terça-feira, 31 de maio de 2011

O homem ao lado

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O homem ao lado

Hoje pela manhã, bem cedo, eu passava de bicicleta por uma rua de Ipanema (Zona Sul do Rio), quando fui surpreendido por um carrão preto importado que avançou o sinal vermelho e quase atropelou uma mulher que levava a filha de uns 5 anos para a escola.

Bolas, o riquinho estava com pressa, por que ele pararia num sinal vermelho? Multa, ele paga. E, se um guarda o parasse, ele tem a certeza de que subornaria o mal pago e mal formado servidor municipal. Faria isso tão rápido que nem se atrasaria para a sua reunião matinal.

Lembrei-me imediatamente do excelente filme a que assisti recentemente, O homem ao lado, mais uma produção argentina que nos faz pensar, ao contrário dessa infinidade de novelinhas frívolas que se proliferam no cinema brasileiro de hoje.

O homem ao lado
mostra como um egoísta e convencido arquiteto fica desconcertado quando um novo vizinho decide abrir uma janela de frente para o seu castelinho blindado.

_ Eu só estou querendo que entre uma frestinha de sol no meu apartamento _ justifica o rústico vizinho, que, desavisadamente, ameaça macular a redoma em que vivem o burguês bem sucedido e sua família putrefata.

O que surge como um conflito de privacidade logo evoluiu para uma grande lição sobre como nos fechamos para o outro no mundo atual e de quantas experiências enriquecedoras essa postura defensiva e armada nos priva.

O arquiteto endinheirado, que humilha seus alunos e não consegue ter diálogo com a filha adolescente, junta-se à mulher (igualmente preconceituosa) para obrigar o grosseirão do lado a cimentar a janela que acaba de abrir a marretadas.

O problema é que, mais do que abrir a tal janela, o vizinho queria mesmo é fazer amizade. Não com o almofadinha especificamente, trata-se de um daqueles tipos abertos às relações e que nós, na pressa em desaqualificar tudo que é novo e desconhecido, tachamos logo de retardado, grosso, brega, metido e outros adjetivos desse tipo.

Confesso que gostaria de ter me identificado com o vizinho simplório, um homem que, apesar de sua corpulência ameaçadora, transborda inocência e alegria de viver. Mas a verdade é que me enxerguei muito mais no outro, no vilão elitista e maledicente.

Vivemos com medo de perder as poucas migalhas que conseguimos juntar. A todos que se aproximam de nós, gritamos logo "alto lá!". Recusamos automaticamente tudo que cheire a divisão. Repartir é uma palavra proibida no nosso vocabulário viciado pelo lucro e direcionado para a acumulação.

O filme de Mariano Cohn e Gastón Duprat é daqueles que ficam na cabeça por dias, semanas. Para sempre até. Uma história em que, com o passar do tempo, vamos descobrindo novas nuances, juntando pedacinhos para entendê-la, e a nós mesmos, cada vez mais e melhor.

O final do filme é particularmente tocante. Pela última vez, o arquiteto babaca tem a chance de se entregar àquela amizade que o destino colocou em seu caminho.

Mas um babaca, infelizmente, é sempre um babaca.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Política e democracia

Política e democracia

29 de maio de 2011 | 0h 00
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Dilma Rousseff seria a última pessoa autorizada a tratar a atividade política com menosprezo, produto que é da dedicação exclusiva de seu antecessor, mentor e agora também tutor, à política no exercício da Presidência da República.

No entanto, a presidente repete neste aspecto Fernando Collor, que assumiu a chefia da Nação, em 1990, com ares imperiais e assim se manteve até que o Congresso lhe mostrasse com quantos paus se faz o equilíbrio entre Poderes.

O distanciamento a que se impõe a atual presidente é o mesmo imposto pelo ex. A motivação objetiva pode até ser diferente, mas há um dado subjetivo que os aproxima: ambos carecem de substância no ramo e chegaram à Presidência por razões alheias a uma trajetória pessoal consistente.

