sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Pequeno Príncipe Desencantado!

6 de maio 2012
by Téta Barbosa
O Pequeno Príncipe é que nem Coca Cola, todo mundo gosta.
Se não gosta, finge que gosta.
Ele não desentope pia, mas tem o teor filosófico alto o suficiente para você colocar no curriculum pessoal que lê, gosta e, o mais importante, entende filosofia.
E ler-gostar-entender filosofia deixa a pessoa, automaticamente, mais inteligente logo; mais interessante. Ninguém precisa mais discutir a teoria do eterno retorno de Nietzsche, basta saber que o essencial é invisível aos olhos, e pronto, já pode tirar a carteirinha nacional de filósofo de bolso, com direito a meia entrada em saraus intelectuais.
Nada contra o príncipe que, aqui pra nós, está pior do que eu no quesito amigos reais. Acho, sinceramente, que ter amigos imaginários é mais saudável que conversar com uma flor.
Mas, tudo bem, cada um com seus problemas.
Se na época da aventura literária existisse facebook, o pequeno notável não teria que ficar pulando de planeta em planeta para entender o significado da vida. Bastava dar um rolé nos perfis da rede social pra descobrir que nem todo mundo é eternamente responsável por aquilo que cativa.
Muito pelo contrário, inclusive.
Em respeito a Saint-Exupéry (que é o nome daquele prédio branco com cara de geladeira retrô que fica na Av. Boa Viagem), faremos um minuto de silêncio para analisar a clássica: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Observação 1 – Paulo Coelho queria muito ter escrito essa frase.
Observação 2 – Se as pessoas levassem isso a sério, Brutus não teria dado uma facada em Júlio César (ver Shakespeare), sua amiga da sétima série não teria roubado seu namorado e seu chefe não teria te passado a perna naquele trabalho (que ia ser massa, mas ele colocou outro no teu lugar).
Observação 3 – Eternamente é muito tempo.
Sendo assim, tudo que é bom tem seu lado ruim. Do mesmo jeito que Coca-Cola é uma delícia mas acaba com seu estômago; o Pequeno Príncipe é lindo mas fode sua vida pessoal.
Porque na vida real, não tem eternamente, nem cativa, muito menos responsável.
E a única coisa que posso dizer para te consolar, cara amiga leitora, é:
- Engole o choro!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ética Utilitarista








O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação mas também a de todos afetados por ela.




O Utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das conseqüências que eles possam ter.
O Utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo.
Antes, porém, desses dois autores darem forma ao Utilitarismo, o pensamento utilitarista já existia, inclusive na filosofia antiga, principalmente no de Epicuro e seus seguidores na Grécia antiga. E na Inglaterra, alguns historiadores indicam o Bispo Richard Cumberland, um filósofo moralista do século XVII, como o primeiro a apresentar uma filosofia utilitarista. Uma geração depois, Francis Hutcheson, com sua teoria do "sentido interior da moralidade" ("moral sense") manteve uma posição utilitarista mais clara. Ele cunhou a frase utilitarista de que "a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos". Também propôs uma forma de "aritmética moral" para cálculo da melhor conseqüência possível. David Hume tentou analisar a origem das virtudes em termos de sua contribuição útil.
O próprio Bentham disse haver descoberto o "princípio de utilidade" nos escritos de vários pensadores do século XVIII como Joseph Priestley, um clérigo dissidente famoso por haver descoberto o oxigênio, e Claude-Adrien Helvétius, autor de uma filosofia de meras sensações, deCesare Beccaria, jurista italiano, e de David Hume. Helvétius foi posterior a Hume e deve ter conhecido seu pensamento, e Beccária o de Helvécios..
Outro apoio ao Utilitarismo é o de natureza teológica, devido a John Gay, um filósofo estudioso da bíblia que argumentava que a vontade de Deus era o único critério de virtude, mas que, devido à bondade divina, ele concluía que Deus desejava que o homem promovesse a felicidade humana.
Bentham, que aparentemente acreditava que o indivíduo, no governos de seus atos iria sempre buscar maximizar seu próprio prazer e minimizar seu sofrimento, colocou no prazer e na dor ambos a causa das ações humanas e as bases de um critério normativo da ação.
À arte de alguém governar suas próprias ações, Bentham chamou "ética particular". Neste caso a felicidade do agente é o fator determinante; a felicidade dos outros governa somente até o ponto em que o agente é motivado por simpatia, benevolência, ou interesse na boa vontade e opinião favorável dos outros.
Para Bentham, a regra de se buscar a maior felicidade possível para o maior número possível de pessoas devia ter papel primordial na arte de legislar, na qual o legislador buscaria maximizar a felicidade da comunidade inteira criando uma identidade de interesses entre cada indivíduo e seus companheiros. Aplicando penas por atos mal-intencionados, o legislador faria prejudicial para um homem causar dano ao seu vizinho. O trabalho filosófico mais importante de Bentham, An Introduction to the Principles of Morals and Legislation ("Uma introdução aos princípios de moral e legislação"), de 1789, foi pensado como uma introdução a um projeto de Código Penal.
Jeremy Bentham atraiu jovens intelectuais como discípulos, entre eles o economista David Ricardo, James Mill e o jurista John Austin. Mais tarde John Stuart Mill, filho de James Mill, defendia o voto feminino, a educação paga pelo Estado para todos, e outras propostas radicais para sua época, com base na visão utilitarista de que tais medidas eram essenciais à felicidade e bem estar de todos, assim como também a liberdade de expressão e a não interferência do governo quando o comportamento individual não afetasse as outras pessoas. Seu ensaio "Utilitarianism," publicado no Fraser's Magazine (1861), é citada como uma elegante defesa da doutrina Utilitarista e considerada ser ainda a melhor introdução ao assunto, apresentando o Utilitarismo como uma ética tanto para o comportamento do indivíduo comum quanto para a legislação social.
R.Q.Cobra
Doutor em Geologia
e bacharel em Filosofia.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Miséria e Fome

 
 
 



O Tema escolhido “Miséria e Fome” me remete a citar Peter Singer. Nós como cidadãos de um país em desenvolvimento como o Brasil, vivenciamos isso no nosso dia-a-dia. O Brasil tem sido apontado nos últimos anos como uns dos países com um grande índice de crescimento pelos economista. Já faz mais de uma década que o Brasil vem nessa crescente, com seu PIB estável e o número de desemprego diminuindo em quase todas as regiões do país. Se pararmos para ler isso nos jornais, ou ficarmos a observar pessoas que comentam esses fatos no nosso ir e vir, ficaríamos até com um ar de satisfação. Mas quem vive o dia-a-dia na labuta sabe que as coisas não são bem assim. Como disse no inicio do texto eu citarei Singer, porém eu quero chamar atenção para a nossa ostentação de momento. O Brasil tem investido bilhões de reais em infraestrutura para se preparar como o país sede da Copa de 2014, todos sabem que esse é o evento futebolístico mais importante do planeta Terra. Ou seja, como brasileiros, temos que nos orgulhar por ser o país sede da Copa de 2014. Chego a dizer para as pessoas que estão no meu meio, que nunca vivenciei tantas obras públicas assim na minha vida! Sendo assim, teria motivo suficiente para orgulhar desse “belo”país por natureza, como sempre tem que ter um porém, vejo um “buraco mais embaixo”, bem embaixo para dizer a verdade, vejamos o por quê? Apesar do Brasil está passando por um momento econômico estável, a desigualdade social no país é muito grande, onde a fatia maior do PIB se encontra nas mãos de poucos e a menor nas mãos de muitos. E claro, sem falar da “corrupção” que já faz parte da nossa história, tem idiotas que afirmam que essa “história triste” faz parte da cultura dos brasileiros. Se tivesse poder eu bania essa doença para bem longe do planeta Terra. O fato é se temos uma desigualdade social absurda no país, onde a fome e a miséria atinge grande parte da população, o norte e o nordeste do país que o digam e temos no sul e sudeste esse sofrimento em sua maioria encontrados nos seus grandes centro-urbanos. E para piorar cerca de 12,9 milhões de crianças morrem por ano no país por causa da “fome e a miséria”. Por isso falei que o “buraco era mais embaixo”.

