quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um país quase sério


28 de dezembro de 2011 | 3h 05
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo

A notícia é melhor do que muitos avaliam. Segundo uma opinião corrente, o Brasil ganha posições entre as maiores economias em parte por mérito próprio e em parte por causa da crise na Europa e nos Estados Unidos. Esse julgamento despreza um fato muito importante: haver enfrentado a crise com menos danos que outros grandes países talvez seja o maior de todos os méritos. Erros políticos em série levaram o mundo desenvolvido à catástrofe iniciada em 2007, com o estouro da bolha financeira, e agravada a partir do ano passado, com o risco de calote soberano. Até os maiores defensores da política brasileira esquecem com frequência outro detalhe. Em 2008-2009, muitos governos arrebentaram suas contas para impedir uma quebradeira maior de bancos e de grandes indústrias. Grupos importantes foram praticamente estatizados. Até o governo do presidente George W. Bush engavetou por algum tempo a cartilha republicana para envolver o Tesouro nas operações de socorro. No Brasil, a política anticrise foi bem mais limitada e, apesar de algum desarranjo no Orçamento, as consequências fiscais foram muito menos graves.

A crise foi mais que uma simples marola, mas a recuperação foi rápida e as sequelas foram muito menos graves que no mundo rico. Três fatores beneficiaram o Brasil. O primeiro foi a solidez da maior parte do sistema financeiro. As condições de segurança haviam sido reforçadas a partir de algumas grandes quebras no começo dos anos 90. O País adotou padrões mais severos que as normas de Basileia. Em vários países do mundo rico, essas normas nem eram aplicadas integralmente em 2007. Além disso, todos os segmentos do mercado são há muito tempo cobertos, no Brasil, pelos esquemas de supervisão.

O segundo fator foi a razoável condição das contas públicas. Mesmo sem austeridade, o governo pôde agir sem comprometer gravemente as finanças federais. O endividamento aumentou, mas de forma administrável, e o rápido crescimento da receita pública, a partir de 2010, deu ao Tesouro maior segurança. Mas o crescimento dependerá, nos próximos anos, de uma gestão melhor do dinheiro público.

O terceiro fator foi a combinação das políticas de câmbio, de acumulação de reservas e de metas de inflação. O Banco Central pôde agir com rapidez, ampliando a oferta de dólares e ao mesmo tempo facilitando o crédito.

Sem esses fatores, o País teria menos fôlego para crescer durante a crise mundial. Talvez tivesse crescido, mas ao custo de um sério desarranjo nas contas públicas, de pressões inflacionárias muito maiores e de um desequilíbrio muito mais perigoso no balanço de pagamentos (hoje em situação nada brilhante, mas administrável). A seriedade, embora incompleta, foi premiada.

Outros sul-americanos, com destaque para Chile, Colômbia e Peru, também passaram pela crise com desempenho econômico bem satisfatório e isso foi possível, em primeiro lugar, graças à adoção de políticas macroeconômicas mais sérias a partir dos anos 80 e 90. A experiência dos últimos quatro mais uma vez desmentiu os defensores das políticas voluntaristas e irresponsáveis.

Na última década a economia brasileira pôde crescer sem atolar nas crises fiscais e cambiais tão comuns na maior parte do segundo pós-guerra. A indústria havia começado o esforço de modernização e de expansão da capacidade instalada na fase da abertura econômica, há 20 anos. No agronegócio a transformação havia começado bem antes. A economia brasileira, enfim, alcançou um tamanho compatível com as dimensões e com a riqueza natural do País. Mas falta fazer muito para garantir a continuação do crescimento e a manutenção das posições alcançadas.

O Brasil continua diplomando uns 30 mil engenheiros por ano, enquanto a China forma entre 400 mil e 500 mil. A Índia, cerca de 200 mil. Indústrias têm dificuldade para treinar mão de obra porque faltam qualificações mínimas ao pessoal disponível no mercado. Só 26,3% dos adolescentes diplomados no ensino fundamental em 2009 aprenderam o suficiente de português e apenas 14,8% mostraram conhecimento adequado de matemática, segundo um teste oficial. Além disso, cerca de 20% dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são analfabetos funcionais.