Ele por uma obra de ficção publicitária muito bem engendrada, ela por unção do então presidente Luiz Inácio da Silva e sua inesgotável capacidade de mirar os fins sem se importar com os meios.

Dilma Rousseff está apenas no começo de seus quatro (ou oito) anos de mandato e já precisou da interferência externa para lidar com a evidência de que a fidelidade de uma base parlamentar ampla e diversificada como a que Lula lhe legou requer manutenção.

Não apenas com verbas e cargos. A coisa não é tão fácil assim. A presidente, seus auxiliares e quase a totalidade do País têm todo o direito de considerar que no Congresso só há vendilhões.

Ocorre que essa, além de ser uma visão distorcida da realidade, desconsidera o fato de que mesmo os vendilhões não necessariamente têm de si essa mesma impressão.

Dilma pode achar que aquela maioria está ali para servi-la ao custo da submissão à majestade detentora do poder de lhes distribuir benesses. Mas os parlamentares também acham que seus votos lhe conferem outros direitos.

Querem acesso ao poder, querem prestígio, querem ser levados em conta. Submetem-se, mas exigem em contrapartida não ser tratados como meros carimbadores das vontades do Palácio do Planalto.

Por mais que o comportamento da maioria leve os menos íntimos com o ofício a concluir que o peso da Presidência, ainda mais quando exercida com distanciamento e uma boa dose de atitude de intimidação, seja o suficiente.

Não é. Há sutilezas envolvidas no jogo bruto do poder. E até por ser violento requer alguma sofisticação estratégica. A isso se pode chamar genericamente de fazer política.

O primeiro dado é levar em consideração o outro. No caso, o Parlamento. O governo da presidente Dilma não o faz quando põe na articulação política um deputado de inépcia reconhecida, sinalizando que para ela a área é um pormenor.

Concentra poder nas mãos de um só ministro que, por excesso de atribuições e soberba decorrente da posição, não faz a interlocução com o Congresso como deveria.

Ignora a política e acredita que mandando seus líderes transmitirem recados sobre o quanto está irritada com esta ou aquela conduta obterá automaticamente obediência.

Mesmo depois da intervenção de Lula, Dilma não dá mostras de boa vontade em aprender. Defendeu Palocci dizendo que a oposição "faz política" como se fosse atividade menor, quando é na política que se movem as democracias. Em toda e qualquer decisão ela está presente.

Por orientação de Lula, a presidente marcou encontros com parlamentares de sua base, mas já foi logo avisando ao PT que não sabe quando e se haveria novas reuniões.

Na votação do Código Florestal na Câmara supôs que bastasse baixar uma ordem para vê-la cumprida. A ameaça de demitir os ministros do PMDB foi ato de quem não entendeu da missa a metade.

Agora, quando o Senado se prepara para examinar alterações no rito das medidas provisórias simplesmente manda dizer que, com ela, "não tem acordo".

Como, se a política é a arte de compor interesses? Algo que se aprende fazendo.

A respeito disso, o compositor Gutemberg Guarabyra faz um pertinente resumo: "Um verdadeiro presidente é formado, educado, aperfeiçoado no exercício da atividade política. Lula foi um verdadeiro presidente. FHC idem. Dilma está mais para interventora, delegada para assumir o governo provisoriamente".



domingo, 29 de maio de 2011

O teatro em torno de Palocci

O teatro em torno de Palocci

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Vou propor uma aposta.

Aposto que o caso Palocci não vai dar em nada.

Por quê? Como? A onda está forte. A oposição tenta surfá-la. Lula se preocupa, reúne os senadores petistas. O PSDB quer audiência com o procurador geral da República (Ré-pública).

Mas eu insisto. Não vai dar em nada. Palocci pode até sair do governo, e acho provável que isso aconteça ao final de alguns rounds e de uma negociação por cima ou por baixo do pano entre governo e oposição. Afinal, todos eles são políticos, e os juízes que os julgam são nomeados por políticos. Palocci deu azar, pois a roleta parou no número dele. Mas, no frigir dos nossos ovos, tudo vai ficar bem. Para eles.