Com “tanta tragédia diária vivida nas ruas do país” vamos a Peter Singer. Singer começa sua argumentação em uma das suas obras da seguinte maneira: “ enquanto escrevo, em novembro de 1971, pessoas estão morrendo em Bengala Oriental por falta de comida, abrigo e cuidados médicos”. Não precisa nem dizer qual o motivo dessa citação, muito simples a conclusão. Enquanto estamos investindo bilhões de reais para a Copa de 2014, milhares de brasileiros de baixa renda, estão sofrendo com a miséria ,subsequentemente, com a fome. Ou seja, enquanto uma parte realmente tem motivos suficiente para ficar feliz com a copa 2014, milhares tem pagado com seu sofrimento para financiar a realização dessa festividade. Quero deixar bem claro que não sou contra a Copa do Mundo. Porém sou a favor dos princípios utilitarista nesses casos. Citarei novamente Peter Singer e posteriormente algumas classificações utilitárias para analisar melhor essa questão levantada eticamente. Peter Singer afirma que “ depreende-se de alguma forma mais de teoria utilitarista que todos nós devemos moralmente trabalhar o tempo todo para aumentar o balanço de felicidade sobre a miséria”, e que “ a Terra não pode suportar indefinidamente o aumento da população na presente taxa. Isso certamente coloca um problema para qualquer um que pense que é importante evitar a fome. A conclusão a que se deve chegar é que o melhor meio para prevenir a fome, num prazo amplo, é o controle populacional”, passemos agora às premissas utilitarista para depois partirmos para uma conclusão. Vamos pensar que “uma ação é correta se, e só se, previsivelmente maximizar o bem de todos os seres que existem e que poderão vir a existir”. E que o bem identifica-se com o prazer; o mal identifica-se com a dor ou ausência de prazer. Sendo que em termos utilitários temos a consequência previsíveis da ação como critério de moralidade e que, o ideal moral seria a felicidade Global. Logo em razões práticas morais utilitaristas, a fome e a miséria tinham que ser extintas da Terra.

Posso agora ir ao ponto que queria: por qual motivo citei a Copa de 2014 em meu texto? É evidente que estou pensando em termo moral consequencialista. Pois uns dos alguns argumentos usados por nossas autoridades governamentais é que pós a Copa do Mundo de 2014, o nosso “Brasil” terá uma infraestrutura de um país de primeiro mundo. Primeira objeção: O que é ser um país de primeiro mundo? As pessoas sofrem menos , o país alcança o tão famoso slogan “fome zero”, a miséria chegaria num patamar nulo. Segunda objeção, se tratando de um evento mundial : as pessoas se tornariam mais justas e virtuosas no mundo pós essa copa? Creio que não, pois ao todo já foram realizadas 19 copas do mundo, no entanto o mundo nunca se tornou um lugar melhor pós copa do mundo. Terceira e última objeção: as pessoas que estão pagando com fome e dor para realização desse evento, serão indenizadas pós Copa de 2014? Não me darei o trabalho de responder essa pergunta, contudo volto às citações que aqui fiz; ao citar Singer, eu quis tratar , como pode um país como nosso, onde é vergonhoso ver que nem 10% do PIB é investido em educação, para quem sabe assim diminuir um pouco da desigualdade social, diminuir a fome e a miséria nos grande centro-urbanos e em áreas rurais. Nós nos damos o luxo de sediar uma Copa do Mundo ? Um outro argumento usado para realização desse evento no nosso país, seria que com ele o número de empregos iria crescer, e o turismo iria dar uma acelerada. O que adianta ter um número maior de vagas disponíveis, se não há mão de obra qualificada, um fato pior ainda é que junto com esses empregos, ganhamos de brinde o retorno da inflação. Sobre o turismo, o Brasil é uns dos países mais lindos do mundo,por exemplo quem não quer conhecer as belas prais do nordeste brasileiro? E por ai vai! Pensando dentro desses conceitos utilitaristas, dentro da ética da virtude ou mesmo a deontológica. Acredito que antes de querermos realizar uma Copa do Mundo dentro do território brasileiro, deveríamos nos preocupar em tratarmos o nosso problema grave que é fome e a miséria em nosso país, assim como combater a corrupção e o tráfico de drogas, investir mais na saúde e educação. Já que estamos investindo em infraestrutura, por que não tratar as questões de saneamento básico por esse país a fora. Poderia ficar aqui citando vários problemas graves que deveríamos nos preocupar acima de tudo, antes de qualquer coisa . Ou seja, em vez de diminuir o sofrimento de muito brasileiros, estamos praticamente fazendo que eles sofram mais com a realização desse evento. Quero aqui dizer que mais uma vez agirmos imoralmente com a nossa nação ao deixarmos que esse evento fosse realizado em nosso solo. Sendo assim mais uma vez fazemos descaso sobre a questão da fome e miséria nesse país.
Mauro Henrique Soares Aniceto

