terça-feira, 20 de novembro de 2012

ENQUANTO COLHIA AMORAS-7


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                                 -----  Rosa !

                                 -----  Oi Jonas ! O que esta fazendo aqui ?

                                -----   Estava lhe esperando.

                                         Ainda meio encabulado, com a língua meia presa, Jonas foi em frente.

                               -----  Rosa! Eu acho você uma menina legal, venho observando apesar das poucas vezes que você vem à rua. Na verdade, no São João eu já fiquei com inveja de Milton, ele foi seu par, na quadrilha da rua de baixo. Mas o que eu quero falar mesmo, é perguntar se você quer namorar comigo ?.
                                        Rosa deu uma risadinha nervosa, e suspirou, tinha vontade de ter um namorado, não um namorado qualquer, queria uma pessoa que não tivesse a reprovação de seu pai e Jonas era um bom menino, comportado, educado mesmo, embora nunca tivesse avaliado a possibilidade de ele vir a ser seu namorado, ou talvez pôr achar, que ele não reparava nela. E agora, Jonas estava à sua frente, querendo namorar, como dar a resposta ?,  a timidez foi mais forte, e ela então resolveu ganhar tempo, fugir daquele momento inesperado, e mandar a resposta num bilhete.
                                   
                                                                
*

 O trem parte, deixando Jonas na sua adolescência aguardando a decisão de Rosa, e num piscar de olhos, freia e para num dia de verão rigoroso, ano de 1989.

                                       Jonas olhou para o céu completamente azul, nem uma frepazinha de nuvem, o sol escaldante, a terra com sede, estorricada. Tonho e Paulo imitavam seu gesto. Ainda bem que o vento, hora abafado, outra refrescante passava pôr ali.


                            ----- Verão como esse, eu só ouvi contar! - comentou Tonho.

                           -----  Eu também !  -- concordou Paulo.  

Jonas  assentiu com a cabeça..

                                   De repente, o sino da igreja badala vezes seguida.

                            ----- Pôr que ?  -- Paulo pergunta para Zé  Germano, que passa beirando a cerca, procurando se proteger em tudo que é planta com copa acima da sua cabeça.

                            ----- D. Maria Santeira, enlouqueceu?

                          
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----- Não!  é o pessoal de Mangabeira, Curralzinho, Boa Moita, de tudo que e lugar, até de Serra Fria, que resolveram rezar em procissão, pedir clemência a Deus!, pedir pra chover!.

                                    Para aquele povo, a ciência  da metrologia assumia uma orientação materialista, portanto conversa de fenômeno não lhes interessava, e todo aquele sofrimento com a seca devia ser castigo pelos pecados do povo, então só restava rezar, pedir perdão a Deus.
                                    Jonas, Tonho e Paulo, eram diferentes daquela gente. Nasceram todos pôr ali, mas hoje eram pequenos proprietários rural sem compromisso com as condições do  tempo para sobreviverem. Jonas, aposentado, escolheu seu sitio para tirar sua vida da ociosidade, mas principalmente pelo amor à natureza, adora mexer com a terra, semear, colher, tem ali uma vida realmente feliz. Tonho, é seu irmão e também ama aquele pedaço de chão, como Jonas, cuida , semeia e colhe principalmente alegria. Paulo é cunhado dos dois, correu mundo e voltou,  e na parte que coube  a sua esposa, realizou um sonho de 35 anos. Vivia pôr ali, trabalhando na propriedade rio seu pai, plantando principalmente mandioca. Sonhava com um laranjal, então trabalhou duro, transformou as raízes em farinha e vendeu. Com o dinheiro comprou mudas de laranjeiras, plantou, mas nunca colheu, a má qualidade dos enxertos fez com que o pomar não prosperasse. Agora sim, tem um belo laranjal, só pôr prazer, a realização de um sonho. Mas aquele povo, sofria mesmo.

A procissão se aproxima, a imagem de São José vem no andor carregado pôr Dermeval, Cosminho, Zé Correia e Manoel de Ló. Acompanhando, roceiros e suas mulheres, que apesar do calor vinham com o véu sobre a cabeça entoando uma reza, meio triste, parecendo ter sido feita para aquela ocasião. Algumas crianças também seguiam, e de tão quietas pareciam entender a gravidade da situação. Quem não seguia a procissão, corria para as janelas, beira da estrada, demonstrando no rosto um sinal de profundo respeito.
—Vamos subir pela Barra e descer pela Baixa da
Bananeira ! — informou Dominguinhos, um dos organizadores. £ lá se foi a procissão, se arrastando, como diz a música, e junto com ela . uma grande esperança.
E a resposta de São José ?,   só noutra viagem,
o trem do tempo já segue ligeiro e só vai parar depois do túnel dos sonhos na estação "futuro"
*
O que pretende Jonas nesta viagem?. A
humanidade, passageiros do tempo, na estação "agora", não está bem. Pensa nos passos dados em falso, orientados exclusivamente pôr uma visão  materialista, sabe que  os fatos  passados só admitem reflexões,  não voltam a acontecer, e o futuro não se pode  entrever.

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