9
Jonas olha pela
janela e vê o trem do seu
pensamento passando por uma vegetação
que abriga pássaros de todas as cores e de todos os cantos numa manhã
cristalina e de muita alegria, é o
retorno para sua infância.
10 anos sua idade, era uma época especial, final de ano, encerramento das provas, féria escolares
à vista. Jonas aguardava ansioso o trem das
dez, aguardava mesmo por Veraldina, amiga da famílai escolhida para
comprar em Lagoinha a capa do caderno de férias. Já imaginava as figuras
coloridas de bichinhos e flores contornados com areia prateada. Mais quatro
dias e teria o último de aula.
Tinha sonhos e
metas, o problema era a realização, era experimentar as emoções disponíveis
para sua idade. Sonhava por exermplo
viajar no trem das sete para Salvador,
passar toda férias lá, se não toda, até a saudade apertar. Era sempre assim,
queria sair, mas quando saia sentia falta do quintal, do pocinho, do caminho
dos araçás, aí, forçava o retorno, vinha de trem porque não podia voar.
Quando completar 15 anos Jonas
quer aprender a profissão de telegrafista, para isso tem que aprender o código
“Morse” , seu pai já disse que vai pedir a Seo Calixto, chefe da estação ferroviária para aceitar
a participação dele no grupo que já freqüenta as aulas todas as manhãs
na sala de telegráfo. Quem sabe mais tarde, seria Chefe de Estação. Achava
bonito a farda caque com botões dourados, e o quepe com uma locomotiva bordada
no emblema. A farda de gala então... toda branca onde os botões dourados
apareciam mais e fazia do chefe uma figura destacada no meio daquele povo de
vestimentas simples.
---------A ? ponto e linha B?
linha três pontos C? linha ponto
linha ponto...
Jonas decorando o código, todos os dias Seo Calixto
verificava sua aprendizagem perguntando os sinais correspondentes de A a Z e de 1 a 10, não demorou muito e a
aula então passou para o manipulador, aparelho que através de impulsos
elétricos levava as mensagens para outras estações ferroviárias. Jonas ali passou dois anos numa
experiência divertida, até se sentia
mais um funcionário da Rede Ferroviária, pois participava de tudo, despachava
mercadorias, vendia bilhetes e cumpria horário até noite a dentro, esperando com a equipe os trens noturnos que por ali passava
exatamente à meia noite. Já se achava pronto para a função, só faltava idade.
Sem ter mais o que aprender, aos poucos
foi se afastando, pela manhã estudava e pela tarde ia levando aquela vida mansa, de dias intere3ssantes,
nos banhos de rio, nos babas, nas reuniões no “pontilhão” grande, onde a
conversa só era interrompida quando pelas mãos de D. Maria Santeira o sino da
igreja badalava seis vezes, anunciando ao povoado a hora da Avé Maria.
Jonas adorava
sua vidinha no Vale, com 15 anos, seus sonhos comparados com sua rotina tinha
sempre sua tolerância, sua paciência ou sua confiança do: “meu dia chegará”.
Enquanto isso ainda era tempo de brincar se distrair. Tinha hábitos isolados,
ninguém o acompanhava a passar uma tarde fora do povoado, na sombra de uma
árvore, lendo e ouvindo músicas num radinho de pilhas, ou do quintal, passar
horas a desenhar a paisagem das casinhas brancas no pé do morro, bem na mira da
janela da cozinha da sua casa. Aos sábados sua vida
10
mudava
completamente, o movimento no povoado crescia, e o armazém do Seo Nelson ficava
entupido de clientes . Nesse dia trabalhavam o proprietário, sua
esposa, uma filha e dois cacheiros, um
deles era Tonho, seu irmão. Se movimentavam no atendimento,mais ainda era
pouco, então Jonas foi convidado a trabalhar aos sábados. Recebia uns
trocados que no domingo já havia acabado, consumido em pés de moleque, bolinhos
e arroz doce. Às dez horas Seu Nelson lhe retirava do balcão, lhe entregava
umas moedas e ele ia aguardar o trem das dez para comprar um exemplar
do jornal A TARDE, vendido no
restaurante onde era atendido pôr um garçom, de gravata borboleta Como era vespertino, o jornal chegava ao Vale com
a edição do dia anterior.
----- Restaurante dentro do trem! Que
onda!
