sábado, 2 de agosto de 2008

O MUNDO JÁ NÃO É MAIS O MESMO


Autor desconhecido.


O mundo já não é mais o mesmo há muito tempo. O chavão popular, repetido pelos mais velhos naquela singela comparação, "no meu tempo era melhor", nunca vestiu tão perfeito tal qual uma luva como em 2008., "os dias passam voando" - a sensação de que vivemos o século XXI nunca foi tão presente. A velocidade domina o cotidiano com uma sucessão de pequenos dramas, grandes tragédias, momentos ternos, palavras doces, outras nem tanto. Entre quedas, empurrões e arranhões, aos trancos e barrancos, regado a lágrimas ou iluminado em sorrisos, lá se vai 2008

E as promessas de ano novo? Para alguns o mundo prometeu ser um "tiquinho" mais leve, outro "tantinho" mais lento, que é para dar tempo de contemplar.

Olhando para o álbum de fotografias (digital, lógico), do ano velho, cenas que, à primeira vista, parecem, jamais serão esquecidas. Com certeza serão, dentro de mais um ano, talvez dois, depende do grau de apego de cada um às suas lembranças. O certo, certíssimo mesmo, é que, quando começar a faxina do armário e a limpeza do corpo e da alma para esperar 2009, os fatos de 2008 aparecerão meio descoloridos, esquálidos e espremidinhos lá nos recônditos da memória, sufocados pelo excesso de informação que 2009, ainda nem nascido, já traz na bagagem.

"O que passou, passou". Outro chavão? Aaaaah, mas assim fica fácil escrever um texto que se pretende um abre alas para a retrospectiva de 2007. De chavão em chavão se faz um editorial. Mas, neste ano veloz, em que a TV Digital engatinha no Brasil, nada vai passar assim tão depressa. Talvez, a faxina para liberar espaço no disco rígido e receber 2010, opa, avancei demais no tempo, "rebubina a fita", para receber 2009, precise de doses generosas de sal grosso, litros de alfazema e caixas com tampas resistentes para guardar momentos que, lá vai um chavão: "ficarão marcados na história".

E de 2007?

Dá para esquecer que a Fonte Nova desabou? Naquela que já é considerada uma das piores tragédias do esporte baiano, talvez até nacional? E o estoicismo de D. Luiz Flávio Cappio, 23 dias seguidos sem botar um naco de pão na boca, tudo em prol de levar a Bahia e o resto do Brasil a refletir sobre a faraônica obra de transposição do rio São Francisco? Com certeza os livros de história vão guardar registros, nem que seja num cantinho de pé de página, do embate entre as vontades do bispo e do presidente Lula. Nessa queda de braço compassada pelas contas do rosário, ganhou a vontade do presidente.

Alguém vai conseguir esquecer que 2007 foi o ano das tragédias aéreas? Caiu avião da TAM, caiu avião na Tailândia, caiu boeing na Nigéria, caiu bimotor na Bahia. Dois: um em Maracangalha - coitado de Caymmi, ainda bem que ele não vai mais lá e se for, que não vá de avião - e outro pertinho, ali mesmo no aeroporto internacional de Salvador.

Que a voz de "Tutto" Pavarotti não vai mais embalar as propagandas de cartão de crédito e carro do ano, vocês lembram? E que Boris Yeltsin se foi, levando com ele os ecos de uma era? E os artistas e músicos e bailarinos e cineastas e jogadores de futebol, heim? Paulo Autran, Nair Belo, Maurice Bejárt, Ingmar Bergman, o meia Cléber... todos deixam uma lacuna futuramente preenchida pelas “promessas da nova geração”.

Dá para ignorar o mico presidencial assistido em cadeia nacional pelo mundo todo? “Por que no te calas”. De um lado o rei Juan Carlos, investido de toda a sua antiqüíssima majestade espanhola. Do outro, Hugo Chávez, um homem que consegue misturar de uma só vez as qualidades de herói do povo e pedra no sapato, sem falar na chatice, porque Chávez é uma mala.

Outro contêiner pesado em 2007, George Bush, que merece o troféu Sem Noção de Ouro. Na boca do presidente americano só falta ouvirmos a frase celebrizada pelo ratinho do desenho animado: “Amanhã faremos o que fizemos hoje, tentar dominar o mundo Pink”.

Mas, como diz um amigo meu, repetindo a frase já passada de boca em boca à exaustão por milhares de brasileiros: “A Copa de 2014 é nossa”. Se o caneco virá, aguerridamente conquistado nos gramados nacionais, só o futuro sabe. Mas ao sonhar com 2014, ao planejar os estádios de 2014, ao construir os hotéis de 2014, ao escolher o uniforme canarinho de 2014, não estamos avançando no futuro e trazendo-o para cá, para seis anos antes, para o nosso presente?

Pois então, que 2008 passe para a história da memória coletiva mundial como o ano em que os ponteiros do tempo endoidaram e o século XXI desfilou inteirinho bem diante dos nossos incrédulos olhos.