terça-feira, 1 de abril de 2014

1964 0 ano que não acabou

1964: O ano que não terminou

A ditadura acabou há 35 anos. Seu legado continua presente na economia, na política, na educação, nas grandes obras...

COM GUILHERME EVELIN, LEANDRO LOYOLA, MARCELO MOURA, MARCOS CORONATO, RUAN DE SOUSA GABRIEL E VINICIUS GORCZESKI
28/03/2014 23h04 - Atualizado em 28/03/2014 23h28
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Capa home - edição 826 (Foto: reprodução)
>> Reportagem da edição especial de ÉPOCA desta semana
Em 15 de novembro de 1939, 50 anos após a quartelada que derrubou o Império, a primeira página do então principal jornal do país, O Estado de S.Paulo, não publicou uma única linha a respeito das cinco décadas da República proclamada pelo marechal Deodoro da Fonseca, em 1889. No Rio de Janeiro, a capital da República, a primeira página de O Globo estampou uma foto do ditador Getúlio Vargas num ato alusivo ao cinquentenário, com uma manchete anódina: “Honra aos ideaes de 1889”. Em outubro de 1980, mês do cinquentenário da revolução que pôs fim à República Velha, os editores de O Globo avaliaram que o assunto não merecia espaço em suas páginas. O Estadão publicou uma série de reportagens, com entrevistas de revolucionários de 1930 que continuavam vivos. Em 3 de outubro de 1980, a Folha de S. Paulo fez uma menção ao cinquentenário na primeira página, deu um editorial, um artigo na seção “Tendências e Debates” e promoveu um evento sobre a data. Nada transpirava polêmica.
Cinquenta anos depois que as tropas comandadas pelo general Olympio Mourão Filho deixaram Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro para apear o presidente João Goulart do poder, o golpe de 1964 continua a ser divisivo. A observação foi feita pelo jornalista Elio Gaspari, autor de As ilusões armadas (editora Intrínseca), série de livros sobre a ditadura que traz a melhor reconstituição histórica do regime autoritário instaurado em 1964. Desde o últimofim de semana, os jornais vêm publicando caudalosas edições especiais sobre a data, com minuciosas rememorações do período, entrevistas e artigos com as mais variadas versões. Novos livros sobre o golpe, sobre Jango, sobre militares no poder e sobre as arbitrariedades da ditadura contam-se às dezenas. Há espaço até para revelações sobre as circunstâncias em que personagens perseguidos pela ditadura desapareceram ou foram torturados. O assunto transbordou para as ruas. Houve marcha de defensores do golpe, que atribuem aos militares as virtude de ter nos livrado do comunismo – e outras marchas de caráter antagônico, formadas por gente que repudia o golpe e as ideias de quem caminhava do outro lado da rua.
Essa comoção diz algo a respeito de como aqueles anos que antecederam e se seguiram ao golpe de 1964 foram conturbados na política brasileira. Muitas das questões do período continuam a render polêmicas acesas. Jango era um presidente despreparado para o cargo ou um reformista interessado em atenuar as contradições sociais brasileiras, torpedeado pelo conservadorismo nacional? O golpe nasceu nos Estados Unidos, por causa da Guerra Fria então em curso contra a União Soviética, ou foi obra de brasileiros? A tortura dos adversários da ditadura foi obra de grupos radicais das Forças Armadas que agiam com autonomia ou era uma política de Estado? 
 

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