segunda-feira, 24 de março de 2008

Mierda, no. Poca mierda”

Janio Lopo

Editor de Política
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Matéria do jornalista Luciano Reis Porto, no blog Pimenta na Muqueca, confirma que somos, verdadeiramente, na visão dos espanhóis, “ um país de mierda.” Até bem pouco tempo, eles nos aprisionavam e nos deportavam a partir das dependências de seus aeroportos. Em alguns casos, davam-nos pontapés na bunda ainda quando estávamos dentro do avião.
O vexame era localizado. Agora, não. A perseguição a brasileiro, como se persegue cachorro com raiva, passou a ser em locais públicos. Óbvio que as nossas autoridades de Brasília não sabem de nada. Primeiro, porque representações diplomáticas brasileiras na Espanha (e na maioria dos outros países) servem apenas para participar de eventos sociais. Segundo, parece que a assessoria do presidente Lula (e o próprio) fazem questão de não ler jornais, pois dão trabalho e só trazem notícias ruim do ponto do vista do Planalto. Tudo bem, já começo a me acostumar que o meu país é mesmo um país de “mierda”, como já nos rotularam os espanhóis. Pô, mas pelo menos que eles dêem menos ênfase a expressão e passem a nos considerar um país de pouca” mierda”. Leia o material produzido por Porto:
“Como se sabe, a Espanha recrudesceu o seu controle sobre os brasileiros que chegam ao país. Já é mais de 1.000 o número de barrados no Aeroporto Internacional de Barajas (Madri) nestes três primeiros meses do ano. É mais de um terço dos retidos em todo o ano de 2007 - algo em torno de 3.000 pessoas, segundo o Consulado Geral do Brasil em Madri.
Mas, como se não bastassem o extremado e injustificável endurecimento das autoridades espanholas, os reiterados relatos de vexações, humilhações, maus-tratos; como se não bastasse a ocorrência de situações que beiram ao cárcere privado, uma vez que pessoas estão passando horas e horas trancadas, sem comunicação e sem comida e água...agora parece que começou uma verdadeira caça às bruxas!
Na noite do último dia 17 de março, autoridades do serviço de imigração, acompanhadas por uma dezena de policiais armados de metralhadora, foram à porta da Sala Macumba, em Madri, local do show dos cantores brasileiros Edson e Hudson, passar em revista todo e qualquer brasileiro que adentrava no recinto. Exigiam, sob pena de detenção, a apresentação de documentos.
As pessoas, extremamente constrangidas, foram obrigadas a passar longo tempo nas filas, sob o frio, e se submeterem a mais esse ato vexatório.
Sabendo que esse tipo de controle não é rotina, paira já entre os brasileiros uma certa sensação de medo e insegurança: o que era supostamente apenas rigidez no combate à imigração legal, parece ter se convertido em intimidação, em intolerância, em perseguição e ameaça para com um coletivo específico de imigrantes.
E o que é pior: tudo isso está aparecendo e se revelando como uma política de Estado. O caráter oficial dessas ações é o mais preocupante. Não é possível dizer em que medida isso é ou não retaliação ao Brasil, em virtude da decisão do governo de aplicar o princípio da reciprocidade no tratamento dos espanhóis que chegam ao nosso território. Se for, estamos, mais uma vez, diante de um fato que não se ajusta às boas relações que Espanha e Brasil sempre tiveram, relações essas baseadas no respeito à soberania e livres de ranços imperialistas ou colonialistas.
De qualquer forma, urge ações concretas por parte do governo brasileiro a fim de restabelecer a normalidade dessa situação”.