sábado, 12 de abril de 2014

 são analfabetos funcionais, gente que não consegue entender direito o que lê num texto simples, não sabe enunciar números com mais de quatro ou cinco algarismos e não tem noções elementares de proporcionalidade.
Outros 40%, como dizem educadamente os técnicos em pedagogia, têm apenas um nível "básico" de alfabetização – são aquilo que os leigos chamam de "semianalfabetos". Tira daqui, põe ali, e o que se tem de concreto, goste-se ou não, é o seguinte: não mais que 30% dos habitantes da cidade-sucesso do Brasil são realmente alfabetizados – e podem, assim, se qualificar como cidadãos plenos deste país. Numa sociedade em que a verdadeira divisão de classes está entre os que; têm conhecimento e os que não têm, 70% estão condenados desde já, em grau maior ou menor, a ficar no bloco dos perdedores. Não existe, simplesmente, uma única cidade ou região no Primeiro Mundo onde 70% da população tenha instrução suficiente para executar apenas as tarefas mais simples – e também as mais penosas, mal remuneradas e sem esperanças de melhora. No Brasil, que pretende no momento dar lições de desenvolvimento e avanço social ao resto do mundo, a cidade-símbolo do nosso progresso aceita passivamente viver nessa indigência. Não chegará nunca, desse jeito, aonde tem de chegar; continuaremos, como de costume, a ter uma das dez maiores economias do mundo e ficar ali pelo centésimo lugar em termos de bem-estar real para a população.

Os dados mais recentes sobre a situação desesperadora da educação na mais bem-sucedida cidade do interior paulista estão numa pesquisa da Federação das Entidades Assistenciais de Campinas, e o quadro geral que mostram é ainda mais feio. Um em cada cinco jovens na faixa dos 18 aos 24 anos já é chefe de família, e de toda a população do município com essa idade 60% não estudam – só metade deles, por sinal, chegou a concluir o ensino médio. Não é preciso ter um diploma de sociologia para concluir que muito pouca gente, aí, está a caminho da prosperidade. Mais da metade dos campineiros entre 18 e 24 anos vive em famílias com uma renda per capita que não passa de dois salários mínimos; ou seja, a moçada que está trabalhando em Campinas largou o estudo por uma pura e simples questão de sobrevivência, e não para ganhar uma fortuna como banqueiros de investimento. Em vez de estarem acumulando conhecimento em cursos superiores, como deveria ser a regra para quem vive nessa idade, estão precisando trabalhar em empregos de baixa qualidade para ganhar o seu sustento, e em muitos casos o das famílias que já chefiam.
Gente que deixou o tempo passar e não se qualificou, a cada dia que passa, mais longe ficam de aprender as habilidades indispensáveis para entrarem num mercado de trabalho agressivamente tecnológico como o de hoje e, mais ainda, de amanhã.
Eles não terão os mesmos direitos que os outros, que neste momento já estão muito à frente deles, pelo simples motivo de que não terão as mesmas oportunidades. Para a grande maioria deles, estará fechado o acesso ao que em geral se considera as coisas materiais mais compensadoras da vida. Vão ter empregos, em vez de carreiras – isso para os que conseguirem se empregar.
Não deve surpreender a ninguém, é claro, que no último grande balanço da educação mundial para a garotada na faixa dos 15 anos, o Pisa de 2012 feito pela OCDE, organismo internacional que reúne as maiores economias do mundo, o Brasil tenha ficado em 575 lugar, num total de 65 países avaliados – pior que isso, só mesmo pegando o último. (Como houve uma melhora na nota brasileira em matemática, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, determinou que o teste foi "um grande sucesso" para o Brasil. Aliás, ele já garantiu que a educação brasileira vai tão bem que terá tempo de sobra para participar da campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.) Existe bem mais, nisso tudo, que uma calamidade estatística. Os números de Campinas, por si sós – Deus sabe como os do Brasil, tomado por inteiro, são ainda piores –, servem como pista segura para mostrar a sombria realidade de uma turma que não tem futuro. Antes de completarem 25 anos de idade, já está definido para todos aqueles jovens, salvo exceções, que serão cidadãos de segunda classe até o fim de sua vida.

Eles não terão os mesmos direitos que os outros, que neste momento já estão muito à frente deles, pelo simples motivo de que não terão as mesmas oportunidades. Para a grande maioria deles, estará fechado o acesso ao que em geral se considera as coisas materiais mais compensadoras da vida. Vão ter empregos, em vez de carreiras – isso para os que conseguirem se empregar.

Nenhum comentário: