sexta-feira, 16 de março de 2012

Deus: um agiota severo


Sempre compreendi a importância e a cobrança do dízimo por parte das igrejas. Sei também que há uma justificativa bíblica para sua existência e obediência. No entanto, o que me chama a atenção é a ferocidade com que as mais variadas religiões e igrejas o cobram.

É o dinheiro arrecadado a partir do recolhimento do dízimo e de outras doações – dinheiro esse livre de impostos, na maioria dos casos – que permite a manutenção e construção de novos templos, a implantação de serviços comunitários, o patrocínio de atividades de catequese e outras coisas mais. Não duvido disso.

Mas a mercantilização da fé é realmente constrangedora: é comum ver os mais variados pregadores cobrarem de maneira embaraçosa a seus fiéis, atribuindo-lhes culpa quando as arrecadações são miúdas, no que se lhes impõem os malogros do grupo religioso a que pertencem, bem como os de sua vida pessoal. Quem nunca ouviu um pregador dizer que a vida de um sujeito anda mal porque ele não observa as leis de Deus e não recolhe o dízimo como deveria?

É esse jogo de mercado, essa cobrança dura e mesquinha que me faz pensar que as religiões apresentam Deus como um agiota severo e sem compaixão. Se as pessoas querem felicidade, bons empregos, sucesso, saúde e amor, paguem o dízimo, “contribuam com a obra de Deus”. E se essas benesses não vêm, é porque faltou fé e, claro, “generosidade” no pagamento do dízimo.

Pelo jeito, Deus não faz nada de graça.

Já ouvi absurdos como “já temos o dinheiro para a reforma de nossa igreja e ele está no bolso de cada um de vocês” ou ainda “se você recolhesse o dízimo direitinho, essas coisas não aconteceriam”. Há pregadores que se comportam como os cães de aluguel divinos.

Obviamente, o dízimo é um oferecimento feito pelo seguidor de uma religião por sua própria vontade, ainda que seja constantemente impelido a fazê-lo, às vezes de maneira constrangedora.

Mas me pergunto se é mesmo necessário mercantilizar tudo, estabelecer preços para quaisquer obras: batismo a 45 reais, casamentos a 100, 10% da receita bruta, venda de missas, terrenos no céu, fogueiras santas, estabelecimento de metas comerciais, quermesses, festas de arrecadação, shows gospel, louvores e retiros pagos, etc. Há preço, cobrança e lucro em cima dessas atividades. Lucro, essencialmente. E dever às igrejas é um risco, porque a cobrança é deveras pesada e o cobrador muito poderoso.

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