Até Collor foi absolvido, esqueceram?

E não se iluda com o ímpeto denuncista da mídia. Mais do que melhorar o país, ela só quer trocar esse Palocci por outro Palocci mais simpático aos grupos que a conrtrolam.

Todos estão no mesmo barco: Lula, Serra, FHC, Cabral, Aécio, Paes, Cesar Maia, Gabeira etc. Podem ser honestos, mas todos têm um porém. Todos são bajulados pelo poder que têm, é natural que eles e suas famílias melhorem de vida. Entre propor um negócio da China a mim ou ao filho de um deles, quem você escolheria?

Ok, um ou outro exagera na cachoeira artificial no quintal de casa, mas em geral todos são prósperos cidadãos que venceram na vida.

Os únicos políticos que não fazem parte dessa casta de intocáveis não chegam ao poder nunca, porque os empresários não lhes dão dinheiro. Ou, quando chegam, é porque já viraram políticos. Ai, que saudade do PT de 1982. Do Lysâneas Maciel... onde anda o Olívio Dutra? Até o antes urgente Movimento dos Sem Terra virou uma estatal.

Votei na Dilma por achar que o Lula gastou melhor o nosso dinheiro com quem precisa, gosto do Lula, distribuiu a renda como nenhum outro, no entanto o pântano é por demais espesso, o enredo é amarrado demais.

Nesse teatro previsível, um ou outro perde o cargo. Se não for mesmo da panelinha (na qual convivem partidos supostamete "adversários"), o gatuno da vez pode até perder a moral. Amargar uns dias atrás das grades até que um juiz lhe devolva a liberdade. Para que possa andar livre por aí, envergonhado, olhando para o chão e torrando seus milhões.

Outro dia voltei a Brasília, é odioso. Aqueles barnabés vagabundos e semianalfabetos dirigindo aqueles carros importados como se fossem empresários. Ganham muito e nada funciona. Podem fazer greve o ano inteiro que não são demitidos. E, nas cidades satélites, a droga e o crime engolindo a juventude.

Os funcionários públicos que querem trabalhar direito acabam alijados pela engrenagem viciada. Um amigo me conta o jogo político e de apadrinhamentos na Petrobras. Se ainda assim ela é uma das maiores empresas do mundo, é porque temos muito petróleo mesmo. Mas esteve sempre ao sabor dos políticos, eles têm o poder. Ontem tucanos, hoje petistas... eu sei como é, trabalhei em rádio e TV estatais.

É assim desde Cabral (o Pedro). Ou melhor, desde os caciques tupis. Melhor ainda, desde os chimpanzés... em cujos bandos macacos políticos fazem demagogia (isso mesmo, o macho alfa distribui bananas para se manter na liderança). A lição é simples: farinha pouca, meu pirão primeiro.

E não há mais espaço para rupturas. Veja a repressão na Síria. Não se iluda, se o povo começasse a quebrar tudo aqui os tanques dariam cabo de nós. Creio que nunca mais haverá uma queda da Bastilha, uma Sierra Maestra. As drogas, o dinheiro e a TV tornaram o ser humano imbecil demais para gerir seu destino.

E o pior é que, além de tudo que passamos no dia a dia, com a falência dos serviços públicos, a corrupção e o favorecimento, ainda somos obrigados a assistir a essa novelinha tantas vezes reprisada, narrada pelo casalzinho do telejornal das oito e que termina numa pizza fria e massuda servida num balcão de botequim.

Que cara pessimista, podem pensar. Nada disso, sei que o mundo tem jeito. A saída está na pureza, na alegria e na bondade das crianças de 3 anos. Essas mesmas às quais não damos a menor atenção.

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Quem tem boca fala o que quer

Disseram que o mundo acabaria no sábado passado.

Mas também que do ano 2000 não passaríamos.

Disseram que não iriam mexer na poupança.

E que a gripe suína mataria milhões.

Assim como o mal da vaca louca.

E o cólera dos anos 90. Lembra?

Disseram que haveria livre concorrência pelos direitos de transmissão do futebol pela TV.

