terça-feira, 20 de novembro de 2012

ENQUANTO COLHIA AMORA-14


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como manter segredo de um namoro de dois jovens de 16 anos. Isso são coisas que o coração não pergunta e nem responde, deixa acontecer, os desejos estão acima de qualquer situação, até mesmo de riscos. Afinal quem disse que as emoções são racionais ?
Rosa também pensava como seria o primeiro beijo
e como a timidez seria vencida, como se encorajar. Ele morava no centro e ela num pequeno lote, fora do povoado, afastado da estrada e na outra margem do rio, de modo que para chegar lá, tinha que atravessar uma pinguela, claro, para quem não estava disposto a molhar os pés nas
águas rasas do Mirauna.   Estudava no Colégio Rural, próximo da ponte, mais afastado ainda do povoado, de modo que o povoado Vale do Ararí regulava como uma cidadezinha, com uma única rua comprida, e vários becos. O seu comercio era formado pôr botecos, três armazéns, uma padaria, uma farmácia que era um orgulho, com farmacêutico formado e sempre vestido a rigor, de paletó e gravata, procurado ate pôr moradores da sede e de outros municípios. Era comum desembarcar na estação ferroviária pacientes  em busca de socorro. A fama de Seo Felipe era grande , funcionava como  médico de família., sempre muito gentil ia
aonde precisassem dos seus cuidados.  
Aos sábados funcionava uma pequena feira livre, que puxava os moradores dos arredores para as compras. Nesse dia o povoado se agitava. O seu ponto mais importante era a
estação ferroviária. Cada trem que passava era uma atração. Pessoas até se arrumavam para na plataforma observar o movimento de embarque e desembarque, e até mesmo os diferentes rostos dos passageiros embarcados nos vagões de primeira e segunda classe   que seguiam adiante. Sem energia elétrica, as noites sem lua , era um breu, o que fazia todo povoado ficar deserto logo cedo. Afora as casas dos
mais remediados, que eram iluminadas com candeeiro de camisa, as demais, a grande maioria saiam da escuridão nas chamas de candeekos de pavio de algodão, com sua luz mais fraca que a de uma vela de sebo.
' Cidadezinha cheia de graça... Tão pequenina que até causa dó! Com seus burricos a pastar na praça... Sua igrejinha de uma torre só...
(Mario Quintana)
Tudo dificultava o relacionamento dos dois jovens, que bem nem havia começado. Se pelo menos fosse tempo de novenas, Jonas haveria de dar um
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jeito de chegar perto de Rosa, e uma oportunidade de tocá-la poderia surgir. Bem, agora era melhor esperar a noite passar. Enfiou-se na cama, demorou a pegar no sono, envolto em pensamentos e preocupações com o segredo do seu namoro. Perdia tempo, pois Wilson, o garoto mensageiro, quando passava na curva do sitio de D. Zefinha, parou e leu o bilhete, e assim ficou sabendo, primeiro que Jonas da resposta de Rosa. Se fosse só o fato de ele ficar sabendo primeiro, menos mal, o problema e que ele contou e pediu segredo a Zequinha, Roberto, Tônico e Zé Linaldo. Todos amigos de baba e banhos no pocinho. Wilson não sabe quem foi o traidor. suspeitou de todos, e todos negaram enquanto a noticia se espalhava sutilmente, chegando rapidamente aos ouvidos de D. Regina, mãe de Rosa.
- Rosa !
------ Oi, mãe !
------ Um passarinho passou por aqui, pousou bem perto
da janela e me contou que você tá namorando, namorando com Jonas. O passarinho mentiu ou cantou verdade?
Que situação ! seja tivesse, se abraçado, se beijado,
trocado caricias, valeria a pena, mas não, o namoro estava no ponto de partida. E essa historia de passarinho, quem teria sido e como a noticia havia chegado ao conhecimento de alguém. Ou Jonas num momento de loucura, saiu gritando por ai: "Rosa! Eu te amo"! "Rosa f eu te amo"! Se achou pretensiosa, o sentimento verdadeiro só com o tempo se estabeleceria, mas sem beijos, corre-corre pega-pega, não da pra saber.
---- O gato comeu sua língua?
---- Não, mãe, na verdade Jonas pediu pra namorar
comigo, eu aceitei, dei a resposta num bilhete, bilhete?Wilson! Inxerido!
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----- Ficou maluca menina?
----- Não mãe, mas a senhora não precisa se
preocupar, não fiz nada de errado, aliás o Jonas depois da resposta ainda nem chegou perto de mim.

