sábado, 7 de julho de 2012

Quanto custou a ‘partícula de Deus’


US$ 10,3 bilhões estão por trás de uma das maiores descobertas da física nas últimas décadas, mas crise na zona do euro pode atrapalhar continuidade dos estudos

06 de julho de 2012 | 18h 14



Na quarta-feira, o Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (Cern) anunciou a descoberta da apelidada "partícula de Deus", ou bóson de Higgs, que pode ajudar a comunidade científica - e a humanidade - a entender por que existe massa no universo. Ou, em outras palavras, por que todos os objetos existem, de um átomo a um cachorro.
A comprovação prática do bóson de Higgs só foi possível com a construção do maior acelerador de partículas do mundo. Inaugurado em 2008, o LHC (Large Hadron Collider, da sigla em inglês) custou US$ 10,3 bilhões para ser construído. Esse equipamento - gigantesco - tem 27 km de circunferência e está localizado na fronteira da Suíça com a França.
Em tempos de crise econômica, a The Economist comentou o valor da descoberta. Para a revista, a quantia de mais de US$ 10 bilhões gasta no acelerador de partículas é relativamente pequena, considerando a importância do conhecimento gerado sobre como o universo realmente funciona.
O artigo da The Economist diz que já passou o tempo em que os cientistas estavam próximos do poder e que o dinheiro era farto - como na época da bomba atômica. Hoje, a comunidade científica suplica o reconhecimento da importância das pesquisas, em um mundo em que o dinheiro está curto.
Crise?
O Cern, que abriga o acelerador de partículas, tem 20 países-membros mantenedores. Os cinco principais financiadores são Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha.
A crise abala toda a zona do euro, mas Itália e Espanha, por exemplo, são alguns dos países mais atingidos. Juntas, essas duas nações respondem por quase 20% de todo o financiamento do Cern.
Sozinha, a Alemanha financia 20% do centro de pesquisas, enquanto a França, 15%, e o Reino Unido, 13%.
Neste ano, o orçamento para o Cern manter suas atividades é de US$ 1,2 bilhão. Para 2013, o financiamento já está aprovado, mas os valores ainda não foram divulgados. Depois do ano que vem ainda não há garantias de continuidade.
"É claro que o Cern está sujeito à condição econômica dos países-membros", disse a assessoria do centro de pesquisas. Também segundo o departamento de imprensa do Cern, para entender completamente os desdobramentos dos estudos, o programa tem expectativa de durar pelo menos mais 20 anos.
Além do financiamento via países-membros, alguns experimentos, como o Atlas e o CMS, de onde partiram as descobertas sobre o bóson de Higgs, também recebem dinheiro de institutos e universidades que participam do programa de pesquisa.
São 629 universidades e institutos de pesquisa participantes das atividades do Cern, sendo que 300 estão localizadas em países-membros.
A partícula
O físico teórico escocês Peter Higgs previu, somente em teoria, a existência de uma partícula capaz de dar massa a todas as outras. Isso foi em 1964. Agora, quase 50 anos depois, a teoria foi comprovada na prática.
Mas não foi simples. Foram 500 trilhões de colisões geradas no acelerador de partículas, o LHC, em três anos de operação. O bóson de Higgs foi visto somente em algumas dezenas delas.
A pesquisa continua. Segundo o Cern, a descoberta anunciada nesta semana faz parte de um trabalho mais amplo. A tentativa é de se entender por que a antimatéria parece não existir e saber como a matéria se comportou no início do universo. Também entender o invisível, já que somente 4% da matéria do universo é pode ser vista, segundo os pesquisadores.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

CERN anuncia descoberta do que pode ser a 'partícula de Deus' 

