terça-feira, 20 de novembro de 2012

ENQUANTO COLHIA AMORAS -11


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Jonas olha pela janela  e vê o trem do seu pensamento  passando por uma vegetação que abriga pássaros de todas as cores e de todos os cantos numa manhã cristalina e de muita alegria,  é o retorno  para sua infância.

10 anos sua idade,  era uma época especial,  final de ano, encerramento das provas, féria escolares à vista. Jonas aguardava ansioso o trem das  dez, aguardava mesmo por Veraldina, amiga da famílai escolhida para comprar em Lagoinha a capa do caderno de férias. Já imaginava as figuras coloridas de bichinhos e flores contornados com areia prateada. Mais quatro dias e teria o último de aula.
Tinha sonhos e metas, o problema era a realização, era experimentar as emoções disponíveis para sua idade. Sonhava  por exermplo viajar no trem   das sete para Salvador, passar toda férias lá, se não toda, até a saudade apertar. Era sempre assim, queria sair, mas quando saia sentia falta do quintal, do pocinho, do caminho dos araçás, aí, forçava o retorno, vinha de trem porque não podia voar.

Quando  completar 15 anos   Jonas   quer aprender a profissão de telegrafista, para isso tem que aprender  o código  “Morse” , seu pai já disse que vai pedir a Seo Calixto, chefe da  estação ferroviária para  aceitar  a participação dele no grupo que já freqüenta as aulas todas as manhãs na sala de telegráfo. Quem sabe mais tarde, seria Chefe de Estação. Achava bonito a farda caque com botões dourados, e o quepe com uma locomotiva bordada no emblema. A farda de gala então... toda branca onde os botões dourados apareciam mais e fazia do chefe uma figura destacada no meio daquele povo de vestimentas simples.

---------A ?  ponto e linha   B?  linha três pontos   C? linha ponto linha ponto...

              Jonas  decorando o código, todos os dias Seo Calixto verificava sua aprendizagem perguntando os sinais  correspondentes  de A a Z e de 1 a 10, não demorou muito e a aula então passou para o manipulador, aparelho que através de impulsos elétricos levava as mensagens para outras estações  ferroviárias. Jonas ali passou dois anos numa experiência  divertida, até se sentia mais um funcionário da Rede Ferroviária, pois participava de tudo, despachava mercadorias, vendia bilhetes e cumpria horário até noite   a dentro, esperando com a equipe  os trens noturnos que por ali passava exatamente à meia noite. Já se achava pronto para a função, só faltava idade. Sem ter mais o que  aprender, aos poucos foi se afastando, pela manhã estudava e pela tarde ia levando  aquela vida mansa, de dias intere3ssantes, nos banhos de rio, nos babas, nas reuniões no “pontilhão” grande, onde a conversa só era interrompida quando pelas mãos de D. Maria Santeira o sino da igreja badalava seis vezes, anunciando ao povoado a hora da Avé Maria.