E que aquele concurso público aprovaria os mais bem colocados.

Que não haveria demissões.

E o salário mínimo atenderia às necessidades básicas.

Escreveram que educação e saúde seriam direitos fundamentais.

Juraram sobre a Bíblia que honrariam seus mandatos.

E que o time suaria a camisa em campo.

Garantiram que o filme Chatô, o rei do Brasil estrearia no ano retrasado.

E que a injeção não iria doer.

Que no Brasil não existe racismo.

Nem terremoto.

Disseram que não poderiam engravidar naquele dia.

Ao que responderam que se o filho viesse, ajudariam a sustentá-lo e a educá-lo.

Enfim, disseram até que amavam.


Só rindo, né Drummond?
Comen

sexta-feira, 27 de maio de 2011


Não faltou esforço, de parte da presidenta, para enterrar a guerra entre governo e imprensa que vigeu durante o governo Lula. E agora, meses depois do início deste governo, o blog já tem condições de oferecer um relato fundamentado dos bastidores do atual governo no que diz respeito à sua relação com essa elite midiática.

Antes de prosseguir, é bom que fique clara uma coisa: todas as informações de que disponho foram obtidas em “off” e, assim, as fontes não serão citadas. Todavia, é possível garantir que as suas informações foram confirmadas e reconfirmadas.

Dilma Vana Rousseff, 63 anos, mineira, assumiu a Presidência da República Federativa do Brasil em 1º de janeiro de 2011 convencida de que não havia razão outra para a guerra político-midiática que permeara o governo que integrou e que acabara de terminar que não fosse produto de mera picuinha entre oposição, mídia e Lula.

Dilma se decidiu, pois, a apagar a chama do ódio e do ressentimento. E foi dessa decisão que agora decorrem os incríveis problemas políticos que está vivendo ainda no quinto (!!) mês de seu governo de quatro anos, que todos já podem mensurar o que pode vir a ser…

Observação: segundo disse Lula na terça-feira em encontro com parlamentares do PT, o que pode ser o governo Dilma é ele vir a ter que “se arrastar” pelos próximos quatro anos caso a mídia, a oposição e ex-apoiadores de Dilma, decepcionados com ela, consigam derrubar Palocci.

Tudo começou com o mutismo de Dilma logo após ela assumir a Presidência – e que persiste enquanto o circo pega fogo. Em seguida, coroando uma decisão questionável daquela que deveria estar em festa com seu povo e compartilhando com ele o seu início de governo, a presidenta decidiu deixar Brasília e ir fazer um gesto de boa vontade ao pior inimigo que teve, ao lado de Lula, durante os anos anteriores.

A ida de Dilma à festa de 90 anos da Folha de São Paulo e as palavras elogiosas que teceu ao patriarca morto da família Frias já prenunciavam o que ocorreria dali em diante, uma pretensa relação de quase afetividade com os seus algozes durante o governo Lula.

Não se cuidou tão somente de afagar a imprensa que durante seis dos oito anos da Presidência lulista a fustigara sem dó, piedade ou limites. Havia que acarinhar, também, a oposição, em uma vã esperança de conseguir um armistício impossível, mas que, vigendo, permitir-lhe-ia levar a cabo o seu edificante projeto de extirpar a miséria do Brasil.

Naquele momento, Lula relutou em corrigir a presidenta. Consta que chegou a achar que ela tinha razão, que fora a sua verve (dele mesmo) que rendera os problemas políticos que o seu governo enfrentara.

Apesar da campanha de desmoralização de Lula que corria simultaneamente à lua-de-mel entre Dilma e a direita midiática, com convites ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e elogios desabridos que a presidenta recebia dos jornais dia sim, outro também, tudo parecia caminhar para uma benfazeja distensão política no Brasil.

Quem pode culpar Dilma por querer distensão? Já há semanas que o Brasil está paralisado pelo caso Palocci. O prejuízo para a agenda pública se fez sentir na recente aprovação do Código Florestal, que, quase unanimemente, verifica-se um desastre justamente por falta de um debate que submergiu diante da volta do denuncismo seletivo e partidarizado.