Dificilmente haverá melhora nessas proporções, se o ensino continuar tão ruim quanto é hoje. O padrão "os menino pega os peixe" pode ser aceitável para o Ministério da Educação do Brasil, mas certamente não é para as autoridades educacionais da China, da Coreia, da Indonésia e de outros emergentes em rápido crescimento - incluídos alguns latinos, como a Colômbia. O emprego dos brasileiros dependerá cada vez mais de sua capacidade de competir com os trabalhadores desses países. O sexto lugar entre as maiores economias é uma boa conquista, mas falta executar uma pauta enorme. Ao festejar a notícia com moderação, o ministro da Fazenda mostrou realismo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CRISE NO CATOLICISMO

Padres brasileiros invadem o velho mundo

Os freis brasileiros Luciano Henrique (primeiro à dir.) e João de Deus (primeiro à esq.) estão na Holanda tentando manter viva a fé cristã

Jovens sacerdotes são convocados para atuar em paróquias na Europa, onde há escassez de mão de obra religiosa e o catolicismo está mergulhado em profunda crise.

[Rodrigo Cardoso, Isto É, 25 nov 11] Uma igreja sem padre, uma fé sem igreja. Entre os europeus esse cenário é mais do que possível. A descristianização da Europa, que outrora foi responsável por levar o Evangelho à América Latina, atingiu um grau tão elevado que há uma corrente de teólogos que acredita que o catolicismo esteja dando adeus ao Velho Continente. Na Holanda, por exemplo, a diocese de Den Bosch, no sul do país, estuda deixar na ativa apenas um quinto das atuais 250 paróquias. O destino da maioria delas poderá ser a transformação em museus e livrarias, o funcionamento esporádico com missa apenas uma vez por semana ou a demolição. “Não há padres, fiéis ou dinheiro suficientes para mantê-las”, diz o frei Jan Bolten, um holandês que, por mais de 40 anos, foi missionário no Brasil e que há três foi escalado para retornar para a sua terra natal. “Os bispos daqui estão buscando padres no Exterior.” Um dos países que têm exportado seus sacerdotes para o Velho Mundo é o Brasil, que outrora mandava seus jovens vocacionados para a África e Ásia.

Bolten e os freis João de Deus Campos, 42 anos, e Luciano Henrique Veras Tito, 33, desembarcaram no frio vilarejo de Handel, no município de Gemert, próximo da Alemanha, com a missão de não permitir que a chama da congregação dos carmelitas descalços se apagasse. Os três moram na paróquia Nossa Senhora da Assunção e formam uma atuante comunidade católica, algo que não existia quando a igreja era tocada por um holandês. Mineiro de São Lourenço, João de Deus era vigário paroquial em Caratinga (MG) antes de se mudar para a Europa. “Mas eu não celebro somente em Handel”, diz ele. “Já rezei missa em outras 20 igrejas holandesas.” A Holanda já foi a maior fornecedora de missionários católicos para o Brasil, meio século atrás. Entre os europeus, o envelhecimento do clero e a diminuição das vocações têm exposto a vida eclesial da região a uma enorme fragilidade, de acordo com o teólogo jesuíta João Batista Libanio. “Arrisca-se de não se manter a fé cristã em países europeus, outrora sementeiros de missionários”, diz ele. A ordenação de padres na Holanda é ínfima. Há 100 seminaristas, no total, sendo que vários são estrangeiros.

No Brasil, por outro lado, o novo Anuário Católico, que será distribuído pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na segunda-feira 28, mostra um cenário diferente. Aqui, apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento. Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que em 2000. “O apelo para as vocações sacerdotais tem se intensificado nos últimos anos e vem sendo realizado pelas tevês católicas e as novas mídias, como sites e redes sociais”, afirma a socióloga da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Por outro lado, a figura do padre está se modernizando e dialogando mais com a sociedade, o que pode também funcionar como um fator de atração para a juventude.”

