segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ENQUANTO COLHIA AMORAS-1


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        ENQUANTO COLHIA AMORAS



                                             Enquanto colhe amoras Jonas pensa...pensa na vida! Comportamento corriqueiro e inevitável... Debruçado na janela do passado ou do presente seus pensamentos agora só são interrompidos quando colhe nos galhos mais altos, retornam na tranqüilidade dos mais baixos. O tempo parece parar ali, embaixo da amoreira, e assim pensando resolveu viajar, então pegou o trem. 

                                           Quando jogava bola-de-gude ou mergulhava no rio Mirauna  não podia pensar como agora, o trem da sua vida estava apenas começando a viagem. Depois de tanto tempo e enquanto colhe  amoras o trem vai para o passado, volta para o presente e chega até no futuro. Pensamentos se manifestam em qualquer lugar, mas quando Jonas estiver longe dali, certamente vai continuar pensando, mas estará talvez no desconforto de uma saudade imensa.
                                   
                                            Agora  acaba de desembarcar na estação “infância” localizada ali mesmo no povoado do Vale do Ararí, onde preparou o sítio Recanto Verde, resultado de uma divisão por seis irmãos, de uma propriedade que seu pai sempre se negou a vender alegando pertencer aos filhos.

                                          O candeeiro solta fumaça que dança  pelo quarto, hora sobe em zigue-zague, outras numa só direção. O colchão de capim moldado a seu corpo é confortável, e o travesseiro de flores de macela acomoda sua cabeça e seus pequenos sonhos.

                                           As noites sempre passavam tranqüilas, e o amanhecer chegava, vezes com um cinturão de neblina que retardava os raios do sol.

Jonas sai de  debaixo do cobertor, abre a porta que dá para o quintal e dispara para beira do rio. Lava  o rosto e fica a observar a correnteza mansa seguindo uma viagem silenciosa e sem pressa.

                                         ----É através dela que o rio caminha !, ---assim lhe explicou seu tio Cazuzinha.
 
                                     ----Repare nas lagoas! Vivem paradas, não tem pernas, não tem correnteza...
  
                                           Ali ficava até que a sua mãe, D.Lígia, gritava:

                                        --- O cuscuz tá pronto!!!
                                              
                                            Corria entre o canavial direto para mesa, tomava seu café e obedecia a recomendação de Seu José.

                                     ----Deixa o café esfriar na barriga, se aqueta um pouquinho aí sentado.

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