E agora que o governo está sob a ameaça impensável de virar presa na temporada de caça a seus ministros e expoentes, Dilma verifica que medidas tomadas na área de comunicação para distender as relações com a direita midiática a deixaram com muito menos aliados. Sobretudo na internet, a arena mais dinâmica do debate político, atualmente.

Que medidas foram essas? Por exemplo, na Secom. A nova ministra da Secretária de Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas, esteve entre os conselheiros de Dilma para distender as relações com a mídia e a oposição, enquanto que seu antecessor, Franklin Martins, saía de cena, tendo sido visto como um fomentador de confusão.

Franklin Martins, que estabeleceu pontes com a blogosfera progressista na era Lula, cedeu lugar a uma direção da Secom voltada a não se meter com esses “blogueiros encrenqueiros”. Para que se tenha uma idéia, a pessoa que comanda o Blog do Planalto acha que blog é coisa de “adolescente”… Precisa dizer mais?

Helana Chagas é uma excelente pessoa. Íntegra, sensata, inteligente. Não lhe falta competência. Este blogueiro esteve consigo durante a Confecom, em dezembro de 2009, aliás. E só fez confirmar a boa impressão que já tinha dela.

Todavia, tanto Dilma quanto Helena não tinham – e continuam não tendo – a experiência de Lula e de um Franklin Martins no trato com essa direita demente que infecta o Brasil. Não é por outra razão que um e outro estão sendo recrutados a coordenarem a reação ao que já ameaça se tornar o “mensalão” de Dilma.

Tudo muito parecido. Os petistas e simpatizantes “decepcionados” são o maior sintoma. A maioria, aliás, é composta por pessoas de boa fé, que, como as de má fé, já dizem as mesmas frases moralistas sobre Palocci que uma Eliane Cantanhêde, um Reinaldo Azevedo e companhia limitada.

Verifiquem os posts do blog sobre o assunto e verão trolls de direita e gente séria e que defendeu Lula com unhas e dentes dizerem as mesmas coisas sobre Palocci, sobre “ética” etc. E vejam os trolls se passando por petistas arrependidos, o que já dificulta identificar quem é quem em centenas de comentários.

Para coroar a dissertação, vale prestar atenção na cobrança da conta da lua-de-mel entre Dilma e a direita midiática. As gentilezas, os elogios, em fevereiro já se dizia por aqui que seriam usados como “prova” de que a imprensa golpista teve boa vontade com Dilma, mas seu governo não soube honrar o voto de confiança.

O colunista da Folha de São Paulo Janio de Freitas já apresenta a fatura à presidenta, hoje:

“Excetuado Fernando Henrique Cardoso, e por motivos óbvios, Lula [que criticou a mídia no caso Palocci] não demonstraria que algum outro presidente, desde o fim da ditadura de Getúlio, fosse tratado [pela mídia] com mais consideração pessoal e cuidado crítico do que Dilma Rousseff em seus cinco meses iniciais”

O ex-presidente tem toda razão quando diz que a queda de Palocci seria um imenso desastre. Cinco meses de governo. Se conseguirem derrubar Palocci tão cedo – a guerra contra Lula começou no terceiro ano de seu primeiro mandato –, estará aberta a porteira. E quem diz não é este blog, mas aquele que já é considerado o maior estrategista político do Brasil.

Não depende mais de nós, formiguinhas da política, fazer alguma coisa. Dilma tem que decidir se quer passar os próximos quatro anos discutindo a avalanche de acusações e picuinhas que vem por aí ou se, como fez Lula, atuará para dar à sua base de apoio na sociedade as condições de ajudar a fazer o país seguir avançando.

Os blogueiros “encrenqueiros”, por exemplo, nunca dependeram do governo. Apenas acreditaram que, ao apoiarem Lula, estavam apoiando o Brasil. Se não fosse a ressonância que as suas aspirações encontraram em seu governo, porém, não teriam podido ajudar. Mas ninguém pode ajudar quem não quer ser ajudado.

