sexta-feira, 18 de maio de 2012

Casa de Passarinho Feita de Cabaça!

 
casa de passarinho

Texto e fotos: Helena Morelli





- Faça os furos restantes para a casa de passarinho:



Se quiser, você pode abrir janelas dos lados da cabaça com um molde um pouco menor.
Abra dois furos no alto da cabaça, um oposto ao outro; depois alargue-os um pouco com a faca e o furador.
Servirão mais tarde para passar o cordão e pendurar a casinha.
Para o poleiro, abra também um buraco sob a porta da mesma forma, só que um pouco mais largo.






 

- PVA branco como base:


Como a cabaça vai ser inteiramente pintada, passe primeiro umas duas demãos da tinta PVA branca, com intervalos de secagem entre as aplicações.





Aproveite esta fase para corrigir pequenos defeitos na cabaça (se ela tiver) com gesso acrílico.
Deixe secar e depois passe uma lixa.




Casa de Passarinho Feita de Cabaça!

 
casa de passarinho

Texto e fotos: Helena Morelli





- Como furar e esvaziar a cabaça:


Depois de tiradas as imperfeições, vamos abrir a porta na cabaça, e aproveitar assim para tirar as sementes, porque elas atraem insetos.

O melhor jeito para conseguir uma abertura perfeitamente redonda é usar uma serra copo; mas, como nem sempre é fácil de achar e nem todo mundo sabe como manuseá-la, vamos mostrar a técnica mais tradicional de cortar a cabaça.
 'risco molde



Você pode usar um dos lados de um copo, dependendo do tamanho que deseja para o buraco da casinha.
Coloque o molde onde você deseja abrir a porta e risque com um lápis.


Faça em torno do risco vários buracos

Faça em torno do risco vários buracos com o buril ou furador.
Quanto mais buracos fizer, mais fácil ficará abrir a porta.
Esta técnica também pode ser usada para abrir a parte de cima de uma cabaça, se você quiser, por exemplo, um pote.
riscando sempre em cima do mesmo risco, cada vez mais fundo








Você pode conseguir um furador em lojas de artigos para sapateiros, ou mandar fazer um.
Uma furadeira elétrica também serve.
Com um formão ou faquinha bem afiada, risque no contorno da abertura entre os pontos.
Vá riscando sempre em cima do mesmo risco, cada vez mais fundo.
A cabaça está aberta.



Prontinho - A cabaça está aberta.
Use a lâmina da faquinha para remover as rebarbas do buraco.

Remova as sementes e parte da polpa




Remova as sementes e parte da polpa de dentro da cabaça com a colher.
acabamento na porta da casinha






Com uma lixa fina, faça o acabamento na porta da casinha.




Casa de Passarinho Feita de Cabaça!

Casa de Passarinho Feita de Cabaça!

 
casa de passarinho

Texto e fotos: Helena Morelli



Rústicas e ao mesmo tempo delicadas, as casas de passarinho feitas com cabaças (também conhecidas como porongos) atraem as aves e enfeitam o jardim.
Aqui, vamos mostrar de maneira bem simples como fazer uma dessas casas para alegrar seu jardim com o canto dos pássaros.

 

- Material necessario:













- 1 cabaça grande
- Faquinha ou formão para entalhe
- Tintas acrílicas Corfix nas cores azul-cerúleo, amarelo- limão, amarelo-ouro, verde-musgo, rosa-antigo e vermelho- fogo
- Cordão preto
- Tinta branca PVA
- Pincel Tigre chato n⁰ 14/141
- Pincéis Tigre redondos n⁰s 0/165 e 8/142
- Palha de aço
- Papel para molde
- Furador ou buril
- Luvas descartáveis
- Gesso acrílico (para consertos)
- Cola para madeira
- Arame para flores
- Podão ou tesoura de jardinagem
- Galho de árvore
- Fita adesiva (opcional)
- Lixa d´água n⁰s A220 e G 125
- Tesoura
- Esponjas
- Colher
- Balde

 

- Modo de fazer: o passo a passo


O lugar mais fácl de encontrar cabaças são as lojas de artigos para umbanda.
Quando comprar, examine primeiro se a cabaça não tem “machucados” (sinais de ter caído no chão, rachaduras, etc).

Deixe a cabaça de molho num balde


O primeiro passo é limpá-la.
Deixe a cabaça de molho num balde com água por pelo menos uma hora; depois esfregue-a toda com uma palha de aço já usada.
Deixe secar.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Bispo tinha razão... (Transposição do rio São Francisco)


Rubens Siqueira


“Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho". Com esta ideia, o bispo franciscano de Barra–BA dom Luiz Cappio justificava seus dois jejuns, em 2005 e 2007, contra o projeto de transposição, em defesa do Rio São Francisco e do semiárido brasileiro. Dizia que o projeto, além de ignorar o mal estado do rio, visava, como sempre no Nordeste, concentrar água, terra e poder, levaria dinheiro público para o ralo e votos para urnas e – vaticínio profético? – não seria concluído.

E não é que, não à parte a loucura, ele tinha razão! Quatro anos e meio depois de iniciado, o projeto capenga, confirmando as críticas do bispo, de cientistas respeitados e dos movimentos populares. O próprio sertanejo da região “beneficiada", até aqui iludido com a mítica promessa, começa a desconfiar.

Como já estamos em temporada eleitoral, ficam mais claras tanto as manobras do governo como as da oposição, a mídia a reboque. O início de 2012 é pródigo em matérias em vários veículos sobre o desandar da transposição. O governo corre a cons(c)ertar... Em meio ao jogo dos interesses – de empreiteiras, políticos, empresas da indústria e do agronegócio e da mídia a estes ligados – nem sempre se evidenciam os fatos dando razão ao bispo e aos demais críticos.

Já em outubro de 2011, por ocasião do 4 de outubro, dia do santo e do rio São Francisco, a Articulação Popular São Francisco Vivo, com mais de 300 entidades da Bacia, lançava documento chamando atenção para a confirmação de quase todas as principais críticas ao projeto:

“1. A obra seria muito mais cara que o previsto: de 5 bilhões iniciais já estão reajustadas em 6,8 bilhões, um aditivo de 1,8 bilhões, 36% em média. Há lotes ainda não re-licitados, o que vai onerar ainda mais o preço final.

2. Não atenderia a população mais necessitada: efetivamente, não pôs uma gota d’água para nenhum necessitado; antes desmantelou a produção agrícola local por onde passou.

3. O custo da água seria inviável: hoje o governo reconhece que o metro cúbico valerá cerca de R$ 0,13 (poderá ser ainda bem maior), seis vezes maior que às margens do São Francisco, onde muitos irrigantes estão inadimplentes por dívidas com os sistemas de água. Para ser economicamente viável, este preço terá que ser subsidiado, e é certo que o povo pagará a conta;

4. Impactaria comunidades indígenas e quilombolas: comunidades quilombolas impactadas são 50 e povos indígenas nove. As demarcações de seus territórios foram emperradas, patrimônios destruídos. No caso dos Truká, em Cabrobó – PE, em cuja área o Exército iniciou o Eixo Norte, o território já identificado é demarcado se aceitarem as obras.  No caso dos Tumbalalá, em Curaçá e Abaré – BA, na outra margem, se aceitarem a barragem de Pedra Branca. Ainda não foi demarcado pela FUNAI o território Pipipã e concluído o processo Kambiwá, a serem cortados pelos futuros canais, ao pé da Serra Negra, em Pernambuco, monumento natural e sagrado de vários povos. Muitas destas comunidades resistem. Em Serra Negra povoado e assentamento de reforma agrária não admitem as obras em seu espaço.

5. Destruiria o meio ambiente: grandes porções da caatinga foram desmatadas. Inventário florestal levantou mais de mil espécies vegetais somente no Eixo Leste.

6. Empregos precários e temporários: como sintetizou o cacique Neguinho Truká, “os empregos foram temporários, os problemas são permanentes”. Em Cabrobó, nada restou da prometida dinamização econômica, só decepção e revolta. Nas cidades por onde a obra passou ficou um rastro de comércio desorientado, casas vazias, gente desempregada, adolescentes grávidas...

7. Arrastadas no tempo, a obra se presta a “transpor” votos e recursos: não debela, antes realimenta a “indústria política da seca”. Nova precisão de data para conclusão: 2014! Vem mais uma eleição aí, em 2012, outra em 2014...

8. Faltam duas das conseqüências graves a serem totalmente comprovadas, que só teremos certeza se a obra chegar ao fim: vai impactar ainda mais o rio São Francisco e não vai levar água para os necessitados do Nordeste Setentrional. Enfim, a Transposição é para o agro-hidronegócio e pólos industriais do Pecém (CE) e Suape (PE).”