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—Eu sei, minha filha! Mas se prepare porque Jucá já deve ter encontrado com o passarinho, e deve tá sabendo e começando a imaginar coisas . Seu pai é de paz, mas sempre esse assunto de namoro é melindroso, e nem eu nem ele se preparou para esse momento, aliás, só agora eu to reparando como você cresceu, e te enxergando como uma mocinha, e como você tá bonita! Bom, minha  filha, eu só posso lhe pedir que tenha juízo, quanto a Jonas, é mesmo um bom menino, filho de boa gente.
Enquanto isso Jonas, estava em casa e foi seu
irmão quem lhe deu a noticia. Tonho foi questionado sobre o namoro dele, por Basílio, que ficou sabendo por Zequinha, um dos amigos de Wilson.
----- Seu Jucá, quer falar com você! -brincou Tonho.
------ Comigo ? falar o que?
------ Deixa de ser besta, tá quase todo mundo sabendo.
você tá namorando com Rosa !
         Eu só falei pra namorar, mas depois disso ainda não
encontrei com ela. acho até que vou desistir.
------- Deixa de ser covarde! Desistir por Medo d* pai dela!
Mas eu to briBcaado, m*m sei se de já sabe. bus se «ao sabe. mão vai demorar muito, as mennas d» beco tão espahaado banJabo a •oticta. e num lugar pequeaocoaM» eâe. ateeocbiebo seespoJba.
------ Sacana!
------ Quem'
------ Esse Wilson, com aquela cara de
Qualquer assunto, interessava aquela gente, de
modo que, um simples romance de dois jovens era motivo de conversa entre moços e velhos, e enquanto não aparecesse um fato novo. nos pés de balcão e nos degraus da igreja, Jonas e Rosa seriam tema para os disse-me-disse

* O trem do pensamento da partida, deixa para trás a estação "adolescência"   volta veloz e para na estação "agora".
Jonas está debruçado na janela do seu quarto na cidade grande, já faz mais de um mês longe das amoreiras, enfim do Recanto Verde. Pensou  em não ficar muito tempo, sentia uma falta enorme do ar puro, da natureza plena e de  se encontrar com Deus.  Jonas sempre achou que ali era o melhor lugar.
...saiam do concreto e vão parado mato, porque
lá vão encontrar muitas respostas. O que me entristece na vida urbana é que a pessoa, o jovem se afasta do sagrado, cai no consumo e não tem saída...
.... O asfalto, o concreto, isso impede o ser humano, bicho-
homem, de receber determinadas emanações que vem das arvores, cachoeiras, de mato e canto de passarinho. Então , o que acontece? Isso cria na pessoa um vazio, uma saudade que muitas veies ela não sabe do que é.... ".
"....O remédio*é pisar na terra, é plantar, cavalgar, nadar em cachoeira, ver opor do sol.. ".
É isso mesmo, a lembrança de cada detalhe avançava sobre Jonas, e sua vida na cidade comparada com a do campo era diferente como o dia e a noite, e essa realidade deixava nele uma saudade extranha, um grande vazio, algo como a fome, um vazio que a alimentação não conseguia preencher.
Jonas  tenta reagir, mas na verdade esta
acometido por uma saudade , quase um sofrimento,  que ninguém pode avaliar.


"é possível dosar uma enzima, radiografar e medir um coração, isolar um vírus ou uma bactéria, mas não se pode medir o grau de tristeza ou de
sofrimento de alguém " (Marco Aurélio Dias)

Do quarto para a sala , abre o jornal e encontra mais saudades , na coluna do velho Junot Silveira:
"Calço minhas alpercatas de couro cru e meto o pé nos
caminhos do mundo. No chão de terra, das tortuosas veredas, e na pedra, no cascalho e no barro das largas estradas. Prefiro palmilhar o chão duro e seco, ou de lama e de poças d'água viscosas, a cobrir o asfalto.. ".
"O alforje no ombro, o facão na cintura, apele seca,
o andar firme sem cansaço e sem pressa, é assim que eu me vou. Atravesso os rios sem precisar de pontes e de canoas. Banho-me nos açudes com as suas baronesas, os meninos nus, pegando passarinho com visgueira, as piabas beliscando as carnes da gente, as mulheres virando a cara para não verem os homens sem roupa a beira d'água.. ".
"Enfio as alpercatas de couro cru nos pés e busco
esses caminhos desolados do sertão. Da terra crua e do homem sofrido. Do bode e do lagarto que mata a fome de muita gente, dos ninhos dejoão-de-barro cuidadosamente construídos no alto das arvores. Por remédio terei a
erva-cidreira, o mastruz, a caatinga-de-porco. E melhor do que tudo, a reza da benzedeira com o seu ramo de vassourinha, tirando mau olhado e quebranto... "

Ainda sentado no sofá, Jonas embarca no trem para tempos bem parecidos, e surgem boas lembranças e então ele viaja conversando com ele mesmo:

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