quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Uma Bahia sofrida


JOLIVALDO FREITAS

Uma Bahia sofrida

Acho que foi ACM, o velho, quem acabou com a Secretaria de Comunicação do Município em tempos idos. Não tenho certeza. Acho que foi. Agora a história se repete com seu neto. Na Bahia tudo se repete. Mesmo com um verniz de modernidade. É como a música de Chico Buarque num arranjo Disco ou Jazz.
Sem brincadeirinhas, a nossa é uma cidade sofrida desde os tempos de Caramuru e basta ver que nem bem fomos descobertos e já estávamos sendo usados como local de desova dos marginais portugueses; aqueles que ninguém queria em Lisboa, como os tarados, os ladrões, quem deu pedrada em Jesus, cuspiu na cruz, agiotas, pré-mensaleiros, quem falou mal de Dom Manuel, comeu a cunhada, mijou na porta do palácio ou roubou no peso. Um horror!
Houve um tempo em que aqueles que queriam ver o réveillon luminoso tinham de viajar para o Rio de Janeiro. Salvador, de repente, no início deste século, decidiu fazer um evento de magnitude e a festa passou a ser tão boa que a TV Globo – à época eu chefiava a reportagem da TV Bahia – decidiu que era bom demais jogar no ar na virada de ano nossa festa. Somente o Rio de Janeiro conseguia fazer uma queima de fogos tão boa – e teve vez que fizemos melhor, com mais duração do foguetório – e apresentar atrações de qualidade.
Passaram pela tela da Globo via TV Bahia (e aí estão as competentes jornalistas Núbia Tawil e Renata Purri que coordenaram as transmissões e que não me permitem mentir) de Margareth Menezes a Daniela Mercury, Carlinhos Brown e o escambau. E, pasme minha linda senhora, a medição feita pela emissora mostrava que os índices de audiência eram maiores quando a festa baiana estava no ar.
Este ano, como dantes, não haverá festa. Apenas um armengue arranjado por Carlinhos Brown (que até deve ser louvado pela idéia) de fazer um réveillon diferente, com o trio andando em círculos entre o Farol da Barra e Ondina. Podia até ir a Garibaldi e voltar pela Avenida Centenário. Ele chama de “Rèveillon Andante”.
Eu batizo de “Rèveillon Pipoca” onde ao invés de assistir as pessoas seguirão o cortejo. Claro que será uma festa para a garotada, nunca para a família, como seria a queima de fogos, por que atrás do trio andante só não vai quem já morreu, quem tem prótese na bunda, osteoporose, espinhela caída e gota. Quem quiser fogos que compre lá em Florentino Fogueteiro.
Se bem que o prefeito podia mandar buscar uns traques ou buscapés e mandar soltar no Farol da Barra. Podia ser até Adrianino ou rodinha. O soteropolitano da Barra, Itapuã, Ribeira, Ilha de Maré e Boa Viagem está tão carente de queima de fogos que seria capaz de aplaudir o estalo. Estamos vivendo uma situação tão surrealista em Salvador que qualquer pum é motivo de festejo. Se o garçom deixa cair o prato todo mundo sai dançando achando que é tradição grega.
O prefeito eleito diz que vai começar a reestruturação da cidade pela Barra. Já tivemos barracas, que foram expulsas e elas voltarão. O projeto do calçadão da Barra volta à baila – isso até que o Ibama ponha o dedo e mostre gosto ruim (lembra do livro “O Menino do Dedo Verde” que em tudo que tocava aflorava? O Ibama tem o dedo preto.
Tudo que toca vira carvão. O Iphan também). O Porto da Barra aos sábados, domingos e feriados bem que poderia ter o trânsito suspenso. Viraria uma área livre. Já é mesmo uma feira livre. Bagunçada, é claro. Ô Bahia dos meus anjóis!
 

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