sábado, 28 de novembro de 2009

Andando sem perigo na alta madrugada

Novembro/2008

Jolivaldo Freitas

Quem é de hoje não consegue entender ou visualizar uma Salvador, onde se podia andar nas ruas altas horas da madrugada ou mesmo dormir no banco da praça, caso perdesse o ônibus - pois ônibus só circulava até as dez da noite e quem perdesse só conseguiria outro às cinco da manhã , sem ser molestado, não sofrendo assalto ou qualquer tipo de agressão. Pelo contrário, tinha sempre alguém que encostava e perguntava se estava tudo bem, se precisava de alguma ajuda. Era uma cidade civilizada. Ladrão, quando tinha, era ladrão de galinha e todo mundo sabia o nome. Somente as fofoqueiras de plantão, que madrugavam para tomar conta da vida dos outros é que infernizavam. Lembro de seo Callado chegando em casa com o sol raiando, se arrastando de bêbado e feliz, levando ramalhetes de flores, compradas nas Sete Portas, para dona Railda.
E as fofoqueiras dizendo:
- Coitada de dona Railda. Não merece um marido vagabundo e sem-vergonha assim.
Mas, ela chegava, recebia as flores, fingia contrariedade, tirava a roupa suada do marido e só Deus sabe o que acontecia depois. Ela estava sempre com um sorriso no rosto e nunca ligou para fofoca. Callado, hoje, fica pescando siri na Ribeira. Dona Railda já se foi, coitada. Mas foi numa boa.
Daí que a maior diversão para a garotada, nesta cidade que era uma imensa província, e para os marmanjos de todas as idades, era

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