As obras começaram apressadas sob pressão político-eleitoral. Foram aprovados e iniciados projetos sem suficiente detalhamento. Ignoraram-se solenemente as condições climáticas e geológicas da região. O resultado logo apareceu: canais rachados, túneis desabando, deslizamento de solo, infiltrações... Montanhas de dinheiro público jogado fora! O governo diz que a responsabilidade pela reconstrução é das empresas... Mas o custo total da obra já foi acrescido em 36%. E o prazo dilatado para 2015. E ainda faltam 30% do eixo leste (287 km) e 54% do eixo norte (426 km). Se tudo ficar pronto mesmo, pleno funcionamento só em 2030! Até lá quanto ainda vai custar aos cofres públicos, à paciência sertaneja e nacional e à verdade científica e ética?

Empregos frustrados, caatinga devastada, animais mortos, lavouras perdidas, difícil recomeço para quem perdeu o que tinha e foi mal indenizado... Maria Rosa, aposentada, do povoado Montevidéu, em Salgueiro-PE, disse à reportagem do Jornal do Commercio (Recife, 07/02/2012) indignada sem a água que a obra da transposição ao invés de trazer estancou: “Cadê essa água que não chega? Só quando Deus mandar. Eu vou ficar aqui esperando por Deus. Diz que quem espera por Deus não cansa e eu acho que estou cansando, mas vou levando”. Todo estardalhaço da mirabolante transposição até agora fez foi confirmou a “sina” nordestina de conformismo e resistência, do que o bispo Cappio bem entende há quase 40 anos. A luta de sempre continua!

Hedonismo

PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA


CARLOS VIEIRA

A palavra “hedonismo” tem sua origem no grego hedonê, prazer, vontade. Filosoficamente é um doutrina que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana. Seus representantes gregos foram Aristipo de Cirene e Epicuro. Hodiernamente, o hedonismo prega e difunde a Felicidade para o maior número de pessoas possíveis.

No sentido popular, numa linguagem comum, fugindo de sua concepção original, o hedonismo diz a respeito à possibilidade de uma vida egocêntrica, voltada para o prazer material. A questão que desenvolvo é se esse “prazer material” assegura às pessoas um sentimento de felicidade, uma vida onde não haja conflito psíquico e, como tal, a alternância de prazer e dor.

Existem controvérsias entre as Escolas filosóficas que defendem o hedonismo. De um lado, a Escola Cirenaica que distinguia dois estados de alma: o prazer (movimento suave do amor) e a dor (movimento áspero do amor). Na Idade Moderna, Julien Offray de La Mettlei, iluminista francês, atualizou o hedonismo, e seu discípulo Donatien Alphonse Francois de Sade radicalizou-o, transformando-o em amoralismo, transformando o ideal de “serenidade” em “frieza” diante das outras pessoas. Stuart Mill assume o critério de qualidade e formula a lei de interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada indivíduo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria. Critério que, a meu ver, nega as questões sociais, pois esse ideal seria um ideal de uma sociedade igualitária, sem diferença de classes e de uma condição socioeconômica também idealizada.

Falar em hedonismo, falar em prazer é enfocar um lado da questão: a natureza humana, a condição corporal e psíquica da espécie humana que traz em seu bojo a “dualidade existencial”: prazer e dor. Essa é a noção fundamental do conflito. Não há vida humana sem conflito, ato contínuo, nossa vida é permeada de momentos de sofrimento e momentos de prazer.

S. Freud, em seu belo artigo sobre “As Pulsões e Destinos da Pulsão (1915)”, revela uma evidência dolorosa: somos movidos por forças psíquicas que procuram satisfação, prazer, mas somos também, desde criança, levados, por instinto, a destruir, agredir, inclusive a nós mesmos, no sentido do masoquismo primário. O homem é um ser que tanto cria como destrói. O que nos resta nessa vida é cuidar para que a violência não predomine sobre a amorosidade.

Claro que desejamos viver em prazer; óbvio que a mente humana faz tudo para manter esse prazer e se livrar da dor. No entanto, a alternância de prazer-dor é a tessitura da nossa realidade intrínseca. Advogar uma vida de plenitude de prazer, de permanência no prazer e na felicidade, é negar onipotentemente a nossa condição humana.