                                 Jonas adorava sua vidinha no Vale, com 15 anos, seus sonhos comparados com sua rotina tinha sempre sua tolerância, sua paciência ou sua confiança do: “meu dia chegará”. Enquanto isso ainda era tempo de brincar se distrair. Tinha hábitos isolados, ninguém o acompanhava a passar uma tarde fora do povoado, na sombra de uma árvore, lendo e ouvindo músicas num radinho de pilhas, ou do quintal, passar horas a desenhar a paisagem das casinhas brancas no pé do morro, bem na mira da janela da cozinha da sua casa. Aos sábados sua vida
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mudava completamente, o movimento no povoado crescia, e o armazém do Seo Nelson ficava entupido de clientes  . Nesse dia trabalhavam o proprietário, sua esposa, uma filha e dois cacheiros, um deles era Tonho, seu irmão. Se  movimentavam no atendimento,mais ainda era pouco, então Jonas foi  convidado a trabalhar aos sábados. Recebia uns trocados que no domingo já havia acabado, consumido em pés de moleque, bolinhos e arroz doce. Às dez horas Seu Nelson lhe retirava do balcão, lhe entregava umas moedas e ele ia  aguardar o trem das dez para comprar um exemplar do jornal A TARDE, vendido no restaurante onde era atendido pôr um garçom, de gravata borboleta Como era vespertino, o jornal chegava ao Vale com a edição do dia anterior.
----- Restaurante dentro do trem! Que onda!
Tinha curiosidade, para saber como os pratos e copos se equilibravam com o balanço do trem. Sempre pensava nisso enquanto retornava para trás do balcão, quando acontecia de viajar, nunca ia ao restaurante.
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Na infância Jonas conviveu com o vai e vem dos trens, de passageiros e de carga, vagões curral levando da seca para o encharcado o gado magro, ou trazendo de volta depois da engorda, uma troca entre as regiões com climas diferentes. O curral de embarque e desembarque ficava bem pertinho da sua casa. Existiam as locomotivas movidas a óleo puxando os trens de passageiros. Após a locomotiva um vagão dividido em três compartimentos. O primeiro era dos Correios, a do meio era utilizado para acomodar pequenas mercadorias e que era chamado de bagageiro e a terceira era a sala do Chefe do Trem. Depois vinham dois ou três vagões de segunda classe com seus bancos de madeira, em seguida o restaurante e por fim as primeiras classes. Passaram naqueles tempos os trens de petróleo e marcou particularmente uma locomotiva de número 303, conduzida pelo maquinista Zé Penteado, um condutor veloz que gostava de imprimir velocidade e se identificar com o apito inconfudível que só os seus dedos na corda fina sabiam cadenciar. Quando de longe se ouvia o apito, tudo se afastava da beira da linha, bicho e gente, e ficavam observando, observando o tic-tac nos trilhos e encantados com a melodia do apito que ele conseguia fazer se espalhar pelos arredores.
O Vale do Arari tinha Agencia Postal e o pai de Jonas Seo José era quem administrava os serviços, postar e distribuir as correspondências, preparar os sacolões de lona,colocar lacres jogar nas costas e levar para estação ferroviária, esperar o trem, entregar uns e receber outros. Ibatuí, um povoado que ficava longe da via férrea, tinha Agencia Postal, as correspondências saiam e chegavam lá no lombo do cavalo de Seo Quintino, que cavalgava mata a dentro uniformizado de "estafeta "   a sua roupa caqui com o
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quepe lhe fazia parecer mais um policial. A agencia do Vale do Arari era quem intermediava os malotes de Ibatuí.
E o trem do pensamento começa a partir junto com o trem de ferro de verdade, deixando Jonas embrulhando açúcar, e medindo farinha, atendendo os fregueses , e ainda não tinha ganhado velocidade e começa a parar, no cenário romântico da estação "adolescência ".
Jonas tomou seu banho cedo, mergulhou feliz nas águas do Mirauna, deixando um ponto esbranquiçado pelas espumas de um sabonete "EucaloT', num ensaboamento exagerado, como se assim fixasse melhor o perfume no seu corpo. Os cuidados com sua aparência chamou a atenção de, Luizinha uma de suas irmãs, afinal era uma quarta-feira, não era feriado nem dia santo. Preferiu não dar explicações,  saindo deixando para traz o cheiro conhecido de um "Lancaster "a muito esquecido por trás de uma caixa de pó de arroz, num canto da penteadeira do seu quarto. Como não sabia pôr onde vinha a resposta de Rosa, optou pôr ficar no início da rua , sentado, solitário à sombra do pé de sucupira. O sol já se encaminhava para o entardecer, e no tempo de mais ou menos uma hora. apenas Seu Justino passou pôr ali, carregando uma garrafinha para encher de querosene, lá na praça da igreja, no armazém de Seu Manelito. Jonas continuou, pôr mais um tempo, e quando desiludido se preparava para ir para casa. um freio de bicicleta o fez continuar sentado, Wilson , um garoto vizinho de Rosa, vinha todas as tardes comprar pão, do que ela se aproveitou o fazendo seu mensageiro.
— Rosa mandou lhe entregar.
— Brigado, Wilson.
Não leu o bilhete ali, cuidou para que ficasse bem protegido no bolso da camisa, e disparou para casa. Respirou fundo, sentado nos degraus do final do corredor^abriu numa ansiedade desesperada.
Jonas..
\ . A minha resposta é sim.
Beijos,
Rosa.
f Agora Jonas estava numa alegria aberta, mas
alguma coisa o deixava confuso, como seria o primeiro encontro, e

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