segunda-feira, 26 de julho de 2010

Silvester Stallone não falou à toa

ALEX FERRAZ

Diante das já superdivulgadas declarações de Silvester Stallone sobre o Brasil (onde rodou recentemente um filme), afirmando que os brasileiros não estão nem aí “se você explodir o país, e ainda lhe dão frutas e macacos de brinde”, uma comoção nacional. Imprensa, intelectuais, empresários, gente do povo, todo mundo revoltado, achando uma “ofensa” ao País. Eu, mesmo correndo o risco de ser execrado por alguns (ou muitos!), devo dizer que concordo com o significado mais profundo do que disse Stallone. Se depender de mim, ele não “está alone”. Vejamos: no mesmo dia em que explodiram as declarações do ator/diretor norte-americano, ouvi e li nos meios de comunicação que o pai e o irmão do sujeito que atropelou e matou o filho de Cissa Guimarães, fazendo pega dentro de um túnel fechado, tentaram esconder o carro e consertá-lo às pressas, para encobrir o crime; ao prestarem depoimento, eles denunciaram que tinham sido chantageados pelo PMs que flagraram o acidente, que lhes cobraram 10 mil reais para liberar o carro, o que foi feito. Mas o pai desistiu de pagar o restante (na hora, tinha apenas R$ 1 mil) quando soube que o morto era filho de gente famosa (se fosse um neguinho da favela, tudo rolaria numa boa).
Neste mesmo dia, fico sabendo, via TV, que, entre outras pessoas e patentes, foram presos um coronel, um capitão e um tenente do Corpo de Bombeiros, em Alagoas, por desvio dos donativos para as vítimas de catástrofes climáticas recentes; mais adiante, ouço que os referidos desabrigados do Norte continuam mais desabrigados do que nunca, neste país onde se paga o maior imposto do mundo; outra notícia me diz que, em São Paulo, o militar que pilotava um jet ski com o qual bateu em outro, matando uma adolescente, pagou R$ 700 de fiança e foi embora da delegacia para onde fora levado; e. na Tribuna de sábado, leio que o indivíduo que matou um travesti com quem vivia disse estar tranquilo “porque não devo nada a ninguém”.
Aí, o cenário: diante de tudo isso - mais filas em hospitais, educação ruim, buraqueira, miséria total, inclusive no entorno do Palácio do Planalto -, a população só se emociona com futebol. Ou seja, o país vem sendo explodido há décadas, quiçá séculos, por ume elite dominante burra, fútil e perversa, e o povão, se não oferece frutas e macacos a quem os explode aqui, mantém-se distante de tudo e até ameaça quem proponha ouvir o noticiário sério e analisá-lo, em vez de ficar grudado no Globo Esporte e afins. Pois é: Stallone tem ou não tem razão? Ah, vamos deixar de hipocrisia!

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