•
Tinha curiosidade, para saber como os pratos e copos se equilibravam com o balanço
do trem. Sempre pensava nisso enquanto
retornava para trás do balcão, quando acontecia de viajar, nunca ia ao restaurante.
i
Na infância Jonas conviveu com o vai e vem dos trens, de passageiros e de
carga, vagões curral levando da seca para o encharcado o gado magro, ou
trazendo de volta depois da engorda, uma troca entre as regiões com climas
diferentes. O curral de embarque e desembarque ficava bem pertinho da sua casa.
Existiam as locomotivas movidas a óleo puxando os trens de passageiros. Após a
locomotiva um vagão dividido em três compartimentos. O primeiro era dos
Correios, a do meio era utilizado para acomodar pequenas mercadorias e que era
chamado de bagageiro e a terceira era a sala do Chefe do Trem. Depois vinham
dois ou três vagões de segunda classe com seus bancos de madeira, em seguida o restaurante e
por fim as primeiras classes. Passaram
naqueles tempos os trens de petróleo e marcou particularmente uma locomotiva de número 303, conduzida
pelo maquinista Zé
Penteado, um condutor veloz que gostava de imprimir velocidade e se identificar com o
apito inconfudível que só os seus dedos na corda fina sabiam cadenciar. Quando de longe se
ouvia o apito,
tudo se afastava da beira da linha, bicho e gente, e ficavam observando,
observando o tic-tac nos trilhos e encantados com a melodia do apito que ele conseguia
fazer se espalhar pelos arredores.
O Vale do Arari tinha Agencia Postal e o pai de Jonas Seo
José era quem administrava os
serviços, postar e distribuir as correspondências, preparar os sacolões de lona,colocar lacres jogar nas costas e
levar para estação ferroviária, esperar o trem, entregar uns e receber
outros. Ibatuí, um povoado que ficava longe da via férrea, tinha Agencia Postal, as correspondências saiam e
chegavam lá no lombo do cavalo de Seo Quintino, que cavalgava mata a dentro
uniformizado de "estafeta "
a sua roupa caqui com o
11
quepe lhe fazia
parecer mais um policial. A agencia do Vale do Arari era quem intermediava os
malotes de Ibatuí.
E o trem do pensamento começa a partir junto com o trem de ferro de verdade, deixando
Jonas embrulhando açúcar, e medindo farinha, atendendo os fregueses , e ainda
não tinha ganhado velocidade e começa a parar, no
cenário romântico da estação "adolescência ".
Jonas tomou seu banho cedo, mergulhou feliz nas águas do Mirauna, deixando um ponto esbranquiçado pelas espumas
de um sabonete "EucaloT', num ensaboamento exagerado, como se assim fixasse
melhor o perfume no seu corpo. Os cuidados com sua aparência chamou a atenção
de, Luizinha uma de suas irmãs, afinal era uma quarta-feira, não era feriado
nem dia santo. Preferiu não dar explicações, saindo deixando para traz o cheiro conhecido
de um "Lancaster "a muito esquecido
por trás de uma caixa de pó de arroz, num canto da penteadeira do seu quarto.
Como não sabia pôr onde vinha a resposta de Rosa, optou pôr ficar no início da
rua , sentado, solitário à sombra do pé de sucupira. O sol já se encaminhava
para o entardecer, e no tempo de mais ou menos uma hora. apenas Seu Justino
passou pôr ali, carregando uma garrafinha para encher de querosene, lá
na praça da igreja, no armazém de Seu Manelito.
Jonas continuou, pôr mais um tempo, e quando desiludido se preparava para ir
para casa. um freio de bicicleta o fez continuar sentado, Wilson , um garoto vizinho de Rosa, vinha todas as
tardes comprar pão, do que ela se
aproveitou o fazendo seu mensageiro.
—
Rosa mandou lhe entregar.
— Brigado, Wilson.
Não leu o bilhete ali, cuidou para que ficasse bem protegido no bolso da camisa, e
disparou para casa. Respirou fundo,
sentado nos degraus do final do corredor^abriu numa ansiedade desesperada.
Jonas..
\ . A minha resposta
é sim.
Beijos,
Rosa.
f Agora Jonas estava numa alegria
aberta, mas
alguma coisa o deixava confuso,
como seria o primeiro encontro, e
Nenhum comentário:
Postar um comentário