Padre da paróquia Divino Espírito Santo, em Arthur Alvim, zona leste de São Paulo, o paranaense Cláudio Francisco de Oliveira, 38 anos, passou quatro anos celebrando na igreja São José, em Madri, na Espanha, entre 2005 e 2009. Chegou àquele país para cursar um doutorado, mas foi cooptado para celebrar na capital espanhola durante o período de estudos. “Os padres jovens são minoria e alguns celebram no esquema de rodízio. Um amigo de Bilbao, onde há uma residência sacerdotal com 400 padres aposentados, cuida de cinco paróquias”, conta Oliveira, que também acumulava funções rezando cinco missas por semana em uma residência de idosas. O pároco paranaense relata que no País Basco há seminários sem nenhum aluno. “Lembro que as cidades de Bilbao, São Sebastião e Vitória uniram seus seminários e mesmo assim havia apenas seis estudantes no total”, conta ele. A importação europeia de sacerdotes tem feito com que alguns bispos da América Latina e da África sintam receio de enviar seus padres para estudar no Exterior por conta da possibilidade de não tê-los de volta. A preocupação chegou ao Vaticano, que, em uma carta assinada pelo papa Bento XVI, recomenda aos bispos da África que orientem seus padres a retornar à terra natal após finalizar os estudos na Europa. Essa indicação foi seguida pelo padre Oliveira, que voltou ao Brasil, apesar de ter recebido uma proposta para seguir a vida eclesial na Espanha.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nove questões sobre o impacto da tecnologia online

FUTURO DIGITAL

20/12/2011 na edição 673

Tradução e edição: Leticia Nunes
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O Centro para o Futuro Digital da Escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da California estuda, há uma década, a relação dos americanos com a tecnologia. Compiladas, as conclusões de cada pesquisa formam um retrato do americano usuário da internet e as implicações da experiência online em sua vida. Em janeiro de 2012, o Centro divulgará um relatório completo sobre o tema. Por enquanto, Jeffrey I. Cole, que o dirige, antecipa alguns dos principais pontos tratados.

“Depois de 10 anos de estudos, nós concluímos que as forças, assim como as consequências da tecnologia, são mais profundas do que nunca. Em um extremo, vemos usuários com a habilidade de ter conexão social constante, acesso ilimitado à informação, e poder de compra sem precedente. No outro, encontramos demandas extraordinárias do nosso tempo, grandes preocupações sobre privacidade e questões vitais sobre a proliferação da tecnologia – incluindo uma gama de questões que não existiam há 10 anos”, afirma Cole, para continuar: “Acreditamos que os EUA estão passando por um grande ponto de virada digital. Simplesmente, vemos tremendos benefícios na tecnologia online, mas ao mesmo tempo pagamos pessoalmente um preço por estes benefícios. A pergunta é: o quanto estamos dispostos a pagar?”.

A década de estudos sobre o futuro digital chegou a mais de 100 grandes questões sobre o impacto da tecnologia online nos EUA. Abaixo estão nove delas:

** A mídia social explode – mas grande parte do conteúdo não tem credibilidade

Milhões de americanos participam diariamente de mídias sociais, mas, ao mesmo tempo, acreditam que a grande maioria das informações que encontram por lá tem pouca credibilidade. “Não é novidade que a mídia social é o futuro da comunicação, mas o que ainda não é inteiramente avaliado é a falta de convicção da maior parte dos internautas na precisão das informações que encontram nas redes sociais”, afirma Cole. “Nosso estudo mais recente descobriu que 51% dos usuários disseram que apenas uma pequena porção ou nenhuma informação que vêem em redes sociais é confiável. E apenas 14% disseram que a maior parte ou toda a informação é confiável.”

** O significado de “E-Nuff Already” continua a expandir

Há cinco anos, o Centro para o Futuro Digital cunhou a expressão “E-Nuff Already” (um trocadilho com “enough” e “e-mail”, em um termo que significa “Basta, já chega”) para descrever a preocupação entre os internautas sobre o impacto do e-mail sobre suas vidas. O termo expandiu e hoje abrange uma crescente variedade de questões. Cole diz que hoje ele inclui, além do correio eletrônico, muitos outros serviços e equipamentos que têm benefícios enormes para os usuários, mas também invadem suas vidas.

“Os americanos estão mais conectados do que nunca, mas a dominação pura da tecnologia talvez esteja atingindo um ponto crucial. Recebemos e-mails demais, a barragem de mensagens de texto é constante, carregamos dispositivos eletrônicos múltiplos, e novos serviços e aparelhos eletrônicos continuam a ser produzidos. Por quanto tempo será assim antes que os americanos digam novamente que basta?”