Vampirismo econômico

16 de maio de 2012 | 3h 03

Rolf Kuntz - 
O Estado de S.Paulo
 
Quatro países sul-americanos cresceram bem mais que o Brasil, no ano passado, com taxas de inflação muito menores. Resultados melhores que os brasileiros foram alcançados também por economias emergentes da Europa. No Brasil, empresários desconhecem ou menosprezam esses dados e se mostram dispostos, mais uma vez, a embarcar na aventura de "um pouco mais de inflação" para conseguir um pouco mais de crescimento - como se prosperidade e estabilidade fossem objetivos incompatíveis. Segundo um representante da indústria, o governo tem de bancar o risco inflacionário gerado pela alta do dólar para garantir mais atividade e preservar a produção nacional. Opiniões desse tipo têm aparecido com frequência e são um complemento previsível dos apelos por mais protecionismo e mais intervenções paternalistas (ou maternalistas) do governo. O filme é conhecido: a história inclui produtos vagabundos e caros para consumidores desprotegidos, inflação alta, desemprego estrutural e crises periódicas de balanço de pagamentos. A segurança criada pelas barreiras é tão enganadora quanto injusta.
Em 2011, a inflação média do Brasil chegou a 6,6%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7%. Estes são os números de alguns latino-americanos administrados com maturidade: Colômbia, 3,4% de inflação e 5,9% de crescimento; Peru, 3,4% e 6,9%; Chile, 3,3% e 5,9%; Equador, 4,5% e 7,8%. Alguns europeus conseguiram, apesar da crise regional, combinar expansão e estabilidade: Polônia, 4,3% de inflação e 4,3% de aumento do PIB; Lituânia, 4,1% e 5,9%; Turquia, 6,5% e 8,5%.
A conversa sobre inflação intensificou-se nos últimos dias, quando o dólar passou de R$ 1,90 e rapidamente se aproximou de R$ 2,00. Alguns economistas logo chamaram a atenção para o possível efeito inflacionário do câmbio desvalorizado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou pouca ou nenhuma preocupação com esse risco e preferiu dar ênfase ao efeito benéfico da variação cambial. Dólar mais caro significa maior poder de competição para o produtor brasileiro. A discussão é um tanto vaga, neste momento, porque ninguém pode dizer com segurança como será o câmbio dentro de alguns meses, se a crise europeia amainar, os investidores se acalmarem e a procura de ativos em dólares ficar menos intensa. Falta saber, além disso, como estará a relação entre os juros brasileiros e os ganhos proporcionados por outras aplicações. Vários analistas mantêm a aposta numa acomodação do câmbio em cerca de R$ 1,85 por dólar.
Enquanto os especialistas tentam projetar a cotação da moeda americana, empresários festejam a depreciação do real, em coro com o ministro Mantega e sua chefe. Segundo o ministro, ele, "a torcida do Flamengo e a do Fluminense" estão satisfeitos com o câmbio atual. Além disso, a presidente Dilma Rousseff mostra-se preocupada com a competitividade da indústria, não com o dólar mais caro, acrescentou.
Mas a pressão inflacionária é apenas um dos possíveis efeitos indesejáveis da depreciação cambial. Pode-se atenuar esse efeito com a moderação do gasto público e uma gestão prudente do crédito. Surto inflacionário por causa do câmbio não é fatalidade, exceto em ambiente de tolerância. É o risco brasileiro.
A depreciação do real pode ser acompanhada também de efeitos perigosos na gestão da economia. Durante décadas, no Brasil, o câmbio desvalorizado serviu para disfarçar uma porção de ineficiências tanto das empresas quanto do ambiente econômico. As exportações avançavam muito devagar e o Brasil era insignificante no mercado internacional. Mas o câmbio depreciado funcionava como um energético, a indústria era protegida por enormes barreiras e os consumidores eram explorados sem perceber claramente a patifaria. O controle represava os preços internos e a indexação enganava assalariados e pequenos poupadores. Pouca gente contestava a aliança entre o governo voluntarista e balofo e os favoritos da corte.
Alguns itens desse roteiro talvez estejam descartados, mas o voluntarismo, o protecionismo, a ineficiência do governo, o intervencionismo e a engorda do setor público são cada vez mais sensíveis. Sem compromisso com a reforma do péssimo sistema tributário, o governo se limita a remendos. Sua incompetência gerencial se reflete na incapacidade de conduzir programas e projetos para o aumento da produtividade geral do País. De vez em quando, empresários cobram reformas relevantes. Mas brigam a maior parte do tempo pela redução dos juros e pela correção do câmbio, como se isso resolvesse os problemas de competitividade. Obviamente não resolve. Quanto ao voluntarismo, será bem-vindo enquanto resultar em domesticação do Banco Central, reserva de mercado e formas variadas de protecionismo. O passado, em alguns países, é tão difícil de enterrar quanto um vampiro.

