sexta-feira, 14 de setembro de 2007

COMO ALCANÇAR A FAMA (ou se cansar tentando...)


(Antonio Brás Constante)

Para se alcançar à fama hoje em dia (mesmo que por alguns minutos), podemos recorrer aos chamados “se vira nos trinta” que são exibidos por aí. Até um pretenso escritor (assim como eu), poderia tentar tornar seu nome conhecido. Bastaria entrar no palco e desafiar alguém da platéia a sugerir um tema qualquer, que seria transformado em um pequeno poema nos poucos segundos permitidos. Porém, tal idéia dificilmente passaria pela produção dos programas de televisão, que não teriam interesse em incitar as pessoas a buscarem prazer na literatura.

Outra alternativa seria tentar o BBB, onde geralmente escolhem gente jovem e com barriga de “tanquinho”. Como não disponho desses atributos físicos, poderia argumentar que todas as pessoas são jovens, indiferente de terem oito ou oitenta anos, pois a juventude repousa em nossas mentes, através de um estado de espírito que pode perdurar a vida inteira. Diria que apesar da beleza física agradar aos olhos, se não houver o chamado brilho interior, ela se deteriora, perdendo totalmente o encanto. Quanto à barriga tanquinho, me apresentaria como um homem moderno, que exibe uma barriga do tipo: “lavadora-de-roupas-extragrande” (muito superior a qualquer tanquinho). Ainda assim, acredito que estes argumentos não sensibilizariam os tais caça-talentos a procura de bombados.

Restaria ainda uma opção voltada para planos mais marginais. Por exemplo, se eu assassinasse de alguma forma a língua portuguesa, poderia ganhar espaço no programa “linha direta”. Cheguei a fazer uns testes discretos, como no caso do texto sobre caminhadas, onde ao invés de “suaram” escrevi “soaram”. Esperei pelo pior, mas apenas o Boni (amigo e leitor), me avisou do erro, referindo-se a ele como uma licença poética (?) vinda de minha parte. Também lembrei que no Brasil as pessoas se deparam com todo tipo de violência. Sendo assim, provavelmente não dariam qualquer importância aos erros de português que porventura depreciassem a imagem de um humilde aprendiz de escritor.

A ultima alternativa seria publicar a biografia não autorizada de alguém que estivesse disposto a proibi-la. Mas, para não ter que efetuar anos de pesquisa e correr riscos quanto a sua não proibição, escreveria uma biografia não autorizada de mim mesmo. Depois me processaria (sem utilizar serviços de advogados). Por fim lançaria uma cópia na internet e ficaria torcendo para que a opinião pública adorasse ou odiasse tal atitude, divulgando-a ou criticando-a em todos os veículos de comunicação existentes.

Enfim, muitos acham que para se conquistar à fama vale tudo. Porém, o que realmente importa é reconhecermos nossa própria vocação, utilizando-a como algo positivo em nossas vidas. Pois fama e sucesso podem ser alcançados através do dinheiro. Já o talento é algo que não se compra. Não é um mero enfeite de estante, é uma ferramenta que fica guardada dentro de nós, pronta para ser usada na busca da felicidade.

DAR SEM RECEBER, NÃO É UMA TROCA JUSTA


Ninguém sabe o ponto certo de se doar e quanto vale a pena. É verdade... Às vezes, não vale. A gente se dá sem querer nada em troca. Por quanto tempo conseguimos encher copos de água para o outro, enquanto morremos de sede? Não será essa atitude uma maneira de simplesmente alimentar o egoísmo do outro?

É cômodo apenas receber...

(Débora Böttcher)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

REFLEXÕES


Autora: Sara Maria Binatti dos Anjos

Sou uma pessoa comum. Fui criada com princípios morais comuns.

Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões e nossa única preocupação em relação à segurança era a de que os "lanterninhas" dos cinemas nos expulsassem devido às batidas com os pés no chão quando uma determinada música era tocada no início dos filmes, nas matinês de domingo.

Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos, e/ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder deseducadamente a policiais, mestres, idosos, autoridades. Confiávamos nos adultos porque todos eram pais/mães de todas as crianças da rua, do bairro, da cidade. Tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror.

Ouvindo hoje o jornal da noite, deu-me uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo o que meu filho precisa temer. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. Matar os pais, os avós, violentar crianças, sequestrar jovens, roubar, enganar, passar a perna, tudo virou banalidades de notícias policiais, esquecidas após o primeiro intervalo comercial.

Agentes de trânsito multando infratores são exploradores, funcionários de indústrias de multas. Policiais em blitz são abuso de autoridade.

Regalias em presídios são matéria votada em reuniões. Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem é ser otário. Pagar dívidas em dia é bancar o bobo, anistia para os caloteiros de plantão. Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos.

O que aconteceu conosco? Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas portas e janelas. Crianças morrendo de fome, gente com fome de morte.

Que valores são esses? Carros que valem mais que abraço, filhos querendo-os como brindes por passar de ano. Celulares nas mochilas dos que recém largaram as fraldas. TV, DVD, telefone, video game, o que vai querer em troca desse amasso, meu filho? Mais vale um Armani do que um diploma. Mais vale um telão do que um papo. Mais vale um baseado do que um sorvete. Mais valem dois vinténs do que um gosto.

Que lares são esses? Bom dia, boa noite, até mais. Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente uma droga.

O que é aquilo? Uma árvore, uma galinha, uma estrela. Quando foi que tudo sumiu ou virou ridículo?

Quando foi que senti amor pela última vez? Quando foi que esqueci o nome do meu vizinho? Quando foi que olhei nos olhos de quem me pede roupa, comida, calçado sem sentir medo? Quando foi que fechei a janela do meu carro? Quando foi que me fechei?

Quero de volta a minha dignidade, a minha paz e o lugar onde o bem e o mal são contrários, onde o mocinho luta com o bandido e o único medo é de quem infringe, de quem rouba e mata. Quero de volta a lei e a ordem. Quero liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para tocar as flores. Quero sentar na calçada, e minha porta aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olho no olho. Quero a vergonha, a solidariedade e a certeza do futuro. Quero a esperança, a alegria.

Eu quero ser gente e não peça de um jogo manipulado por TV a cabo.

Eu quero a notícia boa, a descoberta da vacina, a plantação do arroz. Eu quero ver os colonos na terra, as crianças no colégio, os jovens divertindo-se, os velhinhos contando histórias.

Eu quero um emprego decente, um salário condizente, uma oportunidade a mais. Uma casa para todos, comida na mesa, saúde a mil.

Quero livros e cachorros e sapatos e água limpa. Não quero listas de animais em extinção. Não quero clone de gente, quero cópia das letras de música.

Eu quero voltar a ser feliz! Quero dizer basta a esta inversão de valores e ideais.

Quero mandar calar a boca quem diz "a nível de", "neste país", "enquanto pessoa", "eles tem que", "é preciso que".

Quero xingar quem joga lixo na rua, quem fura a fila, quem rouba um lápis, quem ultrapassa a faixa, quem não usa cinto, quem não paga a conta, quem não dignifica meu voto. Quero rir de quem acha que precisa de silicone, lipoaspiração, implante, dieta, cirurgia plástica, conta no banco, carro importado, laptop, bolsa XYZ, calça ZYX para se sentir inserido no contexto ou ser "normal".

Abaixo a ditadura do "tem que", as receitas de bolo para viver melhor, as técnicas para pensar, falar, sentir! Abaixo o especialista, o sabe-tudo rodeado de microfones e câmeras!

Abaixo o "ter", viva o "ser"!

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como uma gota de chuva, limpa como um céu de abril, leve como a brisa da manhã!

E definitivamente comum, como eu.