Portal Terra
Cientistas Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN) anunciaram nesta quarta-feira em uma conferência em Genebra, na Suíça, terem descoberto uma nova partícula subatômica que pode ser o tão procurado Bóson de Higgs, conhecido como a "partícula de Deus" e considerado crucial para entender a formação do Universo.
Joe Incandela, responsável máximo pelo Compact Muon Solenoid (CMS), um dos maiores detectores do LHC, situado na fronteira entre a França e a Suíça, afirmou que pesquisadores alcançaram um certo nível de "descoberta" a respeito do bóson de Higgs.
Segundo ele, uma partícula foi, de fato, encontrada. Por enquanto, o que falta aos pesquisadores é descobrir se essa partícula é o bóson de Higgs ou não. A equipe do CMS anunciou um excesso de 5 sigmas, o que equivale ao "padrão ouro" para anunciar descobertas, ou seja, uma chance menor que 1 em 1 milhão de ser uma coincidência. "Este resultado ainda é preliminar, mas achamos que é forte e sólido", afirma Incandela.
Fabiola Gianotti, representante do Atlas, outro importante detector do LHC, também confirmou a observação de uma nova partícula ao nível de 5 sigmas, o que implica que a probabilidade de erro é de uma em três milhões.
"Observamos em nossos dados sinais claros de uma nova partícula, ao nível de 5 sigmas, em uma região de massa ao redor de 126 gigaelétron-volts (GeV)", disse a porta-voz do Atlas durante a apresentação dos resultados deste experimento. O GeV é a medida padrão para a massa das partículas subatômicas. Um GeV é equivalente à massa aproximada de um próton. Gianotti destacou também que o excelente funcionamento do Grande Colisor de Hádrons (LHC) e "o esforço de muita gente nos permitiu chegar a esta emocionante etapa". Cientistas acreditam que a descoberta de uma nova partícula que pode ser o bóson de Higgs pode ser crucial na formação do universo.
O bóson de Higgs
O escocês Peter Higgs previu em um artigo publicado em 1964 no periódico científico Physical Review Letters que é uma partícula o que dá massa à matéria. Chamada de bóson de Higgs, em homenagem ao britânico, ela é mais conhecida como "partícula-Deus" ou "partícula de Deus" (esse segundo mais no Brasil) e seria a última peça no quebra-cabeça do Modelo Padrão, a teoria que descreve as partículas elementares.
Segundo o Modelo Padrão, os bósons são as partículas que interagem com outras e criam as forças fundamentais - forte e fraca, que atuam no núcleo atômico, e eletromagnética (há ainda a gravidade, para a qual alguns teóricos defendem existir o gráviton, ainda não comprovado). Higgs afirmou que a massa não seria das próprias partículas, mas resultado da ação de um bóson que reage mais com umas do que com outras.
Como isso ocorre? Os físicos explicam que as partículas colidem com o bóson de Higgs e ficam mais lentas, o que lhes dá massa - e isso difere elas das partículas de pura energia, como o fóton. Algumas colidem mais, outras menos, e isso explica a diferença na massa.
Tendo como primeiro objetivo achar o bóson de Higgs, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) construiu o LHC, um dos experimentos científicos mais caros da história.
Tags: bóson, CIÊNCIA, deus, higgs, nuclear

‘Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta’

Aos 83 anos, autor da teoria que foi em grande parte confirmada espera que modelo tenha conexão com a cosmologia

04 de julho de 2012 | 22h 30

Jamil Chade; correspondente em Genebra
 “Nunca pensei que viveria para ver essa descoberta.” A frase emocionada é de Peter Ware Higgs, autor da teoria que foi em grande parte confirmada por uma máquina que custou US$ 8 bilhões e quase 50 anos de estudos. Com 83 anos, dificuldade para ouvir, com uma voz fraca e problemas para andar, o cientista da Universidade de Edimburgo não escondia sua emoção na sede do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern).
O físico teórico Peter Higgs, autor da teoria - Efe
Efe
O físico teórico Peter Higgs, autor da teoria

A descoberta deverá abrir caminho para que ele, ao lado de seus colegas, receba o prêmio Nobel da Física. “É tudo muito incrível. Não creio que tenha vivido algo assim”, disse ao Estado, cercado por seguranças, como uma verdadeira estrela.

Higgs não teve uma infância fácil. A 2.ª Guerra obrigou sua família a deixar sua região, na Escócia. O jovem Peter foi obrigado a ter aulas em casa, mas logo se interessaria pela matemática.

A presença de Higgs no Cern teve uma pitada de ironia. Ele contou ter enviado um paper para a revista de física do Cern, que na época era a principal publicação científica, com a descoberta – e o material foi rejeitado, sob alegação de que a teoria proposta não tinha fundamento. Cinco décadas depois, a mesma instituição construiu o acelerador para provar sua teoria.

Ateu e claramente irritado por sua descoberta ter ganhado o apelido de “partícula de Deus”, Higgs abandonou o Greenpeace depois que a entidade passou a se opor a sementes geneticamente modificadas.