** O desktop está morto; vida longa ao tablet

Nos próximos três anos, segundo Cole, o tablet se tornará o principal computador pessoal dos americanos. O uso do desktop irá minguar a apenas 4 a 6% dos usuários de computador – restrito a escritores, gamers, programadores, analistas e cientistas – e o uso do laptop também diminuirá. “O tablet é um aparelho tão convidativo. O PC é um aparelho do tipo ‘incline-se para a frente’ – uma ferramenta que fica sobre uma mesa e força o usuário a ir até ela. O tablet tem um fascínio ‘recoste-se’ – mais conveniente e acessível que o laptop e muito mais atraente para usar. Para a grande maioria dos americanos, o tablet será a escolha de computador até o meio da década, enquanto o PC desaparece”, diz o diretor. “Nós não vemos uma consequência negativa na mudança para os tablets. Mas sua dominância irá provocar mudanças em como, quando e por que os americanos se conectam à internet”.

** O trabalho é, cada vez mais, uma experiência “24 horas por dia, 7 dias por semana”

Os computadores pessoais e a tecnologia online ampliaram a eficiência e a produtividade no ambiente de trabalho. Entretanto, para muitos funcionários, o preço por esta eficiência é o aumento da quantidade de trabalho em suas vidas fora do escritório.

Cole: “Décadas atrás, pensávamos que os computadores seriam artefatos que economizariam o trabalho. É verdade que a tecnologia nos faz mais produtivos, mas com esta produtividade vem expectativas maiores sobre como trabalhamos e quando trabalhamos.”

** A maior parte dos jornais impressos não existirá mais em cinco anos

“A circulação de jornais impressos continua a cair, e acreditamos que os únicos jornais impressos que sobreviverão estarão nos extremos – os maiores e os menores”, prevê Cole. Nos EUA, é provável, segundo ele, que apenas quatro dos maiores diários continuem a ser publicados em papel: New York Times, USA Today, Washington Post e Wall Street Journal. No outro extremo, sobreviverão os pequenos jornais semanais locais.

“A morte iminente do jornal impresso americano continua a levantar diversas questões”, diz o diretor. “As organizações de mídia sobreviverão e terão sucesso quando mudarem exclusivamente para a plataforma online? Como a mudança na distribuição de conteúdo afetará a qualidade e a profundidade do jornalismo?”

**Nossa privacidade está perdida

Talvez este seja o maior preço pago pelos americanos pelo uso da internet: a perda da privacidade, em especial como resultado da crescente tendência de coleta de informações que permite que seja traçado um padrão do comportamento online de qualquer internauta.

“A questão da privacidade é simples – se você faz qualquer coisa online, sua privacidade já era”, diz Cole. “Os americanos adoram poder comprar online, buscar informações online e participar de comunidades sociais online. Mas o preço a ser pago é que somos constantemente monitorados; organizações privadas sabem tudo o que há para saber sobre nós: nossos interesses, preferências de consumo, nosso comportamento e nossas crenças. O americanos estão claramente preocupados com isso. Nosso último estudo sobre o futuro digital descobriu que quase metade dos internautas acima dos 16 anos temem que companhias monitorem o que fazem online; em comparação, 38% disseram que o que os preocupa é o monitoramento pelo governo”.

** O papel da internet no processo político ainda é incerto

Os estudos concluíram que os americanos acreditam que a internet é importante nas campanhas políticas e para ajudar o público a entender a política, mas a tecnologia online ainda não afeta o poder político.

“Ainda que o alcance online aos eleitores continue a aumentar, e a captação de recursos seja uma prioridade para os candidatos, a internet ainda não é considerada uma ferramenta que os eleitores podem usar para obter mais poder político ou influência”, afirma Cole. “Nós acreditamos que isso está mudando, e nos próximos dois ciclos eleitorais vemos a internet se tornando um grande fator de mudança no cenário político”.

** A internet continuará a provocar mudanças nos hábitos de consumo, às custas do comércio tradicional

O mais recente estudo sobre o futuro digital concluiu que 68% dos americanos fazem compras online, e 70% de compradores online disseram que, ao comprar na internet, compram menos em lojas físicas. “Estamos vendo apenas o começo da mudança nos hábitos de consumo dos americanos por causa da internet”, diz Cole. “Daqui a cinco anos, o cenário tradicional de compras será completamente diferente de como é hoje”.

