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----- Rosa !
----- Oi Jonas ! O que esta fazendo aqui ?
-----
Estava lhe esperando.
Ainda
meio encabulado, com a língua meia presa, Jonas foi em frente.
----- Rosa! Eu acho você uma menina legal, venho
observando apesar das poucas vezes que você vem à rua. Na verdade, no São João
eu já fiquei com inveja de Milton, ele foi seu par, na quadrilha da rua de
baixo. Mas o que eu quero falar mesmo, é perguntar se você quer namorar comigo
?.
Rosa
deu uma risadinha nervosa, e suspirou, tinha vontade de ter um namorado, não um
namorado qualquer, queria uma pessoa que não tivesse a reprovação de seu pai e
Jonas era um bom menino, comportado, educado mesmo, embora nunca tivesse
avaliado a possibilidade de ele vir a ser seu namorado, ou talvez pôr achar,
que ele não reparava nela. E agora, Jonas estava à sua frente, querendo
namorar, como dar a resposta ?, a
timidez foi mais forte, e ela então resolveu ganhar tempo, fugir daquele
momento inesperado, e mandar a resposta num bilhete.
*
O trem parte, deixando Jonas na sua
adolescência aguardando a decisão de Rosa, e num piscar de olhos, freia e para
num dia de verão rigoroso, ano de 1989.
Jonas
olhou para o céu completamente azul, nem uma frepazinha de nuvem, o sol
escaldante, a terra com sede, estorricada. Tonho e Paulo imitavam seu gesto.
Ainda bem que o vento, hora abafado, outra refrescante passava pôr ali.
----- Verão como
esse, eu só ouvi contar! - comentou Tonho.
----- Eu também !
-- concordou Paulo.
Jonas assentiu com a cabeça..
De repente,
o sino da igreja badala vezes seguida.
----- Pôr que
? -- Paulo pergunta para Zé Germano, que passa beirando a cerca,
procurando se proteger em tudo que é planta com copa acima da sua cabeça.
----- D. Maria Santeira,
enlouqueceu?
7
----- Não! é o pessoal de Mangabeira, Curralzinho, Boa
Moita, de tudo que e lugar, até de Serra Fria, que resolveram rezar em
procissão, pedir clemência a Deus!, pedir pra chover!.
Para aquele
povo, a ciência da metrologia assumia
uma orientação materialista, portanto conversa de fenômeno não lhes
interessava, e todo aquele sofrimento com a seca devia ser castigo pelos
pecados do povo, então só restava rezar, pedir perdão a Deus.
Jonas,
Tonho e Paulo, eram diferentes daquela gente. Nasceram todos pôr ali, mas hoje
eram pequenos proprietários rural sem compromisso com as condições do tempo para sobreviverem. Jonas, aposentado,
escolheu seu sitio para tirar sua vida da ociosidade, mas principalmente pelo
amor à natureza, adora mexer com a terra, semear, colher, tem ali uma vida
realmente feliz. Tonho, é seu irmão e também ama aquele pedaço de chão, como
Jonas, cuida , semeia e colhe principalmente alegria. Paulo é cunhado dos dois,
correu mundo e voltou, e na parte que
coube a sua esposa, realizou um sonho de 35 anos. Vivia pôr ali, trabalhando na propriedade rio seu pai,
plantando principalmente mandioca. Sonhava com um laranjal, então
trabalhou duro, transformou as raízes em
farinha e vendeu. Com o dinheiro comprou mudas de laranjeiras, plantou, mas
nunca colheu, a má qualidade dos enxertos fez com que o pomar não prosperasse.
Agora sim, tem um belo laranjal, só pôr prazer, a realização de um sonho. Mas
aquele povo, sofria mesmo.
A
procissão se aproxima, a imagem de São José vem no andor carregado pôr Dermeval, Cosminho, Zé Correia e Manoel de Ló.
Acompanhando, roceiros e suas mulheres, que
apesar do calor vinham com o véu sobre a cabeça entoando uma reza, meio triste,
parecendo ter sido feita para aquela
ocasião. Algumas crianças também seguiam, e de tão quietas pareciam entender a gravidade da situação. Quem
não seguia a procissão, corria para
as janelas, beira da estrada, demonstrando no rosto um sinal de profundo
respeito.
—Vamos
subir pela Barra e descer pela Baixa da
Bananeira ! —
informou Dominguinhos, um dos organizadores. £ lá se foi a procissão, se
arrastando, como diz a música, e junto com ela . uma grande esperança.
E
a resposta de São José ?, só noutra viagem,
o
trem do tempo já segue ligeiro e só vai parar depois do túnel dos sonhos na estação "futuro"
*
O que pretende
Jonas nesta viagem?. A
humanidade,
passageiros do tempo, na estação "agora", não está bem. Pensa nos passos dados em falso, orientados
exclusivamente pôr uma visão
materialista, sabe que os
fatos passados só admitem
reflexões, não voltam a acontecer, e o
futuro não se pode entrever.
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