terça-feira, 25 de março de 2014

desaventurança

Desaventurança


IV
O dia estava nublado, um tom de chumbo cobria todo o céu, ela olhava para o alto como se tentasse lembrar algo que lhe pudesse dar alguma esperança. Nada era capaz de ativar suas recordações e um misto de temor e contentamento tomou conta do seu corpo ressequido e fraco. Trazia junto a si uma espécie de aljava e uma foice. E não se intimidou ao encarar a montanha que haveria de escalar, apenas, suspirou como um choro engasgado, contido e prosseguiu até chegar ao cume daquele derradeiro desafio.
A montanha era coberta de uma terra preta e fofa fazendo com que os passos daquela dura caminhada fossem menos dolorosos. Como se a natureza ofertasse sua parte no sacrifício. O céu, nesse momento, parecia mais perto e os olhos que já não sabiam mais chorar, derramaram uma lágrima que saiu quase como um grito e rolou pelo seu rosto até chegar ao solo. Com determinação segurou a foice e deu o primeiro golpe forte e sem remorsos. Toda montanha parecia gritar de dor e veio o segundo golpe, e assim, conseguira ferir a terra. Em silencio e com semblante decaído retirou da aljava algumas sementes que brilhavam como o sol e as enterrou ali. E nesse momento, seus sonhos saltaram, estavam todos eles bem na sua frente. Suas lembranças vieram como um relâmpago e explodiram em seu peito. Paulina, sentiu-se vazia de si mesma.
Simone Fernandes

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