** O que virá a seguir?

“Em 2006, o YouTube e o Twitter tinham acabado de nascer, e o Facebook era uma criança”, diz Cole. “Meio século atrás, quem pensaria que estas tecnologias nascentes se tornariam o padrão para a comunicação social em 2011? A próxima grande tendência online está sendo desenvolvida neste momento por um novo grupo de visionários da internet esperando para ser ouvidos”.

Informações da USC Annenberg News [14/12/11].

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A Privataria Tucana — O resto é o silêncio ensurdecedor


Raul Seixas: "Quem não tem visão bate a cara contra o muro"

“O Governo tucano e neoliberal de FHC foi o governo “cavalaria de Átila”, ou seja, por onde passava nem a grama nascia. Nunca vi tanta insensatez e ganância no que tange a vender o patrimônio público e à falta de respeito e de consideração com o povo trabalhador brasileiro. E eles estão soltos”. (Davis Sena Filho)

Há quinze anos, no mínimo, milhões de brasileiros sabiam e sabem que a venda do patrimônio público brasileiro no governo do presidente neoliberal Fernando Henrique Cardoso, conhecido também como FHC, foi e continua a ser a maior roubalheira contra os interesses do Brasil e do seu povo trabalhador. Mesmo se as transações fossem legais e éticas, os homens e mulheres do PSDB , do DEM e do PPS não tinham o direito de alienar empresas gigantescas, rentáveis e principalmente estratégicas para a segurança e o desenvolvimento do povo brasileiro.

Sempre afirmei ainda que os tucanos emplumados e seus comparsas aliados de crimes de lesa pátria, o DEM e o PPS, que também participaram da privatização de estatais preciosas para a nossa independência e autonomia, como a Vale do Rio Doce e o sistema Telebrás, deveriam estar presos, na cadeia, e dessa forma expurgados da vida da política nacional, a bem do serviço público, além de a punição ser também uma satisfação ao povo brasileiro e às gerações passadas, que construíram o Brasil e depois ter de aturar pessoas completamente divorciadas dos interesses da Nação.

A alienação do bem público brasileiro, construído com dedicação, estudo, pesquisa, trabalho, suor e investimentos orçamentários no decorrer do século XX, principalmente a partir da ascensão, em 1930, do presidente nacionalista, o estadista Getúlio Vargas, foi uma rapinagem e pirataria, com o apoio, indelével, da imprensa privada brasileira, aquela mesma que até hoje considera os princípios do neoliberalismo a única solução para atender as demandas das sociedades, apesar do derretimento dos mercados de capital e imobiliário e da insolvência de estados nacionais como a Grécia, a Irlanda, Portugal, a Espanha, a Itália, com reflexos terríveis para países poderosos como a Alemanha, a França e a Inglaterra, que foi superada pelo Brasil no que concerne ao tamanho do PIB.

A doação de estatais estratégicas do Brasil foi um processo estudado e depois colocado em prática por aqueles que foram eleitos em meados da década de 1990 e nomeados para administrar e zelar pelos nossos interesses, o que, terminantemente, não ocorreu. A verdade é que esse processo dantesco de entrega das riquezas nacionais e da submissão do Brasil teve seu início no governo do presidente que renunciou para não ser cassado, Fernando Collor de Mello, que começou a abrir com maior vigor o nosso mercado interno, bem como colocar em prática o que foi estabelecido pelo Consenso de Washington de 1989, que começou a impor ao mundo o pensamento neoliberal, que é alicerçado em princípios que diminuem o estado, bem como prega a não intervenção estatal na economia.

Esses “dogmas” foram levados a cabo pelo ex-príncipe dos sociólogos, FHC, que se transformou no sapo do entreguismo e da aplicação nua e crua do neoliberalismo no Brasil, com a assessoria constante e influente do homem da bolinha de papel, o senhor José Serra, que realizou, no ano passado, juntamente com a velha imprensa comercial e privada, a campanha presidencial de maior baixaria de todos os tempos. Mesmo assim não conseguiu convencer o povo brasileiro, que nunca foi trouxa e muito menos alienado ao ponto de não perceber que o Brasil de Lula foi infinitamente melhor do que o Brasil do vendilhão e traidor da Pátria conhecido por FHC — um verdadeiro Joaquim Silvério dos Reis, o Judas do Brasil, o pai do neoliberalismo, sistema que, inclusive, extinguiu empregos em vez de criá-los.

