar em terceiros
um reflexo de outra pessoa.
Todo mundo sabe, você sabe....
[o resto é pura encenação]
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Ei
Posso ir
Te possuir?
Te cafu, né?
Me seduz, ir
Pra além de mim
Hei
Fácil mente
Te gravar
Te cravar
Permanente
Feito rima do nordeste
Gostar assim, de "repente"
Eis
O meu versinho
Bem de verso
Pois é tu
Que fez o disperso
Ser poema cru
Do qu'eu confesso
sábado, 22 de junho de 2013
Odeio a saudade que mora do meu lado
desde que você foi embora. Odeio o cheiro bom do seu corpo impregnado na minha
memória. Odeio a sua preocupação idiota com os meus sentimentos, seu bom
mocismo inoportuno, que me encanta. Odeio suas tiradas clichês me arrancando
riso. Odeio seu jeito careta e tão senhor de si. Odeio a música que você me
toca, me entorpecendo os sentidos. Odeio o seu beijo me invadindo, com a minha
ansiosa permissão. Odeio sua voz sua voz de menino carente me suplicando mãos e
toques e tudo. Odeio seu beijo a devorar todos os meus quereres num átimo.
Odeio que meu pensamento adormeça e acorde se importando com o seu. Odeio como
me faz sentir bonita e infantil. Odeio que seja tão lúcido e maduro e agora
siga por aí sem sentir falta da minha pele na sua... Contraste e completude.
Odeio seus disfarces de homem inatingível. Odeio minhas reações delatoras.
Odeio que consiga seguir sem mim e odeio mais ainda admitir que essa tenha sido
a coisa certa a ser feita. Odeio essa imensa fome que sinto de ti, amor.
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Amor é bandido
amor é bendito
amor é bagunça
amor é bonito
Amor faz poema
amor desnorteia
amor não tem pena
amor sacaneia
Amor de novela
amor vagabundo
amor do meu lado
amor é do mundo
Amor paciente
amor de verdade
amor indolente
amor de saudade
Amor lacrimoso
amor magoado
amor vai embora
amor impensado
PALAVREADORES
.
estrelas,
amores
e insanidades
são feitas
de partículas raras
que nunca se acabam
Seguidores
Um euteAmo que se preze
há de sobrepujar mares furiosos,
ventanias, temporais.
Um euteAmo
verdadeiro
chega ao fim do dia em frangalhos
de tanto que inquietou,
porque rechaça a condição
de apresentar boa figura
sem que por dentro
lhe tenham revirado os sentidos.
É, sobretudo, farto
de intensidade e poesia,
o legítimo euteAmo.
Milene Lima
Pelas frestas da cidade
. Eu quero amor feinho.
Amor feinho
não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho
é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores
ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom
porque não fica velho.
Cuida do essencial;
o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
Adélia Prado
.
O sentidos precisam
sair do túmulo
onde os deveres
os enterram.
Corpo brincando:
-é nele que acontece a alegria
Rubem Alves
as pessoas perdem
muitas coisas
devido ao
exagerado controle
Este é um
poema de amor
tão meigo,
tão terno, tão teu...
É uma oferenda
aos teus momentos
de luta e de brisa
e de céu...
E eu,
quero te servir
a poesia
numa concha
azul do mar
ou numa cesta
de flores do campo.
Talvez tu possas
entender o meu amor.
Mas se isso
não acontecer,
não importa.
Já está declarado
e estampado
nas linhas e
entrelinhas
deste pequeno
poema,
o verso
o tão famoso
e inesperado verso que
te deixará pasmo,
surpreso,
perplexo...
eu te amo,
perdoa-me,
eu te amo..."
Cora Coralina
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
Assim o amor
Espantado meu olhar
com teus cabelos
Espantado meu olhar
com teus cavalos
E grandes praias
fluidas avenidas
Tardes que oscilam
demoradas
E um confuso rumor d
e obscuras vidas
E o tempo sentado
no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca
e seus novelos
Em vão busquei
eterna luz precisa
Sophia de Mello Breyner Andresen
A vida lhe acontece
somente quando você
a aceita incondicionalmente
e está disposto
a dar-lhe as boas-vindas.
Osho
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
.
mas houve o estar,
o existir,
o pensar,
o fazer parte sem fazer
.
Agora preciso
de tua mão,
não para que eu
não tenha medo,
mas para que tu
não tenhas medo.
Sei que acreditar
em tudo isso será,
no começo,
a tua grande solidão.
Mas chegará o instante e
m que me darás a mão,
não mais por solidão,
mas como eu agora:
Por amor.
Clarice Lispector
Eu quero amar,
amar perdidamente!
Amar só por amar:
aqui... além...
Mais Este e Aquele,
o Outro e toda a gente...
Amar! Amar!
E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer?
Indiferente!...
Prender ou desprender?
É mal? É bem?
Quem disser que
se pode amar alguém
Durante a vida inteira
é porque mente!
Há uma primavera
em cada vida:
É preciso cantá-la
assim florida,
Pois se Deus nos deu voz,
foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó,
cinza e nada
Que seja a minha noite
uma alvorada,
Que me saiba perder...
pra me encontrar...
Florbela Espanca
O tímpano está no fim
A íris ficou transparente.
O sentido se desgasta.
Até o sentido está transparente.
A pressa alcança a pressa.
A terra arredonda a terra.
A mente encosta a mente.
Claro espetáculo: cadê o olho?
Tudo perdido, nenhum perigo
Força a mão heróica.
Corpos não se opõem mais
Um contra o outro. O mundo acabado
É semelhança em toda parte.
Caem os nomes do contraste
No centro que se expande.
O mar seco estende o universal.
Nem súplica nem negativa
Perturbam a evidência geral.
A lógica tem lógica, e eles ficam
Trancados nos braços um do outro,
Senão seriam loucos,
Com tudo perdido e nada que prove
Que até o nada sobrevive ao amor.
Laura Riding
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
Quando nasci
um anjo esbelto,
desses que tocam
trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado
pra mulher,
esta espécie
ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios
que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia
que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro
uma beleza e
ora sim, ora não,
creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens,
fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza
não tem pedigree,
já a minha vontade
de alegria,
sua raiz vai ao
meu mil avô.
Vai ser coxo na vida
é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.
Adélia Prado
Não tenho mais
os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura
agrandada pelos anos
e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto
e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
Lya Luft
Sem cabimento
quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem Deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento
Paulo Leminski
Estava enrolada
em teias e traças,
debaixo da escada,
lá no subsolo
da casa fechada.
Começava a tomar ares de desgraça.
Manchada do tempo,
fenecia
a esperar que um dia
alguma coisa acontecesse.
Antes que se perdesse completamente,
sentiu passar um vento cor-de-rosa.
Toda prosa, espanou a bruma,
pintou os lábios
e sem vergonha nenhuma
caprichou no recorte do decote.
A felicidade volta à praça
cheia de dengo e de graça,
com perfume novo no cangote.
Flora Figueiredo
Atapetando passagens
não te aflijas
com a minha pétala que voa:
também é ser,
deixar-se e ser assim.
eu deixo aroma
até nos meus espinhos
ao longe, o vento
vai falando de mim.
e por perder-me
é que vão
me lembrando,
por desfolhar-me
é que não tenho fim.
Cecília Meireles
.
.passam-se os anos
e as estações,
só o amor não passa,
e está sempre
de prontidão
Amém!!
.
Dançando a existência
(..) para além da porta
que dá acesso à rua do jardim,
ides adquirindo,
pouco a pouco,
o fulgor de manifestar,
no vosso corpo,
o tempo amoroso.
M Gabriela| Apoptose
O amor nos tira o sono,
nos tira do sério,
tira o tapete debaixo dos nossos pés,
faz com que nos defrontemos
com medos e fraquezas
aparentemente superados,
mas também com
insuspeitada audácia
e generosidade.
E como habitualmente
tem um fim
- que é dor -
complica a vida.
Por outro lado,
é um maravilhoso
ladrão da nossa arrogância.
Quem nos quiser
amar agora
terá de vir com calma,
terá de vir com jeito.
Somos um território
mais difícil de invadir,
porque levantamos muros,
inseguros de nossas forças
disfarçamos a fragilidade
com altas torres
e ares imponentes.
A maturidade me permite
olhar com menos ilusões,
aceitar com menos sofrimento,
entender com mais tranqüilidade,
querer com mais doçura.
Às vezes é preciso recolher-se.
Lya Luft
Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.
Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.
Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.
Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.
Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.
Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.
Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um
amor que amasse.
Elisa Lucinda
O sonho aprendeu
a pairar bem alto,
lá onde o sobressalto
nem sequer nasceu.
Namorou a trôpega ilusão,
até que trêfego
e desajeitado,
desprendeu-se de
seu reino idealizado,
veio pousar tamborilante
em minha mão.
Assim, aquecido
e aconchegado,
parece que se esqueceu
de ir embora.
Na hora em que
ressona distraído,
eu lhe pingo
malemolências ao ouvido,
à sua inquietação
eu me sujeito.
Eis que o sonho
dorme agora
aqui comigo,
seu corpo repousa
no meu peito.
Flora Figueiredo
Assobio no vento
a cada toque do
mensageiro do vento
alguma energia
contrária ao amor
é transmutada.
Assim Seja!
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