quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O impopular FHC

qua, 25/11/09
por Paulo Moreira Leite |
categoria Geral

Um dos mistérios da pesquisa CNT/Sensus envolve a impopularidade de Fernando Henrique Cardoso. Conforme o levantamento, FHC virou um cabo eleitoral ao contrário: 49,3% dos eleitores dizem que não votarão em candidato recomendado por ele.

É uma informação intrigante, no mínimo. FHC é, de longe, o mais culto presidente que já governou o país. Depois de deixar o Planalto, no final de oito anos de governo, recebeu um tratamento nobre de amigos e aliados. Obteve ajuda para montar o instituto que leva seu nome. Escreve artigos regulares em dois dos principais jornais brasileiros. É sempre ouvido em questões relevantes, com uma autoridade que o país reserva a pouquíssimas personalidades, de qualquer área de atuação.

Como recorda a colunista Dora Kramer, os feitos do governo de Fernando Henrique “incluem um plano economico que acabou com a inflação, estabilizou a moeda, ajustou as contas públicas, pôs o Brasil no rol do mundo e, só para citar o efeito mais vistoso das privatizações, universalizou o acesso à telefonia e viabilizou o acesso à internet.”

Mesmo assim, FHC tornou-se um perigo aos planos tucanos de retornar ao Planalto em 2010.

Por que?

Um pesquisador ligado ao PSDB recorda que a herança de FHC nunca foi defendida pelos próprios tucanos, pelo receio óbvio de serem prejudicados por ela. O país enfrentou duas campanhas presidenciais de 2002 para cá e, nessas duas oportunidades, ouvia-se apenas o discurso dos adversários de FHC. Seus herdeiros e aliados jamais se dignaram a defendê-lo, contribuindo para sedimentar um balanço negativo de seu governo.
Faz sentido. Em 2002, José Serra fez campanha como um candidato semi-oposicionista, que já fazia críticas à política econômica do governo ainda no período em que ela parecia dar certo. Em 2006, Geraldo Alckmin ficou afastado de FHC — em busca de votos, no segundo turno fez uma defesa improvisada e pouco crível de seu amor por empresas estatais.

Antes de lamentar a ingratidão dos concorrentes, contudo, cabe recordar que nossos políticos são motivados por espírito profissional e obedecem a técnicas clássicas de campanha.

Fernando Henrique foi um presidente popular no primeiro mandato. Teve muito mais dificuldade para aprovar o direito a um segundo mandato no Congresso do que para receber o voto da população em 1998. Mas os últimos quatro anos de governo acumularam diversos desastres.

O cambio fixo, que garantia a comida barata explodiu — e a vida dos mais pobres piorou. Um escandalo financeiro abriu um rombo no comando do Banco Central. A falta de energia impediu a retomada do crescimento quando ela parecia possível e o Brasil foi submetido a um ritual de racionamento, típico de países subdesenvolvidos. No último ano de governo, a inflação disparou, alimentada por um ambiente de receio e pequeno terror pela vitória de Lula — artificialmente alimentado por economistas influentes, ligados ao governo, que apostaram na insegurança como uma arma para derrotar o candidato do PT. Quando Lula tomou posse, a inflação estava em 12% ao ano — e a conta foi para o governo anterior.

O resultado é que a vida dos mais pobres piorou durante os oito anos de governo FHC. “Entre o começo do governo em 1995 e o fim do governo, em 2003, o salário perdeu poder de compra,” admite um assessor tucano. A pancadaria de duas eleições presidenciais em que foi atacado sem que nenhum aliado tivesse disposição para defendê-lo ajudou a derrubar o prestígio de FHC. Mas ele não tornou-se impopular em anos recentes. Já tinha um índice de aprovação ruim no final do segundo mandato. Os índices positivos ficavam em torno de 31%, os negativos chegavam a 25%. O saldo era positivo, mas mínimo — em torno de 6%.

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