Os governantes tucanos diminuíram as tarifas alfandegárias e retiraram quase todas as restrições comerciais para facilitar a entrada de produtos estrangeiros. A intenção era favorecer os grandes exportadores, o que, sobremaneira, não interessava ao nosso mercado interno, porque quando um País privilegia demais um setor da economia, como foi o caso do comércio exterior, os empregos são criados lá fora e não no mercado interno. As exportações tem de ser fortalecidas e consideradas, pois importantes, mas o mercado do Brasil é essencial para que possamos nos desenvolver. Não é à toa que o aquecimento do nosso comércio e indústria contribuiu, indubitavelmente, para que o Brasil não sentisse muito a crise internacional iniciada em 2008.

Não satisfeito em vender estatais poderosas e rentáveis como a Vale do Rio Doce, as siderúrgicas, a Telebras e as companhias de eletricidade, dentre muitas outras, os tucanos reduziram os gastos (na verdade, investimentos) em setores essenciais como a saúde, a educação, a moradia e a previdência. O propósito de não investir tinha a finalidade de desviar o dinheiro para o pagamento das dívidas externa e os com fornecedores, ou seja, os empresários e banqueiros. A falta de comprometimento e responsabilidade desses tucanos com o País fez com que esses setores entrassem em colapso, além de o País ainda ter de enfrentar o famoso “apagão” durante dez meses, bem como ter grande prejuízo com o afundamento de uma das maiores plataformas de petróleo do mundo, a P-36. Os trabalhadores sofreram também com o congelamento do salário mínimo e não recebiam reposições salariais.

O Governo tucano e neoliberal de FHC foi o governo “cavalaria de Átila”, ou seja, por onde passava nem a grama nascia. Nunca vi tanta insensatez e ganância no que tange a vender o patrimônio público e à falta de respeito e de consideração com o povo trabalhador brasileiro. E eles estão soltos, como se nada tivesse acontecido. Esse pessoal tucano sempre considerou investimentos como gastos e por isso somente atendeu as exigências do FMI e o que foi estabelecido pelo Consenso de Washington. O neoliberalismo do Governo FHC foi tão radical que fez com que a “criadora” que colocou em prática o neoliberalismo em termos mundiais, a ex-primeira ministra britânica, Margaret Tatcher, sentir-se uma iniciante — aprendiz de fórmulas econômicas que permitissem a brutal concentração de renda e de riqueza.

Os tucanos foram generosos, evidentemente, ao conceder empréstimos a juros baixos via bancos de fomento, como o Banco do Brasil, o BNDES e a CEF. Empresários como Carlos Jereissati e Daniel Dantas agradeceram penhoradamente. Realmente, aconteceu no Brasil o que já tinha acontecido no México e no Chile, país este que foi cobaia ainda na década de 1970 do neoliberalismo, à frente desse vampiresco processo os chicago boys do ditador sanguinário Augusto Pinochet. O governo tucano entreguista e lacaio dos interesses dos europeus e dos EUA, não satisfeito com tanta desfaçatez, propôs ainda a redução de direitos trabalhistas e da força de negociação dos sindicatos. Eram metas a serem alcançadas pelo governo neoliberal, que, porém, não conseguiu alterar ou tirar direitos essenciais conquistados pelos trabalhadores desde os tempos do estadista gaúcho Getúlio Vargas.

O Programa Nacional de Desestatização, o Plano Collor e a abertura do mercado nacional às importações foram as senhas para a desestruturação do estado, por meio da venda de estatais à iniciativa privada. À frente da lavagem cerebral estavam a imprensa e o sistema midiático. A finalidade era fazer com que o povo brasileiro aceitasse a rapinagem, a pirataria, a roubalheira do patrimônio nacional. A propaganda era constante e os jornais televisivos e impressos repercutiam a alienação dos bens brasileiros como se fosse uma coisa necessária, normal, natural, primordial para o Brasil integrar um mundo “moderno”, regulado por si mesmo, ou seja, auto-regulado e regulamentado, praticamente sem a intervenção do estado.

A resumir: os banqueiros, os grandes empresários dos diversos setores da economia passariam como passaram a estabelecer as regras, as normas, inclusive no que concerne à fiscalização, à concorrência, ao combate ao dumping e à estabilidade dos preços. Seria cômico se não fosse trágico. Os estados nacionais não podem e não devem deixar a raposa cuidar do galinheiro. Salutar se torna também não deixar o lobo cuidar das ovelhas. Do contrário, a vaca vai para o brejo. E foi.

O foi em 2008. A crise internacional “lambeu” os princípios do deus mercado e os economistas, políticos, jornalistas, empresários e a classe média papagaio de pirata e de direita acabaram com os burros na água, e perceberam que o neoliberalismo não tinha e nunca teve princípios, porque não os tem, não os possui. Sua natureza é a exploração de poucos sobre muitos. Quem considera o mercado e os números mais importantes que o ser humano não pode vencer, porque a riqueza é intrínseca à condição humana, maior e única responsável pela riqueza ou pobreza da humanidade.

O Brasil teve a infelicidade de ser por quase quarenta anos comandado pelos monetaristas, a começar por Eugênio Gudin e Roberto Campos. Terminou mal, nas mãos de Pedro Malan, cujo chefe era o presidente neoliberal Fernando Henrique Cardoso, que, além de estar solto, tem a cara-de-pau de dar palpites que ninguém quer ouvir, porque as pessoas não são bobas ou trouxas para sempre. Quem o ouve é a Folha de S. Paulo, a Veja, o O Globo e seus congêneres. Eles ainda estão nas décadas de 1970/80 e principalmente na de 1990, quando os tucanos venderam o País e eles apoiaram tal roubalheira sem pestanejar, afinal são golpistas desde os tempos de Getúlio Vargas.

O golpismo, o entreguismo, a subserviência, o complexo de vira-lata são o DNA deles, suas impressões digitais. Essa gente tem orgulho de ser colonizada e por isso não tem resquício de vergonha. O caso da Chevron que derramou óleo na Bacia de Campos e o golpe de estado em Honduras são episódios emblemáticos do servilismo e da mente imperialista dos donos dos meios de comunicação brasileiros e de seus jornalistas de confiança, que chegam ao cúmulo de não reconhecer os avanços do Brasil nos últimos anos apesar dos números gigantescos nos aspectos social e econômico. Muitos afirmam que as ideologias acabaram e eles são extremamente ideológicos e de direita.

A censura da imprensa velha, comercial, corporativa e privada (privada nos dois sentidos, tá?) ao livro “A Privataria Tucana” de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que vendeu em apenas quatro dias mais de 30 mil exemplares, demonstra que a imprensa, a mídia, não está interessada em combater a corrupção como ela apregoa no Governo Dilma e apregoou no Governo Lula. A imprensa, definitivamente, mostrou quem ela é e a quem ela serve. O poder midiático privado serve aos ricos, aos interesses do grande capital internacional e nacional e combate, ferrenhamente, todo e qualquer governo trabalhista do Brasil e do exterior. A imprensa censura a si mesma quando percebe que os interesses de grupos empresariais, inclusive os dela, estão em cheque, como ocorre no momento por causa do livro do Amaury. O silêncio da imprensa é ensurdecedor e rompe os tímpanos do bom senso, da honestidade, do jornalismo e do interesse público.

Contudo, a censura e o silêncio para que a corrupção tucana e dela mesma não se dissemine por todos os segmentos sociais, a imprensa partidarizada e useira e vezeira em manipular, distorcer, dissimular e até mesmo mentir não se faz de rogada e impõe o silêncio ao povo brasileiro sem se preocupar, entretanto, com sua credibilidade futura, porque apesar de a blogosfera sistematicamente desmenti-la, a velha mídia não tem compromisso com o Brasil e o seu povo e por isso vai continuar como ponta-de-lança dos interesses do capitalismo internacional e indutora de conspirações, principalmente quando quem ocupar a cadeira da Presidência da República for um presidente ou presidenta nacionalista e trabalhista. É isso aí.

Davis Sena Filho