Para não terminar em tom de apocalipse este texto, porém, há que dar uma boa notícia: o país real, essa nação que trabalha, estuda, progride, anseia, sonha – que pulsa, enfim –, não está nem aí para a politicagem. Está subindo na vida. O problema é se a sabotagem conseguir paralisar o governo. Aí, o mundo da fantasia da política se materializará no mundo real.

domingo, 15 de maio de 2011

Entenda como a taxa Selic afeta a sua vida

Entenda como a taxa Selic afeta a sua vida

O que é:

A taxa Selic é a média de juros que o governo paga por empréstimos bancários. Quando a Selic cai, as intituições financeiras são impulsionadas a emprestarem dinheiro ao consumidor para conseguirem um lucro maior. Quando ocorre o contrário, a Selic aumenta, os bancos preferem emprestar ao governo, que paga bem e oferece mais garantias. Assim, haverá menos dinheiro disponível e o crédito oferecido às pessoas físicas ficará mais caro.

Impacto na economia:

A medida funciona também como um mecanismo, utilizado pelo Banco Central (BC), para controlar a inflação ou, ainda, para estimular a economia. A Selic é considerada a taxa básica porque é usada em operações entre bancos e, por isso, tem influência sobre as outras taxas de juros usadas no país: cheque especial, crediário, cartões de crédito e poupança, por exemplo.

E para o consumidor:

Se os juros caem, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Mas, de acordo com a lei da oferta e procura, quanto maior for a demanda, maiores os preços de produtos e serviços. Resultado: inflação. É isso que aconteceu nos últimos meses. O temor do governo diante desse cenário motivou o aumento da taxa Selic, que foi de 9,5% a 12% ao ano em 12 meses.
Com a Selic é baixa, fica mais "barato" para o consumidor fazer um empréstimo ou comprar a prazo. Se há mais crédito, há mais dívidas. Um levantamento recente aponta que de 2009 para 2010, a renda do brasileiro cresceu 13%, enquanto os gastos subiram 16%. Com isso, 53% das famílias viram suas despesas ultrapassarem a renda.

Números ainda mais fresquinhos descrevem a conjuntura atual. Nos primeiros quatro meses de 2011, a classe mais baixa, que recebe entre 1 e 2,5 salários mínimos, liderou a busca por crédito. Já o Índice de Preços ao Consumidor — Classe 1 (IPC-C1), usado para medir a evolução de preços para essas famílias, registrou inflação de 0,84% em abril, ante a taxa de 0,80% no mês anterior - a taxa acumulada no País em 2010 alcançou 5,91%; para este ano, o BC projeta que este índice fique abaixo de 6,5%, que é o teto da meta.

Hoje, os analistas recomendam que o trabalhador não assuma novas dívidas, já que o crédito está caro. O jeito é esperar que o antídoto contra a inflação surta efeito para que, num segundo momento, as taxas de juros voltem a cair.

Quando os juros sobem, o consumo é inibido, o que desacelera a economia, mas evita que os preços aumentem. A questão é que se constrói um ciclo, pois tanto a inflação quanto o encarecimento do crédito afetam o poder de compra e a capacidade de pagamento. Isso significa maior inadimplência. Em abril, o endividamento chegou a 1,5%, em relação a março. Comparado ao mesmo mês do ano passado, a inadimplência alcançou 17,3%.

Pode até ser um processo chato, mas, para que nada saia do seu controle, é sempre importante ficar atento às taxas de juros e entender quais são as melhores opções para o momento.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A Excelência do Homem Sábio

A Excelência do Homem Sábio

A postura de Aristóteles em privilegiar a vida ensimesmada do homem sábio, opunha-se a dos sofistas que circulavam em meio aos lugares públicos como também àquela que Sócrates levou, mas que depois tornou-se comum entre os estóicos e os epicuristas do período helenístico. Essa apologia ao pensador, oposta ao do homem de ação, ao político, deve-se igualmente à motivos históricos bem concretos. Na época de Aristóteles, que viveu por inteiro no século IV a.C., deu-se o declínio definitivo da polis. A independência das cidades-estados gregas deixara de existir, independência que o grande orador ateniense Demóstenes tentou de todos os modos inutilmente defender. No seu lugar ergueu-se o poder dos reis macedônicos, de Felipe II e do seu filho Alexandre, o grande, educado por Aristóteles. A nova autoridade suprimiu com a autonomia delas, ocupando-as com guarnições de soldados reduzindo-as a pequenos átomos do grande império helenístico que eles construíram e com o regime dos diádocos que sucedeu a Alexandre após a morte precoce dele em 323 a.C.. Com o fim da vida política local não tinha realmente nenhum sentido preparar-se para as injunções da política ou para as questões públicas em geral.


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Um viés de um templo

O Herói e o Sábio


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Uma vida dedicada a buscar a verdade

Aristóteles também criou um mito que, muito mais tarde, na época do cristianismo, consagrou-se com o surgimento do monge, um devoto da nova fé que retirava-se do mundo profano para consagrar-se inteiramente à purificação da sua alma. Era a versão cristã do sábio pagão. Porém na época em que ele defendeu a vida do filósofo como a preferida de ser vivida pelo homem livre superior, Aristóteles estabeleceu uma alternativa à celebração do heróico guerreiro, tão comum naqueles tempos, fazendo com a existência de um homem entregue ao pensamento fosse o mais alto grau a que um ser humano poderia ambicionar atingir, e não a de um valentão armado com espada e escudo.

O Filósofo Ideal


O Filósofo Ideal


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O sábio introspectivo

Interessa entender a diferença que separa Aristóteles de Platão em relação a quem representaria melhor o tipo de filósofo ideal. A partir da larga convivência que teve com Sócrates, Platão imaginou-o um ser político, alguém permanentemente envolvido nos assuntos e nos dilemas da comunidade. Um filósofo cidadão, voltado para o aperfeiçoamento das instituições e interessado em ajudar a esculpir o ativista político superior, quando não ele mesmo envolvido, voltado para o bem comum. Alguém a quem Jean-Paul Sartre, o pensador do nosso século, chamou de engajado. Tão grande foi essa simbiose do filósofo com a política que Platão projetou-o (A República) como um arconte, o governante supremo do Estado Ideal, um philo-basileus (o rei-filósofo) . Aristóteles, bem ao contrário, tinha em Tales e Anaximandro, pensadores da escola jônica, tipos eminentemente especulativos, como os mais assemelhados ao ideal que pretendia, mais próximos ao acadêmico universitário dos dias de hoje, obcecado apenas por suas abstrações, voltados para o que H-I Marrou chamou de " busca do seu ideal de perfeição interior, ilhando-se assim numa heróica solidão" .

O FILÓSOFO IDEAL
Para Platão
(428-348 a.C.)
Para Aristóteles
(384-322 a.C.)
O tipo ideal Sócrates Tales, Anaximandro
Voltado para a política, para a comunidade a introspeção, para si mesmo
Local apropriado Academia platônica Liceu peripatético
Fim último a administração, a ação a contemplação, a admiração

A filosofia é divina


pintura de Rafael

Platão e Aristóteles

Para Aristóteles a filosofia é uma atividade divina. De certa forma entende-se isso em razão do filosofo partilhar de certos segredos e determinados conhecimentos que muitos acreditam serem exclusivos dos deuses. Como Deus é a causa primeira de tudo e a filosofia é a causa primeira do conhecimento superior, ela é inegavelmente a mais divina das ciências. Da mesma forma que Deus vive apartado dos homens e do próprio mundo que ele criou, o filósofo tem a mesma atitude, afastando-se dos mortais, vivendo num lugar especial. No caso de Aristóteles, este Olimpo humano era o Liceu, a escola de sabedoria, um reduto de sábios e iniciados que ele fundara em Atenas (provavelmente no ano 335 a.C.), para contrapor-se à Academia de Platão.

Os Tipos de Vida


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Protágoras, o mestre dos mestres

No procedimento de endeusamento da atividade filosófica, Aristóteles aponta a existência de três tipos de vida mais ou menos dignas de serem levadas. Separando o universo das atividade humanos em dois grandes grupos, o do negócio e o do ócio, Aristóteles desprezou inteiramente o primeiro. Quem entrega-se ao negócio, ao trabalho ou ao comércio, a principio está descartado. Por conseguinte só merecem atenção e relevância os que dedicam-se ao ócio ( não entendido como preguiça, mas como uma atitude de disponibilidade para o seu aperfeiçoamento). Socialmente isso significa considerar apenas a gente da nobreza, os que podiam dar-se ao luxo de não ter que ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto. No seu " Ética Eudemiana" ele expõe quais eram esse três tipo de vida:

  • o que se conduzem voltados para o prazer e para o gozo, deixando-se dominar pela multiplicidade das sensações, empolgando-se pelas experiência carnais, sensoriais.
  • a dos homens de ação, atraídos pela coisas do mundo político, para as grandes celeumas e participações coletivas, comuns à vida dos estadistas e dos políticos
  • a dos que se entregam à contemplação, à vida filosófica, liberta dos apelos carnais e longe das inconstâncias do mundo passional, voltado para o saber e para o constante aperfeiçoamento.
  • As coisas mais difíceis de se saber

    As coisas mais difíceis de se saber

    Afinal quais são essas coisas mais difíceis de se conhecer? São as que têm valor universal, as que estão mais afastadas dos sentidos e que dependem mais da mente e não das sensações: são as ciências dos princípios. Estas, por sua vez, são mais exatas quanto menores forem os princípios em que se apoiam, e, ao contrário, são menos exatas se resultam de múltiplos princípios. Por isso a aritmética é mais rigorosa do que a geometria.

    Ensino e Conhecimento

    A ciência que estuda as causas dos fatos particulares é a mais apta ao ensino. Exatamente por isso, por dominar os princípios e as causas de todas as coisas possíveis de serem entendidas, é que a filosofia é uma ciência especulativa, que trabalha com categorias abstratas, mas que obedecem a um lógica extremamente rigorosa a qual somente o homem sábio domina.

    Admiração e Mitos


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    É a admiração pelo cosmo que faz o filósofo

    O que leva afinal um homem à filosofia? Para Aristóteles é a admiração. Desde que dotado para tanto, o homem impressionado pelo mundo que o circunda, pela variedade e diversidade das coisas que lhe são próximas, e mesmo as que se encontram bem distantes, tenta explicá-las com o recurso da razão. É esta inclinação dele para o maravilhoso que explica o fascínio que os mitos exercem sobre ele, porque nada existe de mais fantástico. Neste seu afã ele não busca nenhuma utilidade, a filosofia é uma arte desinteressada. Ao contrário da geometria (medir a terra), ela não se move por nenhuma utilidade, porque a filosofia é um fim em si mesmo, é a busca de uma auto-satisfação que apenas diz respeito ao sábio, que acima de tudo é um desinteressado das coisas práticas, dos dinheiros e dos confortos.

    Os Atributos do Sábio


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    O Mar Egeu e suas margens, berço da filosofia

    Para alcançar-se a ser um sábio, evidentemente que não basta ter apenas vontade de sê-lo. Aristóteles na Ética a Nicômaco estabeleceu um conjunto de pré-condições, ou de disposições naturais para assim chegar-se à filosofia, as virtudes dianoéticas, próprias da parte intelectual da alma, que são distintas da ética e da moral, compostas pela:

    1 - episteme (ciência), ser dotado para o conhecimento;

    2 - praxis téchne, (uma habilidade, uma arte qualquer), uma disposição produtiva;

    3 - frónesis, (a prudência, a sapiência), uma disposição verdadeira para o que é bom e o que é mau;

    4 - noûs (inteligência) uma capacidade para a reflexão dialética expontânea, e por último;

    5 - a sophia (a sabedoria) uma vocação para as coisas teóricas.