Hoje em dia vivemos numa sociedade consumista, acumuladora de bens materiais. Uma sociedade que não mede esforços para extrair do seu egoísmo patológico maneiras de obter riqueza, domínio, poder para ter a “ilusão” de que esses fatores lhe assegurariam a “felicidade plena”, o hedonismo utópico. Cada indivíduo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria, ideia citada acima. É óbvio que todo ser humano procura o bem-estar e a felicidade, mas isso implica em fatores sociais e econômicos, fazendo com que somente a “classe dominante” chegue perto desse ideal. E mesmo assim, duvido que a condição material assegure o prazer hedonista perene.

Incentivar o prazer, viver estados de satisfação, prolongar essa satisfação na medida em que se pode, é legítimo e saudável. Perpetuar o prazer é morrer, é negar a importância da dor e da frustração como elementos de crescimento psíquico. No prazer não se pensa, não se trabalha. No prazer só há espaço para o prazer e isso é temporário, circunstancial e passageiro. O velho ditado popular “não há bem que nunca se acaba e não há mal que dure sempre” é a evidência concreta que o absolutismo hedonista é irreal. O que seria de nós se não houvesse a “quarta-feira de cinzas”? Estaríamos fadados a um carnaval infindo, a uma vida megalomaníaca de exaltação, exacerbação do Eu, num estado egocêntrico destrutivo. Mesmo o prazer de férias prolongadas acaba em falta de sentido e sentimento de ociosidade maléfica.

O fato importante e cruel, mas suportável, é que o ser humano odeia o trabalho. Por outro lado, o trabalho é uma maneira de propiciar o prazer. Não há trabalho que assegure nessa terra o “mito eterno do Paraíso”.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tropicália o movimento pós Bosa Nova



Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.

Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical brasileiro. A música brasileira pós-Bossa Nova e a definição da “qualidade musical” no País estavam cada vez mais dominadas pelas posições tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica.
0 comentáriosAo mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as informações da vanguarda erudita por meio dos inovadores arranjos de maestros como Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.

“EU ORGANIZO O MOVIMENTO. EU ORIENTO O CARNAVAL” - CAETANO VELOSO

Seguindo a melhor das tradições dos grandes compositores da Bossa Nova e incorporando novas informações e referências de seu tempo, o Tropicalismo renovou radicalmente a letra de música. Letristas e poetas, Torquato Neto e Capinan compuseram com Gilberto Gil e Caetano Veloso trabalhos cuja complexidade e qualidade foram marcantes para diferentes gerações. Os diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País – uma conjunção do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista, com astronautas e discos voadores. Elas sofisticaram o repertório de nossa música popular, instaurando em discos comerciais procedimentos e questões até então associados apenas ao campo das vanguardas conceituais.
Sincrético e inovador, aberto e incorporador, o Tropicalismo misturou rock mais bossa nova, mais samba, mais rumba, mais bolero, mais baião. Sua atuação quebrou as rígidas barreiras que permaneciam no País. Pop x folclore. Alta cultura x cultura de massas. Tradição x vanguarda. Essa ruptura estratégica aprofundou o contato com formas populares ao mesmo tempo em que assumiu atitudes experimentais para a época.
Discos antológicos foram produzidos, como a obra coletiva Tropicália ou Panis et Circensis e os primeiros discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Enquanto Caetano entra em estúdio ao lado dos maestros Júlio Medaglia e Damiano Cozzela, Gil grava seu disco com os arranjos de
Rogério Duprat e da banda os Mutantes. Nesses discos, se registrariam vários clássicos, como as canções-manifesto “Tropicália” (Caetano) e “Geléia Geral” (Gil e Torquato). A televisão foi outro meio fundamental de atuação do grupo – principalmente os festivais de música popular da época. A eclosão do movimento deu-se com as ruidosas apresentações, em arranjos eletrificados, da marcha “Alegria, alegria”, de Caetano, e da cantiga de capoeira “Domingo no parque”, de Gilberto Gil, no III Festival de MPB da TV Record, em 1967.
Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas.
0 comentáriosO movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos.

