segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ENQUANTO COLHIA AMORAS-2


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  Passado o tempo necessário Jonas se juntava a seu irmão,  seu primo Dí e amigos , aí decidiam o que fazer, do que brincar.  Dias não saiam do quintal, extenso, na verdade um pomar, noutros brincavam entre a linha férrea e o terreiro, as horas passavam e eles nem percebiam, até que acontecia o chamado para o almoço. Antes, um mergulho rápido no rio. Á tarde pegavam o caminho da escola, do outro lado da linha férrea, bem em frente de casa.
                                             Um dia, Dí trouxe uma notícia que assanhou a garotada da rua. O casal D. Gilmara, e Dr. Roberval havia chegado para mais uma temporada no Vale . Gente rica, proprietários de uma chácara com uma casa de primeira, bem no canto da rua de cima . Diziam que outra igual só  nas cidades grandes. D. Gilmara introduziu naquelas paragens um “baleiro”, financiou tudo para o filho do seu caseiro que desfilava pelas ruas sacudindo uma caixa de  “mentex”,   gritando:
                                        
                                            ----Baleiro o o o !

Na cesta uma variedade de doces e chocolates, bem diferente da frasqueira de bombons desenrolados meio amolecidos, melando nas prateleiras de Seu Manelito ou de Seu Nelson. Aníbal  só era diferente dos “baleiros’ de Salvador porque não usava “quepe”  nem camisa de manga comprida abotoada até o gogó. Jonas com uns trocados e de olho comprido esperava a hora da passagem daquele ambulante na rua do correio para comprar o que fosse possível e depois exibir e conferir o que os outros meninos  haviam comprado, mesmo que fosse só com os papéis, as embalagens  daquelas guloseimas. Certa vez, apareceu uns bombons péssimos, de açúcar puro, mas que dentro da embalagem trazia a reprodução de notas de dinheiro, os garotos faziam pressão e os pais esvaziavam os cantos, das gavetas, das cuias, das latas de leite vazias ou autorizavam comprar fiado. Tonho, irmão de Jonas carregava no bolso um volume de notas de causar inveja, era o garoto mais rico, tão rico que chegava a esbanjar. Comprou um cavalo de pau na mão de Dondoca, umas bolas-de-gude colorida na mão de Paulo Quirrim e até pagou para Dória ir buscar barro da oleria, argila  exelente para aqueles artesões reproduzir os bois e cavalos que pastavam na beira do rio. Tonho um dia fez uma cópia do, “Boi da seda” o componente mais importante da “junta” de seu Zezé..
                                 
                                                Mais do que passar uns dias no Vale do Ararí  Dr. Roberval e D. Gilmara se envolvia com  o seu povo, trazia animação, movimentação, alegria, uma pontinha de felicidade. No carnaval ela organizava blocos de mascarados, fornecia as serpentinas e confetes, coisas simples mais uma novidade interessante. No sábado de aleluia era o Dr Roberval que se movimentava na confecção do Judas, escrevia ele mesmo o testamento, os versos de brincadeiras bem humoradas com fatos e acontecimentos do povoado, coisa que ele só conseguia graças às reuniões no passeio alto da casa de Seu Caetano, onde acorria muitos personagens , todos contentes da proximidade com um homem rico, mais simples. Diziam que ele era dono de fazendas de cacau, alguns duvidavam, Ciriaco conhece um doutor rico que passa férias na beira da praia, e questiona  por que o Dr Roberval escolhe logo o Vale para descansar.

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