A festa das importações

13 de junho de 2012 | 3h 05
 
Rolf Kuntz - 
 
O Estado de S.Paulo
 
Exportações empacadas, importações em alta, demissões na indústria e consumo bem maior que no ano passado: esses dados são oficiais, mas o governo parece ignorá-los e por isso insiste num diagnóstico falho e numa terapia errada para os problemas de crescimento da economia brasileira. A política federal continua dando prioridade ao consumo, como se a retração dos consumidores fosse o grande entrave à expansão do Produto Interno Bruto (PIB), agora estimada em 2,5% pelos analistas do setor financeiro e de consultorias e em 2,9% pelos economistas do Banco Mundial (Bird). Os dados apontam claramente problemas do lado da oferta, prejudicada por uma porção de ineficiências e custos absurdos. Ministros admitem esses problemas, ocasionalmente, e a presidente Dilma Rousseff, de vez em quando, menciona alguns componentes do custo Brasil, mas sem jamais formular uma estratégia coerente e suficientemente audaciosa para aumentar o potencial de crescimento do País.
Em março, o volume de vendas do comércio varejista foi 0,2% maior que o do mês anterior e 12,5% superior ao de um ano antes. No primeiro trimestre, o varejo vendeu 10,3% mais que no mesmo período de 2011. A expansão acumulada em 12 meses foi de 7,5%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a mesma fonte, o emprego industrial diminuiu 0,3% de março para abril. A comparação com abril do ano passado mostrou um recuo de 1,4%, sétimo resultado negativo nesse tipo de avaliação. Se o governo desse mais atenção ao descompasso entre a evolução do consumo e a do emprego industrial, talvez se dispusesse a rever seu diagnóstico. Mas esses dados parecem causar pouco efeito em Brasília. Curiosamente, a combinação desses números com os do comércio exterior também parece despertar pouco interesse entre os formuladores da política econômica. Mas o resultado dessa combinação parece bastante claro para justificar uma revisão da estratégia de crescimento seguida até agora.
Do início de janeiro até a segunda semana de junho, o Brasil exportou mercadorias no valor de US$ 102,9 bilhões e gastou US$ 96,9 bilhões com produtos importados. A receita comercial foi 0,4% menor que a de igual período de 2011, pela média dos dias úteis. Pelo mesmo critério, a despesa foi 5,3% maior e o superávit, 42,8% menor. Até o fim de maio a evolução havia sido um pouco menos ruim, com exportações 1,5% maiores que as de um ano antes e importações 4,4% superiores às dos primeiros cinco meses de 2011. Mas, no essencial, o cenário era o mesmo, com vendas externas estagnadas e compras em clara expansão.
Esse descompasso ajuda a entender o contraste entre a evolução do consumo no mercado interno e o desempenho da indústria. Os brasileiros continuam comprando e, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Associação Comercial de São Paulo, os consumidores se mostram mais confiantes do que em maio do ano passado. Para 51% dos entrevistados, a situação financeira atual é boa e para 59% deve melhorar. Um ano antes, essas avaliações haviam sido apresentadas por 47% e 51% das pessoas ouvidas pelos pesquisadores.
O otimismo dos entrevistados, dirão alguns, pode refletir um erro de avaliação. Talvez, mas eles continuam comprando e mostram disposição de ir novamente às lojas nos próximos meses, até porque a situação geral do emprego ainda é boa. Houve ganhos de renda nos últimos anos e há crédito suficiente. A indústria brasileira, no entanto, desfruta limitadamente dessa festa, enquanto os produtores estrangeiros ocupam fatias crescentes do mercado. Isso já foi mostrado em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre a participação crescente dos importados no consumo interno: 22%, nos quatro trimestres encerrados em março deste ano, recorde da série iniciada em 1996. O levantamento incluiu tanto produtos finais quanto insumos processados no Brasil.
A presidente Dilma Rousseff insiste em cuidar do crescimento da indústria com medidas protecionistas, políticas de preferência a componentes nacionais e pressões para redução de juros. Já fala menos sobre a valorização cambial, um de seus temas prediletos, por muito tempo, nos eventos internacionais.
Mas o governo faz muito pouco para cuidar dos custos e das ineficiências mais importantes, limitando-se à política de pequenos remendos. A presidente já deixou clara a disposição de promover apenas mudanças limitadas no sistema tributário. Uma reforma séria e penosamente negociada com os governadores continua fora da agenda. Também fora da pauta permanece um esforço mais sério para eliminar o atraso nos investimentos em infraestrutura. É mais fácil discursar e inflar os números com os financiamentos habitacionais.