“AQUI É O FIM DO MUNDO” - GILBERTO GIL E TORQUATO NETO

Em 1964, o Brasil encontrava-se no olho do furacão. A Guerra Fria – disputa entre as superpotências dos Estados Unidos e da União Soviética – alimentava conflitos na América Latina e no País. Em 1959, a Revolução Cubana transforma Fidel Castro e Che Guevara em heróis internacionais e atiça a pressão do bloco capitalista sobre os países do terceiro mundo.
0 comentáriosPor aqui, o presidente João Goulart (Jango) propõe uma série de reformas de base para atenuar o grave problema da desigualdade social e as pressões políticas que vinha sofrendo dos movimentos de esquerda. Contra tais propostas – acusadas de comunistas – formou-se um movimento da direita política e de parte da sociedade, que preconizavam uma modernização conservadora. Com a participação do Congresso, das classes média e alta, essa facção venceu por meio do golpe militar de 31 de março. O Exército e seus aliados civis depuseram o presidente Jango e entregaram o poder aos militares. O golpe, apoiado pelos americanos, rompeu o já frágil jogo democrático brasileiro. A concentração de renda surgiu como forma de expansão capitalista. Castelo Branco se tornou o primeiro de uma série de generais-presidentes ditatoriais. Seu substituto, Costa e Silva, governou o País de 1967 a 1969, cada vez com mais poder.
Culturalmente, o País fervilhava. Até 1968, intelectuais e movimentos de esquerda podiam agir livremente, com pequenos problemas com a censura. A intensa produção ia das peças do Teatro Oficina aos grupos Opinião e Arena; das canções de protesto às músicas da Jovem Guarda, passando pelos filmes do Cinema Novo e pelas artes plásticas. Em todas as áreas, a política fazia-se presente, mantendo acesa no campo das artes uma polêmica que opunha experimentalismo e engajamento, participação e alienação.
A partir de 1967, os antagonismos foram radicalizados. No campo da música, houve confrontos entre os arti
stas nacionalistas de esquerda e os vanguardistas do Tropicalismo. Estes se manifestaram contra o autoritarismo e a desigualdade social, porém propondo a internacionalização da cultura e uma nova expressão estética, não restrita ao discurso político. Para os tropicalistas, entender a cultura de massas era tão importante quanto entender as massas revolucionárias.
0 comentáriosAinda no terreno político, 1968 foi o ano em que as tensões chegaram ao máximo no País. As greves operárias e as manifestações estudantis – com a conseqüente repressão policial – se intensificaram. As guerrilhas rural e urbana aumentaram suas ações. Com o crescimento da oposição, Costa e Silva, pressionado pela extrema direita, respondeu com o endurecimento político. Em 13 de dezembro, o Ato Institucional Nº 5 decretou o fim das liberdades civis e de expressão, sacramentando o arbítrio até 1984, quando o general João Figueiredo deixa
a presidência do País.

MÚSICAS

Alegria, Alegria – Caetano Veloso 
Domingo no Parque – Gilberto Gi 
Tropicália – Caetano Veloso 
Superbacana – Caetano Veloso 
Soy Loco Por Ti América (Gilberto Gil/ Capinam) – Caetano Veloso 
Marginália 2 (Gilberto Gil/ Torquato Neto) – Gilberto Gil 
Panis et Circensis (Gilberto Gil/ Caetano Veloso) – Mutantes 
Miserere Nobis (Gilberto Gil/ Capinam) – Gilberto Gil e Mutantes 
Lindonéia (Gilberto Gil/ Caetano Veloso) – Nara Leão 
Parque Industrial (Tom Zé) – Tom Zé 
Geléia Geral (Gilberto Gil/ Torquato Neto) – Gilberto Gil 
Baby (Caetano Veloso) – Gal Costa e Caetano Veloso 
Enquanto Seu Lobo Não Vem (Caetano Veloso) – Caetano Veloso 
Mamãe, Coragem (Caetano Veloso/ Torquato Neto) – Gal Costa 
Bat Macumba (Gilberto Gil/ Caetano Veloso) – Gilberto Gil e Mutantes 
Saudosismo – Caetano Veloso 
É Proibido Proibir, versão integral, com discurso (Caetano Veloso) – Caetano Veloso 
Não Identificado (Caetano Veloso) – Gal Costa 
Divino, Maravilhoso (Gilberto Gil e Caetano Veloso) – Gal Costa 
2001 (Rita Lee/ Tom Zé) – Mutantes 
São São Paulo (Tom Zé) – Tom Zé

quarta-feira, 9 de maio de 2012

RELACIONAMENTO

RUBEM ALVES

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que, os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: Há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice”?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sheerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme “O Império dos Sentidos”.
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ”Eu te amo...”
Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética”.
Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua “cortada”, palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o  jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...