Ontem, Higgs era ovacionado pelos cientistas que passaram a noite na fila para obter pela manhã um lugar no auditório onde a descoberta seria realizada. A sala vibrava como uma arquibancada de um ginásio lotado numa final de campeonato, com aplausos, gritos e abraços. Higgs não disfarçava sua timidez, insistindo que os cientistas do Cern eram as estrelas, e não ele.

Higgs falou a um grupo de jornalistas. Eis os principais trechos da entrevista:

Qual a importância da descoberta para o sr. e para a física?
É uma confirmação de algo que fiz há 48 anos e dá muita satisfação ser provado que estava certo. Quando elaborei a teoria, não fui muito específico. Não estou preocupado se encontraram apenas um bóson de Higgs ou vários. Do ponto de vista da física, parece que é o fim de uma era e completamos o modelo. Mas o mais importante é que o estudo do que se descobriu hoje levará ao que está por trás do modelo que explica a física. E espero que haja conexão mais interessante com a cosmologia.

O sr. espera um prêmio Nobel por conta disso?
Eu não tenho ideia. Não tenho amigos próximos dentro do comitê do Nobel.
O sr. achou que um dia veria isso?
Não fiquei sonhando durante 48 anos porque tinha mais o que fazer na vida. No começo, não tinha nenhuma esperança de ver essa comprovação durante minha vida. Mas quando aceleradores do tamanho desse de Genebra começaram a aparecer, pensei que talvez haveria alguma chance.

Como o sr. se sente?
Bem tonto, mas muito feliz.
Buracos negros, antimatéria… O sr. acredita que isso tudo é ficção científica?
Vocês podem chamar de ficção científica. Mas para mim são teorias especulativas que existem há algum tempo e só agora começam a ser testadas. Assim como no caso do bóson de Higgs, há muita motivação teórica para que partes dessas teorias sejam verdadeiras.
Em especial a supersimetria, que acho que muitos acreditam que seja necessária em qualquer teoria e poderá unificar o Modelo Padrão com a gravidade. No momento, não parece ser nem mesmo suficiente, mas um passo necessário.
Se não unirmos essas teorias com a da gravidade, então nada divertido ocorrerá. Isso porque a gravidade por si só não se encaixa com a teoria quântica.

Entenda o que é e qual é a importância do Bóson de Higgs

Experimentos no LHC indicam descoberta de nova partícula compatível com previsões teóricas

Publicado:
Atualizado:
Cientistas dos dois principais experimentos do Grande Colisor de Hádrons (LHC) - maior acelerador de partículas do mundo, operado pelo Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) na fronteira entre França e Suíça – apresentaram nesta quarta-feira seus últimos resultados, que indicam a descoberta de uma nova partícula subatômica compatível com as previsões teóricas de como seria o Bóson de Higgs, apelidado de “partícula de Deus”.

O que é o Bóson de Higgs?
É uma partícula subatômica, isto é, um dos mais fundamentais elementos do Universo. Ele nunca havia sido observado antes em experiências. O Bóson de Higgs é parte do chamado Modelo Fundamental da física, que como todas as demais partículas têm massa. Segundo a teoria, logo após o surgimento do Universo, no Big Bang, existiu uma força invisível conhecida como campo de Higgs. Essa força se formou junto com o Bóson do mesmo nome e abriu caminho para que as demais partículas ganhassem massa.
E o que aconteceu depois?
A forma como o campo de Higgs deu massa às demais partículas é comparável por muitos físicos à forma como a água de uma piscina dificulta o movimento à medida que nadamos. Se partículas não tivessem massa — que é a resistência de um objeto a mudanças de velocidade — elas estariam viajando pelo Universo à velocidade da luz.
Como surgiu essa teoria?
Foi proposta em 1964 por seis cientistas, incluindo um chamado Peter Higgs, que propôs uma explicação para as propriedades da massa.
Qual a importância da descoberta?
Ela inicia uma nova era na Física e abre o portal para um novo entendimento do Universo. Também marca uma das mais longas, mais caras e mais difíceis pesquisas da história da Ciência.
Qual o próximo desafio?
Se os cientistas tiverem sorte, poderão ter um novo conhecimento sobre como o Universo começou.
Qual a chance de os cientistas do LHC estarem errados?
Uma em dez milhões.