segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DINHEIRO VINDO DO NADA


Capítulo 41 - yakaa

O ibu tem boa índole, simpática e carente de amor, ou é briguento, fechado, violento? Será que só é agressivo porque o pesadelo do trabalho e da repressão o deixou invejoso, frustrado e irritável? Pode ser que sim. E ainda podem existir também ciúme, orgulho ofendido, destrutividade, antipatia, luxúria e assassinato, megalomania, obstinação, agressividade, explosões de raiva, delírios, Não dá para deixar de fora essas possibilidades. Por isso a yaka é necessária ao bolo’bolo.

A yaka torna possíveis as querelas, disputas, lutas e guerras.19 Tédio, tristes histórias de amor, loucura, misantropia, decepções, conflitos acerca de honra e de estilo de vida e até mesmo o êxtase podem levar a yakas. Elas podem acontecer entre:

ibus e bolos
bolos e bolos
tegas e ibus
bolos e vudos
ibus e sumis
vudos e sumis
etc.

Como outras formas de troca (neste caso, de violência física), as yakas (lutas) podem ser regulamentadas por certos acordos comuns, de modo a limitar o risco e o perigo. Ajudar os ibus e os bolos a manter o código da yaka será uma das tarefas das assembléias de bairro e de comarcas:

um desafio formal deve ocorrer na presença de ao menos duas testemunhas;
um desafio sempre pode ser recusado;
as respectivas assembléias (yaka-comitês de bolos, bairros, comarcas, etc.) devem ser convidadas a tentar a reconciliação;
a escolha das armas e da hora do duelo cabe ao desafiado;
o tipo de armadura é parte da arma;
o duelo deve ocorrer na presença de uma delegação dos respectivos comitês;
o respectivo yaka-comitê providencia as armas para ambas as partes;
assim que uma das partes se declara vencida, a luta cessa;
armas cujo alcance é maior do que a capacidade de ver o branco do olho do inimigo são proibidas (cerca de 100 jardas);
somente armas mecânicas (o corpo, bastões, maças, espadas, fundas, lanças, flechas, machados, pedras) são permitidas; nada de revólveres, venenos, granadas, fogo, etc.20

Os comitês de duelo arrumam as armas e o campo de batalha, organizam árbitros (armados, se preciso), cuidam de transportar e medicar os feridos ou moribundos, protegem os espectadores, animais, plantas, etc.

Se comunidades maiores (bolos, bairros, comarcas, etc.) entram em luta, os respectivos comitês de duelo podem ser obrigados a consideráveis esforços. Os danos causados pelas lutas devem ser reparados pelos desafiantes, mesmo em caso de vitória. Os duelos quase nunca estarão ligados a vantagens materiais para os vencedores, já que são muito caros e as partes são obrigadas a viver juntas depois. Assim, a maioria das motivações para duelos estaria no campo das contradições emocionais, culturais ou pessoais. Eles podem servir para aumentar ou diminuir a reputação de uma pessoa (munu). (No caso de prevalecerem as ideologias não-violentas, diminuir.)

É impossível predizer quão freqüentes, violentas e extensas serão as yakas. Elas são um fenômeno cultural, uma forma de comunicação e interação. Já que envolvem muitas desvantagens sociais e materiais (feridas, danos, reputações arruinadas), provam que são a exceção. Duelos e lutas não são jogos, e não podem simplesmente significar a representação ou sublimação da agressividade – não podem ser considerados um tipo de terapia; são riscos sérios e reais. É até mesmo possível que certas identidades culturais tenham que morrer sem lutas periódicas ou permanentes. A violência continua, mas não necessariamente a história.


fim

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